PAÍS DO REMÉDIO CARO
Doente brasileiro paga mais
Custa mais viver na Europa do que no Brasil, certo? Depende. Se você for um doente brasileiro, são grandes as chances de que seu tratamento saia bem mais caro do que o de um europeu, usando os mesmos medicamentos. Quem circula por Lisboa e precisa comprar cloridato de tansulosina, remédio para tratamento de próstata e comercializado com o nome de Secotex, pode adquirir o medicamento por 10,78 euros (quase R$ 26).
No Brasil, o mesmo remédio não sai por menos de R$ 189,86. Sete vezes mais caro do que em Portugal. Confira na reportagem o preço da tansulosina em oito capitais do planeta e veja que o brasileiro paga muito mais.O cloridato de tansulosina, remédio para tratamento de próstata e comercializado com o nome de Secotex, não é um caso isolado.
Situação semelhante ocorre mesmo com medicamentos mais populares como a sinvastatina, usada para baixar o nível de colesterol, cuja caixa com 30 comprimidos de 40 miligramas custa até R$ 70. Em Rivera, cidade uruguaia separada por uma rua de Santana do Livramento, o mesmo produto custa o equivalente a R$ 25, conforme constata a Sandra Corrêa, 59 anos, que costuma viajar ao Uruguai apenas para se abastecer de remédios – e economizar, claro.
A levotiroxina sódica, destinada ao tratamento de hipotireoidismo, pode ser adquirida pelo equivalente a R$ 8,70 na França, mas nas farmácias brasileiras as mesmas 30 cápsulas saem por cerca de R$ 15 – quase o dobro. As razões para isso envolvem uma fórmula complexa. Confira três motivos:
1. Impostos abusivos: um dos principais componentes do amargo composto financeiro dos remédios é a pesada carga tributária que incide sobre medicamentos. Levantamento feito em 23 países mostra que o Brasil é o que injeta mais imposto no custo dos remédios: o equivalente a um terço do preço cobrado do consumidor, devido à sobreposição de alíquotas como o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o PIS/Cofins. Isso é mais de cinco vezes acima da média mundial.
2. Alta margem de lucro: o valor dos produtos vendidos no Brasil é limitado por uma lista de preços máximos ao consumidor definida pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed). Essa listagem tolera um acréscimo de até 38% entre o preço de fábrica e o de varejo – margem destinada ao lucro das farmácias.
No Uruguai, por exemplo, esse índice fica em torno de 7%. Além disso, conforme o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum), em vez de forçar uma redução nos preços, o tabelamento acaba mantendo os lucros da indústria farmacêutica em patamar elevado.
3. Preço ditado pelo fabricante: a maior parte dos medicamentos entrou no mercado brasileiro antes de 2004, quando o controle de preços por parte do governo era menos rígido. Isso faz com que os laboratórios possam manter os valores altos daquela época. Essa herança infla o custo principalmente de remédios cujas fórmulas ainda sejam protegidas por patentes, livres da concorrência dos genéricos. A partir de 2004, medicamentos novos devem limitar seu preço ao valor mais baixo praticado em uma lista comparativa de nove países – mas os antigos não precisam seguir essa regra.
PAÍS DO REMÉDIO CARO
Os intermediários
A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa do Brasil (Interfarma) argumenta que o preço médio de todos os medicamentos vendidos em farmácia, incluindo os genéricos, é de R$ 17,50 – o que seria mais barato do que em outros países. Não é bem assim, mostra um estudo de 2006. Ele comparou o preço dos 15 medicamentos mais vendidos no mercado brasileiro com os de outros 11 países.
Cinco tinham preços de varejo mais baratos que o Brasil – embora o custo de produção nacional, na fábrica, seja o menor da lista. A contradição ocorre porque, da fabricação ao consumo, muitos intermediários lucram, aí incluídos governo e distribuidores. Quem paga a conta são os pacientes que vivem em um País em desenvolvimento, mas são submetidos a custos de tratamento muitas vezes superiores aos de Primeiro Mundo
PAÍS DO REMÉDIO CARO
Tributação elevada e excesso de cobrança
No Brasil, paga-se mais imposto ao comprar um remédio necessário para salvar uma vida do que ao comprar papel higiênico, um ingresso para o cinema ou, por ironia, um medicamento para uso veterinário.
Apenas os tributos que incidem sobre a fabricação dos produtos destinados a tratar da saúde da população somaram, no ano passado, mais de R$ 3,3 bilhões para os cofres federais – o equivalente a R$ 17 per capita.
Embora não justifique toda a diferença de preço encontrada em alguns casos, a pesada tributação é um dos obstáculos a uma rápida queda no valor das substâncias que garantem a saúde de milhões de brasileiros. Embora o direito à saúde seja garantido pela Constituição, na prática, o governo dificulta o acesso aos medicamentos ao taxar esse tipo de produto com alíquotas superiores à de itens como embarcações e aeronaves (veja comparação na tabela ao lado).
“Existe um abismo entre o que deveria ser o preço dos remédios e o que é cobrado dos consumidores”, afirma o advogado e professor de Direito Tributário de São Paulo, Argos Gregório, especialista no mercado farmacêutico. Ele aponta ainda que a falta de uma política uniforme destinada a baratear os remédios provoca situações inusitadas.
“Um sal utilizado para tratamento oncológico, por exemplo, é isento de imposto. Mas a solução necessária para ministrá-lo ao paciente paga ICMS. Aí não adianta”, comenta. Argos diz que os impostos são apenas parte do problema e que preços máximos ao consumidor estabelecidos pelo governo federal são abusivos. Incidência de taxas e altas cobranças deixam remédios mais caros no País
Colunista Cacau Menezes
Dias na UTI
Uma médica de Itajaí, que já atendeu por um plano de saúde, fez uma estatística e comprovou: os pacientes que pagam do próprio bolso a permanência em UTIs ficam em tratamento nas unidades por tempo indeterminado, até que haja a cura ou irreversibilidade da doença. Já os que se utilizam do plano ficam, em média, somente 15 dias. Depois são mandados para os quartos, mesmo que o quadro ainda seja grave. Neste caso, o número de óbitos é maior. Ela tem os dados como gravíssimos e considera necessária uma investigação urgente pela Associação Catarinense de Medicina.
Saúde
SAÚDE
Coração de mulher
Formado em Medicina em 1974 e integrante do corpo clínico do Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da Fmusp, em São Paulo, o cardiologista Roque Savioli se especializou no coração feminino e acaba de publicar Um Coração de Mulher. No livro, aborda, além do coração, as questões psíquicas e espirituais que afetam as cardiopatias. A seguir, trechos da entrevista que Roque concedeu ao Donna.
Por que as mulheres morrem mais do coração?
A partir da menopausa, a mulher perde a proteção dos hormônios femininos, grandes aliados do coração. Somam-se a isso os problemas do mundo moderno, como a obesidade (de 40% a 50% das pessoas estão acima do peso) e a hipertensão, uma assassina silenciosa. Muitas vezes o único sintoma é a morte ou o infarto. Os brasileiros são mal educados com relação à hipertensão. Muita gente só toma remédio quando a pressão sobe. Há ainda o estresse e o sedentarismo. A junção destes fatores faz com que a mulher corra mais riscos de sofrer um AVC ou um infarto.
O coração feminino é mais frágil?
As coronárias (veias do coração) das mulheres são menores do que as dos homens, portanto, ficam mais rapidamente obstruídas. Acho que Deus sabia disso quando criou os hormônios femininos. Até a menopausa o coração feminino é mais forte do que o masculino. Depois, fica mais suscetível às cardiopatias.
O senhor escreve que somos feitos de três dimensões – física, espiritual e psíquica. Qual o peso de cada uma para a saúde do coração?
Saudável é aquele que tem equilíbrio entre corpo, mente e espírito. Não há como medir o peso da espiritualidade na saúde de alguém, só sei que não podemos ficar sem ela. Sobre as doenças psíquicas, cito a depressão. Estudos comprovam que 20% das infartadas apresentavam sintomas de depressão. Há indicações de que a depressão, com a baixa da serotonina, aumenta a atividade das plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue, facilitando a trombose. A depressão tomou o lugar da hipertensão na lista de componentes de risco para o coração, atrás do colesterol e do cigarro.
Como curar o espírito?
Desenvolvendo a espiri-tualidade. Cada um tem que encontrar a sua forma de conversar com Deus e buscar o sagrado. Pode ser uma religião ou até a natureza.
O senhor cita os sete pecados capitais como sendo as doenças espirituais. E diz que a soberba é a mãe de todas elas? Por quê?
Cuidar da mente e do espírito não significa negar o remédio. A soberba, muitas vezes, faz com que as pessoas não acreditem no tratamento proposto pelo médico. Ao final de cada consulta, pergunto ao paciente se acredita em Deus ou se tem fé. É nessa hora que ele se abre. A partir daí, consigo conhecer, de fato, o paciente e praticar a medicina como arte da cura.
As mulheres têm fama de serem mais emotivas. Isso é bom para o coração?
A paixão é fantástica e só faz bem ao coração. O que não pode é desandar para ansiedade. Daí, faz mal.
CRISTINA VIEIRA
MOACIR PEREIRA
Divino centenário
A semana que se encerra foi marcada por uma data histórica que continua a merecer o reconhecimento e os aplausos de toda a sociedade catarinense. A Sociedade Divina Providência completou cem anos de excepcionais serviços prestados em duas áreas fundamentais para a cidadania: educação e saúde.
Suas atividades e a dedicação das irmãs, dos voluntários e dos colaboradores que integraram e permanecem na instituição ganharam destaque durante todo o século passado e permanecem em evidencia até hoje.
As missionarias da congregação atuavam no Estado já no século 19, instalando orfanatos, asilo de idosos, creches, escolas de qualidade. O ano de 1911 marca a fundação de uma organização para coordenar as atividades, dando-lhe uniformidade estadual. Era criada a Sociedade Divina Providência, com a marca da filantropia.
Os quatro hospitais são referência máxima na prestação de assistência médica. O Hospital Santa Isabel, de Blumenau, é líder nacional em número e eficiência em transplantes de órgãos humanos, além de manter padrão de qualidade no atendimento da população do Vale do Itajaí e do Estado. O Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão, é o maior de Santa Catarina, com mais de 300 leitos, e uma das mais queridas e prestigiadas instituições do Sul. Tem as impressões digitais da irmã Enedina Sacheti, que o dirigiu por 22 anos com trabalho diuturno, zelo e competência profissional. Irmã Enedina é hoje a presidente da Sociedade Divina Providência. O Hospital São José, de Jaraguá do Sul, é outro padrão no modelo médico-hospitalar, o que também ocorre com o Hospital Chiquinha Galotti, de Tijucas.
PRIORIDADES
Os quatro hospitais possuem 800 leitos. Contam com 1.740 médicos no corpo clínico. E, o mais importante, atendimento majoritário e com prioridade para pacientes do SUS. No sistema ambulatorial, das 416.674 internações, 307.164 foram grátis, pelo sistema único, e 109.510 não SUS.
Dos 232.109 pacientes internados, 163.928 tiveram assistência gratuita pelo SUS e 68.181 por outros regimes.
Com o sistema educacional, repete-se quadro semelhante. A Divina Providência fundou e administra o Colégio Sagrada Família, de Blumenau, responsável pela formação de dezenas de gerações. Por ali passou a elite intelectual, empresarial e política do Vale do Itajaí. Com mais de cem anos, conta com 1,3 mil alunos.
Outro também centenário é o Colégio Santos Anjos, de Joinville, 1.350 estudantes, responsável por milhares de profissionais e cidadãos catarinenses. No Sul, dois destaques: o Colégio São José, 1,2 mil alunos, considerado um patrimônio da comunidade de Tubarão, criado em 1895; e o Colégio Stela Maris, de Laguna, que comemora também cem anos em 2011, obra pioneira de irmã Benvenutta, homenageada com nome de rua na Capital.
O complexo educativo atende hoje 4.216 estudantes, sendo que a maioria com bolsas de estudos parciais ou gratuidade total.
Impossível deixar de destacar, ainda, a importância histórica do Colégio Coração de Jesus, de Florianópolis, um marco na educação desde 1898. Foi dirigido pela Divina Providência até 1996, quando passou para o comando dos franciscanos, com a denominação de Bom Jesus. Durante décadas, o Coração de Jesus ofereceu ensino de qualidade, admitindo apenas mulheres, enquanto o Colégio Catarinense, dos jesuítas, matriculava somente homens. Ambos responsáveis pela formação qualificada de muitas gerações de catarinenses.
Princípios éticos, valores humanos e boa educação, os marcos dos cem anos da Sociedade Divina Providência.