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Viver Bem 

CÂNCER
Raro e AGRESSIVO

Tumores no pâncreas como os que provocaram a morte de Steve Jobs e de Ralph Steinman, Nobel de Medicina de 2011, costumam ser diagnosticados já em estágio avançado. Especialistas admitem que a descoberta de novas drogas e de terapias para esse tipo da doença tem sido lenta

O câncer de pâncreas, como o que levou à morte o cofundador da Apple Steve Jobs, 56 anos, no dia 5, é um dos tipos mais difíceis de diagnosticar e mais agressivamente malignos. Especialistas informam que um dos principais problemas é a pequena evolução da ciência na busca de novos medicamentos e terapias, na comparação com outros tumores do tubo digestivo. “Os tumores de pâncreas são os menos sensíveis a tratamentos e mesmo a cirurgia com intuito curativo não funciona para mais da metade das pessoas, porque, em geral, um terço dos casos já tem metástase”, observa Daniel Herchenhorn, chefe da área de oncologia clínica do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

O tratamento cirúrgico é dificultado pela própria localização da glândula: atrás do estômago e abraçada pelo duodeno, próxima a uma sensível rede de artérias e veias que irrigam o fígado (veja infografia). “A área dos tumores de pâncreas foi a que menos avançou, em termos de pesquisa para drogas e terapias, e, mesmo as que surgiram nos últimos anos, não funcionaram. São situações tão delicadas que até mesmo os fatores de risco são encobertos pela arquitetura biológica da doença. Não se pode dizer com certeza que esses fatores são causados por estresse, por uma má dieta ou mesmo por questões hereditárias”, explica o oncologista Igor Morbeck.

Ao analisar o caso do dono da Apple, o médico explica que o câncer de pâncreas contra o qual Jobs lutava era de origem endócrina, mais indolente – ou seja, de comportamento mais lento, um pouco menos agressivo. “Esse tipo dá uma taxa de sobrevida maior (de 14 a 18 meses) do que o de origem exógina (de seis a oito meses). Como certamente ele teve acesso a bons tratamentos, viveu quase oito anos (desde o diagnóstico inicial).”

Para o oncologista Alexandre Palladino, da Rede D’Or, o que indica ter sido um carcinoma neuroendócrino que abateu Jobs é o fato de ele ter feito um transplante de fígado. “Em geral, não há indicações de transplante quando se trata de outros tipos mais letais de câncer de pâncreas, como os adenocarcinomas.” De acordo com o próprio Jobs, em um discurso para estudantes da Universidade de Stanford, ele achava que sofria da versão mais letal da doença, mas uma biópsia revelou que se tratava de um carcinoma neuroendócrino. “O depoimento dele é mais uma prova de que ele tinha um tumor endócrino e não adenocarcinoma”, acrescentou.

Medicamento dobra a média de tempo sem crescimento do tumor

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em agosto, sob o registro número 100681065, o uso do medicamento Afinitor™ (everolimo) para o tratamento de pacientes com tumor neuroendócrino avançado de pâncreas. É uma das poucas boas notícias nessa área. A nova indicação teve como base os dados de um estudo fase 3 que envolveu 410 pacientes, publicado no “The New England Journal of Medicine”, uma das publicações científicas mais respeitadas do mundo. Segundo o artigo, a droga mais do que dobrou a média de tempo sem crescimento do tumor, que passou de 4,6 meses para 11 meses, e reduziu em 65% o risco de progressão da doença. Ela atua na inibição da proteína intracelular mTOR, que age na proliferação das células cancerígenas. Além da indicação para TNE pancreático, Afinitor™ é aprovado no Brasil para o tratamento do câncer renal em estágio avançado e de um tipo raro de tumor cerebral em crianças.

Mistério

Entre os tumores de origem exócrina, aqueles que se alimentam de enzimas gástricas, portanto mais agressivos, encontram-se os adenocarcinomas, considerados os grandes vilões da patologia, ao atacarem a glândula produtora de insulina. “Eles crescem sem sintomas, são extremamente agressivos e é difícil fazer um diagnóstico precoce”, declara Igor Morbeck. Uma das explicações sobre os poderes destruidores dos adenocarcinomas é de natureza celular.

Para Daniel Herchenhorn, o fato de o órgão ficar localizado em uma área complexa, manipular vias biliares e estar cercado por uma teia de artérias e veias mesentéricas (que drenam o sangue vindo do intestino) permitem o fluxo de um material biológico sensível à produção de células cancerosas. “Infelizmente, por enquanto, não há nada de revolucionário que altere o cenário sombrio desse tipo de câncer. Não se conseguiu, dentro desse jogo celular tão complexo, criar-se uma droga alvo ou encontrar-se os vários alvos celulares da neoplasia”, analisa o médico do Inca.

Foi um desses tumores que levou à morte o cientista canadense Ralph Steinman, que descobriu as células dendríticas e desvendou o seu papel no sistema imunológico – achado que lhe garantiu o Prêmio Nobel de Medicina 2011. Ao morrer apenas três dias antes de ser anunciado como um dos três vencedores do prêmio (ao lado do norte-americano Bruce Beutler e do luxemburguês Jules A. Hoffman), Steinman estava há quatro anos tratando-se também com uma vacina feita com as células dendríticas. Embora o tumor no pâncreas tenha vencido a luta, os médicos garantem que o tratamento experimental lhe garantiu uma sobrevida maior do que a imaginada. “Ele teve uma sobrevida de mais quatro anos, quando a média é de, no máximo, um”, compara Palladino. Em setembro de 2009, esse mesmo tipo de câncer provocou a morte do ator Patrick Swayze (astro de filmes como “Ritmo Quente”, de 1987, e “Ghost”, 1990).

Steinman fez um tratamento-padrão, à base de quimioterapia, combinado com a droga em teste criada por ele próprio. Ao seu redor, uma rede de 20 colegas especialistas em neoplasias, de várias universidades. O tipo de câncer que matou Steinman é responsável por mais de 90% dos casos.

Vítimas célebres

Detalhes do estado de saúde de Steve Jobs sempre foram revestidos de mistério. Em fevereiro, porém, o mago da tecnologia foi fotografado pelo jornal americano “National Enquirer” na mesma clínica onde o ator Patrick Swayze, morto em setembro de 2009, também recebeu tratamento para câncer de pâncreas. Swayze tentou de tudo para enfrentar a doença, mas o tumor o matou um ano e seis meses depois do diagnóstico. A progressão da doença foi acelerada, mas muito menos veloz que a prevista pelos médicos, que haviam prognosticado apenas semanas de vida. Na lista de personalidades que morreram vítimas de cânceres de pâncreas estão Luciano Pavarotti, morto em 2008, e o ator brasileiro Raul Cortez, em 2006.


CARLOS TAVARES | CORREIO BRAZILIENSE

 

 

NOBEL DE MEDICINA
Em busca de mais PROTEÇÃO
“Ninguém pode prever um Prêmio Nobel. Eu me senti muito, muito honrado.”
Um dos vencedores do Nobel de Medicina 2011, norte-americano conta como planeja usar o prêmio para fazer sua pesquisa sobre a imunidade humana avançar ao ponto de obter novos tratamentos para doenças inflamatórias, como o lúpus

As aspirações de um Prêmio Nobel de Medicina vão muitas vezes além do imaginável. O norte-americano Bruce Beutler, 54 anos, espera desvendar o sistema imunológico, “peça por peça”. Pouco mais de 24 horas após saber que havia sido contemplado pela Academia Real das Ciências da Suécia, ele retornou a ligação da reportagem e falou com exclusividade sobre sua descoberta dos receptores de lipopolissacarídeos (LPS). Essas moléculas funcionam como sensores da imunidade inata: ativam o sistema de defesa ante a presença de micro-organismos invasores.

Em 1998, Beutler e seus colegas descobriram que ratos resistentes ao lipopolissacarídeo – um produto bacteriano – apresentavam uma mutação em um gene quase idêntico ao gene Toll, presente nas moscas-da-fruta (drosófilas). Esses receptores do tipo Toll (TLR) se colam aos lipopolissacarídeos e disparam sinais que podem causar inflamação ou mesmo choque séptico. A inflamação, por sua vez, é uma tentativa do corpo de expulsar micro-organismos invasores.

Para chegar aos receptores LPS dos mamíferos, Beutler demorou cinco anos e enfrentou uma série de dificuldades. Ele não esconde o potencial da pesquisa e acredita que ela pode levar ao tratamento de doenças inflamatórias, incluindo o lúpus. Como o mais novo Nobel de Medicina – honraria dividida com o canadense Ralph Steinman (morto no dia 30 de setembro) e com o luxemburguês Jules A. Hoffman –, Beutler espera avançar seus estudos. O objetivo é chegar até perto do “ponto de saturação” da genética como forma de descobrir o funcionamento integral da “máquina” de imunidade humana.

“Ninguém pode prever um Prêmio Nobel. Eu me senti muito, muito honrado.”

O senhor imaginava que um dia fosse contemplado com a maior honraria da ciência no mundo?

Bruce Beutler – Da forma como temos trabalhado pelos últimos 28 anos, o método que utilizamos foi bem progressivo. Vi várias teorias sobre a imunidade inata que se mostraram falhas. Eu realmente não esperava o Nobel de Medicina, pois ganhei outros prêmios que outras pessoas consideravam previsíveis. Ninguém pode prever um Prêmio Nobel. Eu me senti muito, muito honrado.

Quando percebeu que sua pesquisa estava no caminho certo?

Bruce Beutler – É uma pergunta interessante. Nesse caso, foi algo que aconteceu de uma vez, em 1998. Eu trabalhava havia cinco anos para encontrar, nos mamíferos, os receptores do tipo Toll (proteínas que desempenham um papel-chave no sistema imunológico) e os receptores LPS. Foi uma busca difícil, com uma descoberta falsa após a outra. Em um particular fim de tarde no verão de 1998, ao vasculhar uma região na qual esses receptores deveriam estar, nós vimos o gene e rapidamente percebemos tratar-se daquele que estávamos buscando. Foi um momento emocionante.

O senhor desvendou a linha de frente da defesa do organismo. Quais foram os sensores da imunidade inata descobertos por sua equipe?

Bruce Beutler – Nós os chamamos de receptores do tipo Toll. Eles são similares aos receptores Toll das drosófilas, as moscas-da-fruta. Eles são importantes porque, coletivamente, detectam quase todo tipo de micróbios com os quais você pode entrar em contato. Se você não possui receptores do tipo Toll, você tem um alto grau de comprometimento imunológico. Tais pessoas e animais geralmente não sobrevivem por muito tempo sem antibióticos. Eles são definitivamente importantes para a sobrevivência.

Como o senhor percebeu que os mamíferos e as moscas-da-fruta usam moléculas semelhantes para ativar a imunidade inata?

Bruce Beutler – Essa é a diferença entre o trabalho do doutor (Jules) Hoffmann e o nosso. Ele trabalhou com as moscas e descobriu que os insetos mutantes – com mudanças no gene Toll – eram um problema no manejo de uma infecção por meio de fungo. Nós, por outro lado, trabalhamos com mamíferos. Procuramos receptores LPS. Sabíamos que esses receptores eram importantes para manejar infecções por bactérias gram-negativas. Quando usamos moléculas similares aos receptores do tipo Toll, vimos que sistemas paralelos vinham sendo preservados há muito tempo, durante a evolução.

Qual é o potencial dessa descoberta para o tratamento de doenças complexas?

Bruce Beutler – Eu creio que ele seja muito alto. Ainda é muito cedo, mas esses receptores acionam fortes informações, capazes de conter infecções. Você tem que pensar que muitas doenças inflamatórias dependem dos mesmos caminhos. Então bloqueá-los pode ser algo bem útil no tratamento de doenças como o lúpus.

Que transformações o Nobel de Medicina deve produzir em sua rotina?

Bruce Beutler – Oh, tudo já está mudando muito! Eu nunca recebi 1,5 mil e-mails num único dia. Tenho o meu telefone tocando de forma contínua. Eu espero que, de alguma forma, possa usar o prêmio para aprimorar minha própria pesquisa. Que essa seja uma oportunidade de contato com os melhores pesquisadores.

E quais seus planos profissionais? Os próximos passos de sua pesquisa…

Bruce Beutler – Nós usamos a genética como uma ferramenta para esmiuçar o sistema imunológico, parte por parte. Precisamos saber quais genes são necessários para uma resposta imune mais robusta. Essa é realmente a próxima meta, continuarmos com a genética até quase o ponto de saturação. Queremos saber todas as partes da “máquina”. E, a partir desse ponto, entenderemos como realmente a máquina funciona.


RODRIGO CRAVEIRO | CORREIO BRAZILIENSE

 

 

 

 

 

Visor- Rafael Martini


VISITA DO BEM
Cerca de cem crianças internadas no Hospital Infantil Joana de Gusmão recebem amanhã a visita de um grupo de pequenas bailarinas, palhaças e recreacionistas.

As apresentações fazem parte do lançamento da 10ª edição da mostra de dança A Noite é uma Criança, que acontece entre os dias 20 e 23, em Floripa, com mais de 190 coreografias.

 

 

 


Há dois meses sem médico para laudos

 Desde quando o médico radiologista que fornece laudos do HTR pediu exoneração do cargo, no final de agosto, todos os exames do gênero têm sido encaminhados para um profissional da área em Florianópolis, para que pacientes não fiquem sem receber seu laudos.

 De acordo com o gerente de administração em exercício do HTR, Rufius Schmitt, o médico afastado era o único profissional da área a atuar no hospital. “Temos tido dificuldade em encontrar outra pessoa para substitui-lo. Quando ele pediu exoneração, imediatamente o estado contratou uma médica na capital para fornecer os laudos. Ela fornece os diagnósticos de aproximadamente 25 pacientes por mês e o prazo de devolução é de até 30 dias”, explica.
 

Rufius destaca que, no entanto, esta profissional não fornece laudos como os de exames de cabeça e de pescoço, por exemplo, por não se enquadrarem em sua especialidade. “Por isso, nós já estamos em um processo de avaliação para contratar um profissional ou uma clínica da região que emita todos os tipos de laudos, suprindo esta deficiência que temos em casos pontuais”.

 Com isso, pacientes que realizam exames de cabeça e pescoço aguardam a emissão do laudo, que não têm data definida para ser entregues, uma vez que ainda não há profissional para preencher esta lacuna. O gerente de administração acredita que este problema deve ser solucionado até o final deste mês.

  

Diagnósticos mais precisos com ajuda da alta tecnologia 

 
Pacientes que realizam exames de imagem, agora contam com um moderno procedimento tecnológico, que permite aos médicos acessarem tais exames via internet, agilizando o diagnóstico e o tratamento. A telemedicina, que já é usada em exames do gênero no Hospital Tereza Ramos (HTR), alia as modernas tecnologias da informação e telecomunicações para o fornecimento de informação e atenção médica aos pacientes.

 
Embora este serviço ainda não seja muito conhecido entre os pacientes, a telemedicina é um processo tecnológico novo, que visa facilitar o contato do médico com os exames de determinados pacientes. “Através dela, qualquer médico pode acessar um exame através da internet, mediante o uso de uma senha oferecida pelo hospital”, explica o engenheiro clínico do HTR, Juliano Leite.

 Através desse sistema, desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), exames de imagem feitos no HTR, como Raios X, mamografia, ressonância magnética, ultrassonografia, endoscopia e tomografia, são digitalizados e ficam armazenados no site da Telemedicina, onde podem ser acessados pelo médico do paciente.

 Segundo Juliano, para que o médico tenha acesso aos exames, o hospital gera um código automático e fornece ao paciente, que deve repassar ao seu médico. Só então ele poderá acessar o exame online, de qualquer parte do país. “Isso agiliza bastante o diagnóstico e o tratamento, porque o médico pode, inclusive, ter acesso ao exame antes da emissão do laudo, que em alguns casos demora para sair”, comenta.
 

A Telemedicina já é utilizada há aproximadamente seis meses no HTR, para o fornecimento de exames de ressonância e há pouco mais de 15 dias, também passou a fornecer dados sobre exames de Raios X. Além da agilidade para o médico, a telemedicina é uma importante aliada na redução de gastos internos e danos ambientais. “Com este serviço, é possível reduzir a quantidade de filmes usados para repassar o exame aos pacientes”, comenta.

 Para poder oferecer este serviço, o hospital adquiriu um equipamento chamado Computadorizied Radiographic (CR), que transforma os exames em imagens digitais para disponibilizá-los na internet. O investimento, apenas no equipamento, foi de R$ 88 mil. O investimento total, com a aquisição de computadores, cabeamento, internet, mobiliário, adequação de logística de funcionamento e de estrutura física, foi de aproximadamente R$ 350 mil.