2 2 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA Prefeito CASSIO TANIGUCHI Secretaria Municipal da Saúde Secretário MICHELE CAPUTO NETO Superintendente IVANA BUSATO Curitiba, abril de 2002 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Agradecimentos A todos os servidores da Prefeitura Municipal de Curitiba, em especial aos profissionais que atuam nas Unidades de Saúde, que têm participado da implementação deste Programa; Á Sociedade Paranaense de Psiquiatria, ao Conselho Regional de Psicologia do Paraná e a Sociedade Paranaense de Psiquiatria Clínica, pela colaboração na atualização do conteúdo científico. À Comissão de Saúde Mental do Conselho Municipal de Saúde, pelo apoio; Ao Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro, pelo material referente à contenção no leito; Ao artista pástico Armando Merege, pelo auxílio nas ilustrações contidas no presente trabalho; À Secretaria Municipal de Comunicação Social, em especial a Sonia M. Oleskovicz, Marcelo Victorino Nunes e Antônio Carlos Patitucci, responsáveis pela editoração e arte final deste Protocolo. 3 4 4 5 APRESENTAÇÃO................................................................................................. 7 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 I. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA .................................................................. 11 Sumário 5 APRESENTAÇÃO................................................................................................. 7 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 9 I. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA .................................................................. 11 Sumário A. Conceitos ................................................................................................ 11 B.Objetivos................................................................................................. 14 II. OPERACIONALIZAÇÃO ............................................................................. 17 A. População alvo ........................................................................................ 17 B. Vinculação do usuário ao programa ......................................................... 17 C. Fluxo ....................................................................................................... 18 III. PREVENÇÃO .............................................................................................. 19 IV. PONTO DE ATENÇÃO UNIDADE DE SAÚDE ............................................. 23 A. Acolhimento ........................................................................................... 23 B. Avaliação ................................................................................................ 24 C. Evento agudo .......................................................................................... 33 Considerações gerais ............................................................................... 33 Situações específicas ............................................................................... 34 Agitação .................................................................................................. 34 Suicídio................................................................................................... 41 D.Família .................................................................................................... 42 E. Cuidado contínuo ................................................................................... 42 4.1. DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS ........................................................... 43 A. Atividades programadas ................................................................. 43 B. Critérios para tratamento do alcoolista na US ................................ 49 C. Desintoxicação do alcoolista na unidade de saúde ........................ 50 D. Prevenção de recaídas ................................................................... 56 E. Orientação a familiares .................................................................. 58 F. Evento agudo................................................................................. 60 G. Encaminhamentos ......................................................................... 61 H. Interligação dos pontos de atenção ................................................ 61 4.2. DEPRESSÃO..................................................................................... 63 A. Atividades programadas ................................................................. 64 B. Critérios para tratamento na US ..................................................... 65 C. Tratamento da depressão na US..................................................... 65 D. Evento agudo................................................................................. 67 E. Encaminhamentos ......................................................................... 68 6 6 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 4.3. PSICOSES ........................................................................................ 69 A. Critérios para acompanhamento na US.......................................... 69 B. Atividades programadas ................................................................. 70 C. Evento agudo................................................................................. 70 D. Encaminhamentos ......................................................................... 71 4.4. TRANSTORNOS MENTAIS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA ......... 73 A. Critérios para acompanhamento na US.......................................... 73 B. Atividades programadas ................................................................. 73 Condutas gerais ............................................................................. 77 Condutas específicas...................................................................... 78 Dificuldades escolares.................................................................... 78 Distúrbios de conduta ................................................................... 78 Depressão ..................................................................................... 79 Dependências químicas ................................................................. 80 C. Evento agudo................................................................................. 80 V. DEMAIS PONTOS DE ATENÇÃO ................................................................ 83 5.1. DOMICÍLIO ......................................................................................... 83 A. Critérios para tratamento no domicílio ................................................ 83 B. Atendimento programado ................................................................... 83 C. A família ............................................................................................. 84 D. Evento agudo no domicílio ................................................................. 85 E. Visitas domiciliares ............................................................................. 85 F. Interligação dos pontos de atenção ..................................................... 85 5.2. PRONTO ATENDIMENTO ................................................................... 86 A. Critérios para atendimento ................................................................. 86 B. Família................................................................................................ 87 C. Interligação dos pontos de atenção ..................................................... 87 5.3. AMBULATÓRIO ................................................................................... 88 A. Ambulatório propriamente dito .......................................................... 88 B. Oficina terapêutica ............................................................................. 90 5.4. CAPS .................................................................................................... 92 5.5. HOSPITAL-DIA ..................................................................................... 94 5.6. HOSPITAL INTEGRAL .......................................................................... 96 5.7. RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA ................................................................. 98 5.8. HOSPITAL CLÍNICO............................................................................. 99 VI. DIREITOS DO USUÁRIO DE SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL .................. 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 109 7 Apresentação 7 Apresentação O presente conjunto de recursos aqui denominado “Protocolo Integrado”, é um trabalho coletivo, realizado por mais de 100 pessoas. Dirige-se aos profissionais de saúde que vêm buscando viabilizar cada vez mais o SUS curitibano na missão coletiva de prover e qualificar o acesso ao cuidado humanizado, comprometido e resolutivo a todos os cidadãos que vivem na metrópole. Consiste numa ampliação de possibilidades para os trabalhadores da saúde agirem em favor dos usuários, de acordo com as evidências mais atualizadas sobre os múltiplos modos de fazer que hoje compõem o bom cuidado em saúde mental. Um protocolo como este oferece acesso aos profissionais de saúde, às informações que podem esclarecer e aumentar a ocorrência das boas práticas. E nada mais é do que o respeito a um dos direitos dos próprios profissionais, que é o direito ao acesso à informação sobre os tratamentos que eles buscam oferecer nas mais variadas situações que enfrentam no dia a dia do seu trabalho. Ao direito dos profissionais de terem acesso às informações de que necessitam corresponde, em igual densidade, o direito dos pacientes ao melhor cuidado. Esse cuidado não depende tão somente da existência de um conjunto coletivizado e disponibilizado para todos os profissionais. Para que o cuidado possa se dar de forma qualificada, o arsenal de informações presente no protocolo, deve se aliar a um arsenal de atitudes profissionais que não percam de vista que um trabalho cuidadoso se faz dentro de um campo de respeito recíproco. O profissional, no processo de qualificação ininterrupto que experimenta, incorpora uma atitude de respeito na sua relação com o paciente e esse, reciprocamente, respeita o que for combinado dentro daquilo que convencionamos chamar “tratamento”. Esse processo de tratar-se mutuamente com respeito desempenha, no tempo em que o tratamento acontece, uma função de escola. Mas não uma escola concreta, com prédio, salas de aula, professor, etc., e sim uma escola que parte da relação do cuidado como fonte do aprendizado. Ela oportuniza o aprendizado de se trabalhar com informações confidenciais, com contratos, com compromissos, com responsabilidades, com solidariedade, com limites, etc. E, quanto melhor opera o respeito, mais difunde aprendizagem das atitudes respeitosas. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Assim, a boa utilização do presente protocolo pode ser aproveitada enquanto um conjunto de oportunidades que sua chegada pode propiciar, todas elas presentes no esforço para otimizar e qualificar cada encontro que acontece entre quem cuida e quem busca ser cuidado. 8 WILLIANS VALENTINI Psiquiatra, superintendente do Instituto “Dr. Cândido Ferreira”, de Campinas - SP, consultor da PMC e da OMS para a área de Saúde Mental 9 Introdução 9 Introdução Esta é uma instituição que permanentemente se auto-analisa e se renova. Com este espírito trazemos a público a segunda edição do protocolo que normatiza as ações integradas do programa de Saúde Mental em Curitiba. Este programa, que visa a realizar assistência aos portadores de transtornos mentais, preferencialmente fora dos hospitais, busca a redução das internações e quer propiciar a reinserção do cidadão em sua família e à comunidade à qual pertence. Entre 2000 e 2001, inscreveram-se no programa 26.500 pessoas, para as quais viabilizaram-se procedimentos ambulatoriais (CAPS, consultas de psiquiatria, psicologia e terapias de grupo), e pronto-atendimentos nas US 24 horas Albert Sabin e Boa Vista. Dentre todas as ações realizadas pelo programa destacam-se, por seu pioneirismo, as desintoxicações ambulatoriais para alcoolistas efetivadas nas Unidades básicas de Saúde. A Farmácia Curitibana incorporou os medicamentos próprios das patologias atendidas e fornece-os, regularmente, aos inscritos nas US. O desenvolvimento de níveis ambulatoriais anteriormente pouco disponibilizados mostra claramente a reorientação da política municipal na área da saúde mental. Para os usuários permite a continuidade de atividades laborativas e a convivência diária com os familiares, vizinhos e amigos, o que é fundamental para o equilíbrio de todo ser humano. O foco principal passa a ser, portanto, o resgate dos aspectos saudáveis de cada indivíduo, tornando-o cada vez mais autônomo e, ao mesmo tempo, respeitando suas diferenças e limitações. A primeira versão do protocolo é datada de novembro de 1999 e, portanto, bastante recente. Tal fato poderia suscitar a questão -porque já uma revisão, em tão pouco tempo de existência institucional? Acontece que, nesse aparente curto espaço de tempo, diversos fatores trouxeram novos conhecimentos às equipes da Secretaria da Saúde, alterando substancialmente a forma de organizar os programas no município. A implantação de um Sistema Integrado de Serviços de Saúde, a consultoria do Dr. Williams Valentini Jr., os conceitos de pontos de atenção, gestão da clínica, gestão de caso, auto-cuidado, foram sendo rapidamente incorporados, mudando a lógica dos processos de trabalho e da relação entre os pontos de atenção que conformam 10 10 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA a rede de cuidado em saúde mental da cidade. A riqueza dos aportes foi de tal monta que impulsionou a SMS a ajustar seus procedimentos e, em conseqüência, seus protocolos. Pode-se perceber que as ações em saúde mental são uma área de apropriação ainda recente para a SMS mas o programa não tem medo de ousar, expor-se, pôr-se em pé, firmar-se e prosseguir... Se houve necessidade de tamanhas e importantes alterações, acompanhando uma evolução da SMS na implementação do SUS em Curitiba, é preciso afirmar, por outro lado, que alguns princípios básicos, já adotados desde o início do programa, permanecem e serão reafirmados. O maior deles é o respeito ao cidadão, do qual decorre o reconhecimento das diferenças entre os iguais, porque a vida ... tem lá seus jeitos de manifestar-se. Sabiamente, nosso Paulo Leminski, antecipando-se a tudo, poetou Redonda. Não , nunca vai ser redonda essa louca vida minha essa minha vida quadrada, quadra, quadrinha, não, nada, essa vida não vai ser minha. Vida quebrada no meio, Você nunca disse a que veio. MICHELE CAPUTO NETO Secretário Municipal da Saúde 11 A questão da assistência ao ser humano com transtornos mentais tem a sua trajetória marcada por processos de isolamento, segregação, exclusão, anulação do indivíduo enquanto portador de direitos. Os grandes manicômios, construídos de preferência afastados dos centros urbanos, guardaram a imagem do “louco” e o estigma do medo longe dos cidadãos “normais” por um longo tempo. Essa forma de exercício da psiquiatria vem sendo questionada em todo o mundo, resultando em propostas de mudanças no sistema de atenção à saúde mental em vários países como Inglaterra, França, Estados Unidos e Itália. Através de caminhos diversos, todos foram unânimes em reconhecer a necessidade de ultrapassar o modelo centrado no hospital psiquiátrico e avançar no sentido do cuidado próximo às famílias e aos recursos socioculturais dos pacientes. O contexto global em que se movem os projetos para mudança de enfoque e, conseqüentemente, de posturas, de propostas, de leis e de ações em saúde mental é bastante complexo e contraditório, como costumam ser os grandes processos sociais. Os espaços atingidos serão múltiplos. Institucionalmente, questiona-se a história e a prática arraigada em órgãos públicos e privados, interferindo-se em interesses econômicos e hierarquias de poderes institucionais e profissionais. No âmbito mais pessoal e familiar estarão em jogo questões como confiança, segurança, vínculos, inclusão, identidade, vontade, cidadania. Ao mesmo tempo, aumentando a rede de fatores intervenientes, há que se considerar os deslocamentos de recursos (financeiros, materiais, profissionais), de responsabilidades (nutricionais, familiares, pessoais) e de poder (planejamento, execução, acompanhamento, avaliação) envolvendo, novamente, uma gama heterogênea de atores sociais. E no entanto é mister ousar o enfrentamento corajoso e responsável de todas as facetas que compõem a questão, pois claro está o ambicioso objetivo que impulsiona o projeto de mudança. Reconhecer em cada qual e em todo ser humano seu direito intrínseco à cidadania. Reconhecer, no portador de distúrbios mentais, a possibilidade de ser criador, responsável por escolhas e alternativas. E, exatamente por exigir de todos um esforço de reconhecimento, o benefício se refletirá no avanço do próprio processo de cidadania, que inclui a capacidade amadurecida de conviver com o diferente, respeitando-o, e de tolerar as incapacidades, solidarizando-se com elas. I. Saúde Mental em Curitiba 11 A questão da assistência ao ser humano com transtornos mentais tem a sua trajetória marcada por processos de isolamento, segregação, exclusão, anulação do indivíduo enquanto portador de direitos. Os grandes manicômios, construídos de preferência afastados dos centros urbanos, guardaram a imagem do “louco” e o estigma do medo longe dos cidadãos “normais” por um longo tempo. Essa forma de exercício da psiquiatria vem sendo questionada em todo o mundo, resultando em propostas de mudanças no sistema de atenção à saúde mental em vários países como Inglaterra, França, Estados Unidos e Itália. Através de caminhos diversos, todos foram unânimes em reconhecer a necessidade de ultrapassar o modelo centrado no hospital psiquiátrico e avançar no sentido do cuidado próximo às famílias e aos recursos socioculturais dos pacientes. O contexto global em que se movem os projetos para mudança de enfoque e, conseqüentemente, de posturas, de propostas, de leis e de ações em saúde mental é bastante complexo e contraditório, como costumam ser os grandes processos sociais. Os espaços atingidos serão múltiplos. Institucionalmente, questiona-se a história e a prática arraigada em órgãos públicos e privados, interferindo-se em interesses econômicos e hierarquias de poderes institucionais e profissionais. No âmbito mais pessoal e familiar estarão em jogo questões como confiança, segurança, vínculos, inclusão, identidade, vontade, cidadania. Ao mesmo tempo, aumentando a rede de fatores intervenientes, há que se considerar os deslocamentos de recursos (financeiros, materiais, profissionais), de responsabilidades (nutricionais, familiares, pessoais) e de poder (planejamento, execução, acompanhamento, avaliação) envolvendo, novamente, uma gama heterogênea de atores sociais. E no entanto é mister ousar o enfrentamento corajoso e responsável de todas as facetas que compõem a questão, pois claro está o ambicioso objetivo que impulsiona o projeto de mudança. Reconhecer em cada qual e em todo ser humano seu direito intrínseco à cidadania. Reconhecer, no portador de distúrbios mentais, a possibilidade de ser criador, responsável por escolhas e alternativas. E, exatamente por exigir de todos um esforço de reconhecimento, o benefício se refletirá no avanço do próprio processo de cidadania, que inclui a capacidade amadurecida de conviver com o diferente, respeitando-o, e de tolerar as incapacidades, solidarizando-se com elas. I. Saúde Mental em Curitiba 12 12 O lançamento do Programa de Saúde Mental, em Curitiba, aconteceu em novembro de 1999, culminando um longo processo de gestação pela Secretaria Municipal da Saúde, que vinha se preocupando com a humanização do atendimento aos portadores de transtornos mentais residentes no município. A criação de novos serviços substitutivos ao internamento integral foi fundamental para permitir que o cidadão possa permanecer próximo a sua família e comunidade de referência. Atualmente, as equipes de saúde dos Distritos Sanitários têm sido capazes de intervir positivamente no processo saúde-doença. E há dois aspectos fundamentais que foram considerados no aprimoramento desse trabalho. O primeiro se refere à prevenção dos transtornos mentais, nos diferentes níveis de convivência dos cidadãos. O segundo diz respeito à importância da comunicação e referência entre os diferentes profissionais e serviços envolvidos no atendimento à clientela em questão. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA A. CONCEITOS O Sistema Integrado de Serviços de Saúde tem sido identificado como uma macrotendência na organização de serviços públicos em diversos países. No Brasil, adotado em alguns municípios, ele orienta, através de um estruturado corpo conceitual e metodológico, o re-direcionamento da atenção à população visando a humanização, continuidade e maior efetividade dos serviços. Em Curitiba, os conceitos apresentados a seguir (Mendes, E. V., 2001) têm sido referencial para o planejamento das mudanças necessárias para promover a integração das ações em saúde. Permite a implantação do sistema integrado de serviços de saúde, que se contrapõe à lógica do sistema fragmentado, até então existente. Alguns de seus principais avanços encontram-se descritos no quadro a seguir: OS SISTEMAS FRAGMENTADO E INTEGRADO DE SERVIÇOS DE SAÚDE Fragmentado Integrado Orientado para indivíduos Orientado para a população Orientado para a atenção a condições agudas Orientado para a atenção a condições crônicas* Organizado por componentes isolados Organizado por um contínuo de atenção Organizado por níveis hierárquicos Organizado numa rede horizontal Seu objeto: o paciente ou cliente Seu sujeito: o cidadão co-responsável por sua saúde *O conceito de cronicidade (OMS) refere-se a qualquer condição ou doença, transmissível ou não, cujo ciclo de vida ultrapasse três semanas. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Neste sistema integrado é utilizada a metáfora do radar da aeronáutica para ilustrar o senso de segurança, responsabilidade e comunicação, com linguagem inclusiva e agradável. Na reorganização dos serviços esta metáfora ilustra o cuidado que se pretende oferecer ao cidadão de modo que este fique, continuamente, sob a atenção de um serviço de saúde. “O Sistema Integrado de Serviços de Saúde (SISS) é uma reforma microeconômica dos sistemas de serviços de saúde, realizada através da constituição de uma rede integrada de pontos de atenção que presta uma assistência contínua a determinada população -no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo e com a qualidade certa - e que se responsabiliza pelos resultados sanitários e econômicos relativos a esta população.” (Mendes, E. V., 2001). O ponto de atenção é um lugar onde se presta um serviço, que tem uma função única de produção e está inserido numa rede de pontos diferenciados que formam um contínuo de atenção. Ele pode, ou não, coincidir com uma unidade produtiva. Em alguns casos uma unidade produtiva incorpora mais de um ponto de atenção (Por exemplo, ambulatório e hospital dia). As unidades básicas de saúde tem papel fundamental no atendimento à população de sua área de abrangência. Esta proposta reforça o trabalho que se vem desenvolvendo na saúde mental, em termos de mudança de paradigma do que era uma resposta tradicional (fragmentada) para a resposta da saúde mental comunitária (integrada) diante de questões-chave como (Elias, J., 1998): 13 O QUE É SAÚDE MENTAL? Resposta tradicional Saúde Mental Comunitária É a ausência de distúrbio mental. Condição dinâmica em que a pessoa sente- se com disposição, tem bons relacionamentos na comunidade, autonomia diante da vida, é capaz de realizar o que aprecia e tem senso de propósito. DE QUEM É A RESPONSABILIDADE PELA SAÚDE MENTAL E QUEM ATENDE? Resposta tradicional Saúde Mental Comunitária Responsabilidade de âmbito particular. Espera-se que os indivíduos se resguardem e quando necessário obtenham apoio e atenção profissional. O estado assume o papel residual mínimo nos casos extremos. Responsabilidade compartilhada entre indivíduos, famílias, grupos sociais e programas especializados. Estes participam quando necessário, para informar, educar e prestar serviços diretos em situações complexas. 14 14 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA B. OBJETIVOS O objetivo principal do SISS é elevar os limiares da atenção básica através do aumento da capacidade resolutiva das equipes, do desenvolvimento e difusão de novas tecnologias. O detalhamento destes objetivos se faz com: • Oferta de serviços a uma população adscrita; • Ampliação dos pontos de atenção à saúde; • Comunicação horizontal dos diferentes pontos de atenção à saúde, a partir da atenção primária a saúde; • Racionalização da utilização dos procedimentos clínicos e administrativos; • Estímulo ao autocuidado; • Promoção do controle público; • Integração do sistema de serviços de saúde com outras políticas públicas. QUAL A VISÃO DE UM SISTEMA DE SAÚDE MENTAL? Resposta tradicional Saúde Mental Comunitária O livre mercado oferece os serviços. Os doentes são removidos da comunidade para custódia e tratamento. A sociedade é protegida dos que têm “desvio”. Ações de promoção em saúde, para que cada um assuma sua saúde mental e previna o distúrbio mental. Oferta de serviços de intervenção, tratamento, internação e suporte. Envolvimento das pessoas como participantes ativos no planejamento, desenvolvimento e operacionalização de um sistema mais responsivo e comprometido. COMO SÃO VISTOS O INDIVÍDUO E A FAMÍLIA E QUAL É A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIAS E PROFISSIONAIS? Resposta tradicional Saúde Mental Comunitária Como espectadores passivos, não envolvidos no processo terapêutico. Há distanciamento. Família e amigos, geralmente, são considerados incapazes de ajudar. Como participantes ativos e co-responsáveis do processo. Relação de parceria. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUANTO AOS OBJETIVOS DO PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL, ESTES INCLUEM: • Avançar num modelo de atenção com acesso a múltiplas alternativas assistenciais que vão de cuidados básicos nos domicílios e atendimento em US, até serviços especializados ambulatoriais e hospitalares, bem como residenciais, de acordo com as diferentes necessidades de cuidado; • Estruturar formas de tratamento com visão bio-psico-sócio-espiritual1, considerando não só a condição clínica do paciente, mas promovendo sua recuperação, autonomia, reinserção social e reabilitação profissional; • Acompanhar continuamente o usuário, ao longo do seu tratamento, facilitando sua integração na família e comunidade. ESTE PROTOCOLO: • Foi elaborado na busca de um avanço e uma atualização das informações descritas na primeira versão do Manual do Programa de Saúde Mental; • Procura mostrar a continuidade do processo de atenção com a inclusão dos pressupostos de funcionamento do SISS; • Tem como base a lógica do SISS, ou seja, os diferentes pontos de atenção, que incluem domicílio, unidade de saúde (US), recursos comunitários, pronto- atendimento, ambulatório, oficina terapêutica, núcleo de atenção psico-social (CAPS), hospital-dia, hospital integral, residência terapêutica e hospital geral, organizados em uma rede horizontal; • O próximo capítulo tratará da operacionalização do programa, e o seguinte da prevenção dos transtornos mentais; • No capítulo IV serão discutidos procedimentos e fluxos previstos para a unidade de saúde (US). Serão descritos quatro grupos de patologias específicas, a saber, dependências químicas, depressão, psicoses e patologias da infância/ adolescência; • Os demais pontos de atenção serão apresentados no capítulo V; • O último capítulo trata, de maneira sucinta, dos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental. 15 16 16 17 II. Operacionalização A. POPULAÇÃO ALVO População residente em Curitiba, adscrita às unidades de saúde, com foco nas grandes políticas municipais de saúde, nos grupos de risco conforme os programas institucionais e na assistência a pessoas portadoras de transtornos mentais. Considera-se os dados fornecidos pela OMS em termos de porcentagem populacional, a saber, 15% dependências químicas, 10% de depressões, 1% de esquizofrenia e, em crianças, 4 a 5 % de distúrbio de aprendizagem e 3 a 5% de déficit de atenção e hiperatividade. B. VINCULAÇÃO DO USUÁRIO AO PROGRAMA A captação de pessoas é feita por procura espontânea às unidades de saúde ou identificação na comunidade através de visitas domiciliares. Na assistência aos casos, o foco muda da patologia para o cidadão, investindo-se nos casos crônicos e no cuidado contínuo e resolutivo na atenção básica. A pessoa é inscrita no Programa de Saúde Mental (PSM) que oferece diversas opções de assistência, centrada na Unidade Básica e estendendo-se a serviços especializados, quando necessário. Há também uma preocupação com a reinserção familiar e social do indivíduo, buscando resgatar sua cidadania. 17 II. Operacionalização A. POPULAÇÃO ALVO População residente em Curitiba, adscrita às unidades de saúde, com foco nas grandes políticas municipais de saúde, nos grupos de risco conforme os programas institucionais e na assistência a pessoas portadoras de transtornos mentais. Considera-se os dados fornecidos pela OMS em termos de porcentagem populacional, a saber, 15% dependências químicas, 10% de depressões, 1% de esquizofrenia e, em crianças, 4 a 5 % de distúrbio de aprendizagem e 3 a 5% de déficit de atenção e hiperatividade. B. VINCULAÇÃO DO USUÁRIO AO PROGRAMA A captação de pessoas é feita por procura espontânea às unidades de saúde ou identificação na comunidade através de visitas domiciliares. Na assistência aos casos, o foco muda da patologia para o cidadão, investindo-se nos casos crônicos e no cuidado contínuo e resolutivo na atenção básica. A pessoa é inscrita no Programa de Saúde Mental (PSM) que oferece diversas opções de assistência, centrada na Unidade Básica e estendendo-se a serviços especializados, quando necessário. Há também uma preocupação com a reinserção familiar e social do indivíduo, buscando resgatar sua cidadania. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA C. C. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL 18 SIMN Ã O N Ã O N Ã O SIM SIM NA US: – avaliar o usuário; – inscrever usuário no Programa; – tratar na US quando indicado; – fornecer medicamento; – monitorar o tratamento; – preencher referência para PA ou para ambulatório; – interligar com os demais pontos de atenção, inclusive recursos comunitários. NO AMBULATÓRIO OU CAPS : – avaliar o usuário; – preencher plano terapêutico mensal para US, de continuidade do tratamento; – na alta, preencher guia de transferência para outro serviço de continuidade. NO PA: – avaliar o usuário; – atender emergência; – preencher guia de internação para hospital integral; preencher guia de transferência para US, ambulatório, CAPS ou hospital-dia. NO HOSPITAL-DIA: – avaliar o usuário; – na alta, preencher guia de transferência para outro serviço de continuidade. NO HOSPITAL INTEGRAL: – avaliar o usuário; – na alta, preencher guia de transferência para US, ambulatório, CAPS ou hospital-dia. 19 III. PREVENÇÃO A saúde mental de uma pessoa está relacionada com a forma como ela reage às exigências da vida e harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, idéias e emoções. Ela é influenciada pela aceitação, ou não, deste indivíduo pela comunidade em que ele está inserido. A prevenção envolve incorporar hábitos de vida saudáveis bem como despertar a corresponsabilidade da comunidade, devendo envolver parcerias com outras secretarias e recursos comunitários. A atenção primária à saúde é um espaço privilegiado que deve ser aproveitado para a promoção da saúde e prevenção de transtornos mentais. Os recursos disponíveis, como a cartilha e os folhetos do Programa de Saúde Mental, podem ser utilizados em ações de promoção da saúde e prevenção de transtornos mentais com os diversos grupos e integrados às atividades já desenvolvidas nas unidades. Esta integração se faz nas grandes políticas municipais de saúde, através do Programa Vida Saudável e apoio a grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, gestantes, adolescentes e grupos comunitários, atendidos nos programas Mãe Curitibana, Pacto pela Vida, Crescendo com Saúde e outros. AS AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE MENTAL PODEM ATINGIR USUÁRIOS EM DIFERENTES CONDIÇÕES: 1. Portadores de transtornos mentais já diagnosticados devem receber orientações no sentido do auto-cuidado (vide quadro na pág. 84), do uso correto de medicamentos e/ou continuidade da psicoterapia e outros recursos indicados para que sejam minimizados o risco de reagudização do transtorno e o de exclusão social. Seus familiares também devem receber orientação e suporte. É, ainda, importante reconhecer condições psicossociais (familiares, de trabalho e comunitárias, entre outras) das pessoas em risco de recaídas, que possam ser utilizadas para favorecer a qualidade de vida, buscando-se a inter-setorialidade para este atendimento. 2. Famílias com problemas diversos que podem interferir negativamente na saúde mental de suas crianças, necessitando suporte, acompanhamento mais próximo e, eventualmente, encaminhamento para serviços especializados. Estes problemas incluem, entre outros: 19 III. PREVENÇÃO A saúde mental de uma pessoa está relacionada com a forma como ela reage às exigências da vida e harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, idéias e emoções. Ela é influenciada pela aceitação, ou não, deste indivíduo pela comunidade em que ele está inserido. A prevenção envolve incorporar hábitos de vida saudáveis bem como despertar a corresponsabilidade da comunidade, devendo envolver parcerias com outras secretarias e recursos comunitários. A atenção primária à saúde é um espaço privilegiado que deve ser aproveitado para a promoção da saúde e prevenção de transtornos mentais. Os recursos disponíveis, como a cartilha e os folhetos do Programa de Saúde Mental, podem ser utilizados em ações de promoção da saúde e prevenção de transtornos mentais com os diversos grupos e integrados às atividades já desenvolvidas nas unidades. Esta integração se faz nas grandes políticas municipais de saúde, através do Programa Vida Saudável e apoio a grupos de risco, como diabéticos, hipertensos, gestantes, adolescentes e grupos comunitários, atendidos nos programas Mãe Curitibana, Pacto pela Vida, Crescendo com Saúde e outros. AS AÇÕES PREVENTIVAS EM SAÚDE MENTAL PODEM ATINGIR USUÁRIOS EM DIFERENTES CONDIÇÕES: 1. Portadores de transtornos mentais já diagnosticados devem receber orientações no sentido do auto-cuidado (vide quadro na pág. 84), do uso correto de medicamentos e/ou continuidade da psicoterapia e outros recursos indicados para que sejam minimizados o risco de reagudização do transtorno e o de exclusão social. Seus familiares também devem receber orientação e suporte. É, ainda, importante reconhecer condições psicossociais (familiares, de trabalho e comunitárias, entre outras) das pessoas em risco de recaídas, que possam ser utilizadas para favorecer a qualidade de vida, buscando-se a inter-setorialidade para este atendimento. 2. Famílias com problemas diversos que podem interferir negativamente na saúde mental de suas crianças, necessitando suporte, acompanhamento mais próximo e, eventualmente, encaminhamento para serviços especializados. Estes problemas incluem, entre outros: SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Crianças não desejadas; • Crianças hospitalizadas por períodos longos ou com risco de vida no período neonatal, prejudicando o vínculo entre mãe e filho; • Crianças portadoras de alguma doença crônica ou deficiência; • Crianças hiperativas, ou que não aprenderam a respeitar limites; • Pais ou responsáveis muito jovens; • Famílias em conflito; • História de violência na família; • Desemprego e/ou dificuldades econômicas graves. 20 PAIS EMOCIONALMENTE SAUDÁVEIS NUTREM FILHOS SAUDÁVEIS, QUE SE TORNARÃO ADULTOS CAPAZES. 3. Todas as pessoas que tem ou pretendem ter um filho, devem receber, além das orientações que visam uma boa saúde física desta criança, informações direcionadas para a saúde mental da mesma, como: • Desenvolvimento normal da criança (exemplo: aos dois anos ela é ativa e curiosa mesmo. Não podemos esperar que se comporte como um adulto em miniatura); • Suas reações normais (exemplo, ciúmes do irmão menor); • A importância de tentar estabelecer equilíbrio entre sentirem-se tão inseguros a ponto de afastarem-se dos filhos ou de tal modo envolvidos que não conseguem separar-se dos mesmos; • Lembrar que o comportamento dos pais é o modelo para o dos filhos; •A amamentação também é importante para a saúde mental da criança; • Todo indivíduo deve ser respeitado como ele é, mesmo que tenha limitações, medos e outros sentimentos que não são compreendidos pelos adultos. A aceitação da criança e do adolescente pelo adulto os leva a se aceitarem e se responsabilizarem pelos indivíduos que são; • Uma criança, ou adolescente, que se sente amada e valorizada tende a se tornar um adulto mais feliz e mais capaz. O contrário acontece se a criança é criticada, desvalorizada, julgada e comparada. (exemplo, o irmão nunca dá problema, este aqui é que...); • A criança e o adolescente precisam de limites, mas a violência não é uma boa forma para estabelecê-los, pois leva a criança, ou adolescente, a ver a violência como algo permissível no seu relacionamento com os outros, além de causar danos físicos e emocionais; • Em todo relacionamento, ouvir e ser empático, ou seja, procurar colocar-se na posição do outro, é muito melhor do que dar conselhos. • Atitudes importantes dos responsáveis, de acordo com as faixas etárias: SAÚDE MENTAL EM CURITIBA No primeiro ano de vida: • assegurar conforto, aconchego e segurança; • brincar e conversar com a criança; • apoiar em coisas simples como dar de comer; • estimular a percepção sensorial. A partir do segundo ano de vida: • entender que o crescimento inclui independência, assim como o aprender a lidar com limites. Os limites geram na criança a segurança necessária para que esta sinta-se capaz de buscar maior independência; • a criança precisa explorar o ambiente, mas deve lhe ser garantida a segurança; • brincar com a criança; • conversar, contar histórias, ensinar canções - estimular a linguagem; • a menina pode ser estimulada a deixar as fraldas por volta dos 18-24 meses, lembrando que as diferenças individuais precisam ser respeitadas. O tempo para a retirada das fraldas pode variar, devendo- se considerar inclusive fatores climáticos. (os meninos tendem a amadurecer mais tardiamente). A partir do terceiro ano de vida: • Continuar a estimular a sociabilidade através do brincar com outras crianças; • Continuar a estabelecer e a orientar quanto à questão de limites, equilibrando os desejos da criança com as possibilidades da família; • Continuar o estímulo à retirada das fraldas, do período noturno inclusive; • Estimular o menino a deixar as fraldas, por volta dos 36 meses; • Dar apoio à criança que, com a conquista de maior autonomia, freqüentemente apresenta medos e pesadelos. • Fornecer informações sobre sexualidade, mas não expor a criança à sexualidade adulta, que é prejudicial ao seu desenvolvimento emocional. A partir do quinto ou sexto ano de vida: • Considerar que noções sobre separação, perda e morte estão estabelecidas; • Lembrar que, nesta idade a criança tem grande sensibilidade e interesse pelo mundo adulto. Permitir que ela aspire à vida adulta, mas estabelecer limites claros entre o que pertence ao mundo da criança e o que pertence ao mundo do adulto; A partir do ingresso na escola ou pré-escola: • Participar da vida escolar, valorizar as conquistas e ajudar a criança a tolerar a falta de sucesso, inevitável na conquista do aprendizado; • Apoiar para completar tarefas de aprendizagem iniciadas. 21 22 22 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Na adolescência: • ajudar na descoberta e desenvolvimento dos seus potenciais; • estimular a construção de um projeto de vida e a busca da autonomia; • Considerar que, nesta fase, “crises emocionais” podem ser normais, pois ele ainda se encontra em desenvolvimento emocional, não esquecendo que se estas crises são muito frequentes é importante verificar se não há um quadro de depressão, por exemplo, associado. • orientar quanto ao auto-cuidado, especialmente na prevenção da gravidez precoce, da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) e do abuso de tabaco, álcool e outras drogas psicoativas; • estar presente, conversar, participar. 4. Todos os usuários da US: • Orientações visando a incorporação de hábitos de vida saudáveis; • Informações gerais sobre os principais transtornos mentais, possibilitando a sua detecção precoce. SUGESTÕES PARA A PREVENÇÃO ÀS DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS: • Orientações em todas as consultas clínicas acerca dos padrões aceitáveis do consumo de álcool e não consumo do tabaco e outras drogas; • Atividades em sala de espera com orientações e informações sobre o tema; • Incentivo a atividades saudáveis visando a diminuição dos padrões de consumo de álcool, bem como estímulo à descoberta de novas habilidades e interesses; • Inclusão de questões voltadas à dependência química nos demais programas desenvolvidos na US como: diabéticos, hipertensos, gestantes e adolescentes; • Palestras na comunidade sobre o tema; • Parcerias com outros serviços Municipais da região, em programas estratégicos como: Educação de jovens e adultos (EJA), Formando Cidadão /Cidadã, Da Rua para a Escola; • Alfabetização dos dependentes químicos (projeto de voluntários para alfabetização a partir de temas de saúde); • Incentivo à realização de cursos profissionalizantes (Linhas e Liceus do Ofício, cursos da Fundação Cultural); • No caso de adolescentes e crianças proporcionar experiências de sucesso na aprendizagem – melhorar a auto-estima! • Nas consultas de crianças e adolescentes explorar, sempre, questões familiares e encaminhar para serviço ambulatorial quando forem detectadas situações tais como disfunções familiares e presença de pseudomaturidade. 23 IV. PONTO DE ATENÇÃO UNIDADE DE SAÚDE A Unidade de Saúde deve ser o ponto de atenção central do sistema integrado. É a partir e em função dela que se organizam os demais pontos do contínuo de atenção. A US tem os seguintes atributos: acessibilidade, atendimento à população adscrita, reconhecimento pelos usuários, responsabilidade por oferecer serviços essenciais, coordenação da atenção, foco na família e orientação comunitária. 23 IV. PONTO DE ATENÇÃO UNIDADE DE SAÚDE A Unidade de Saúde deve ser o ponto de atenção central do sistema integrado. É a partir e em função dela que se organizam os demais pontos do contínuo de atenção. A US tem os seguintes atributos: acessibilidade, atendimento à população adscrita, reconhecimento pelos usuários, responsabilidade por oferecer serviços essenciais, coordenação da atenção, foco na família e orientação comunitária. Para que este ponto de atenção possa desempenhar suas funções adequadamente os seus profissionais serão supervisionados e capacitados pela equipe de saúde mental do Distrito Sanitário. A US deve ser considerada, para consultas regulares de portadores de transtornos mentais, quando a equipe da US dispõe de médicos envolvidos e capacitados para o acompanhamento do portador de transtorno mental. A. ACOLHIMENTO • Acolher significa dar boas vindas e humanizar o atendimento. É um momento de reconhecimento da pessoa de forma empática, ou seja, colocando-se no lugar do outro; • O primeiro contato com a pessoa é extremamente importante, pois pode garantir a adesão e a continuidade de todo o processo de atendimento; • O acolhimento deve acontecer cada vez que o usuário comparece à unidade de saúde e diz respeito a uma atitude profissional que reforça e mantém a vinculação. Acolhimento envolve: • tratar os usuários e familiares com respeito, • promover uma relação de proximidade entre equipe e paciente, evitando, contudo, envolvimento íntimo; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • mostrar solidariedade e qualificar as relações entre as pessoas; • buscar valorizar o potencial dos indivíduos, aceitando as limitações de cada situação e quebrar barreiras burocráticas; UM BOM VÍNCULO ENTRE PROFISSIONAL E USUÁRIO PERMITE QUE A ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL ACONTEÇA DE MANEIRA MAIS EFETIVA. 24 B. AVALIAÇÃO TÓPICOS RELEVANTES DA ANAMNESE: • Razão da procura; • Idade de início e periodicidade; • Realidade de vida diária; • Entendimento sobre tratamentos prescritos anteriormente; • Grau de cooperação do paciente; • História familiar; • Suporte familiar e social; Informações específicas, como: • História do desenvolvimento, na criança; • Tipo e quantidade de substâncias de abuso; • Síndrome de abstinência anterior; • Presença de sintomas e quadros clínicos associados; • Em mulheres em idade fértil, sempre investigar o uso de métodos anticoncepcionais e gravidez (alguns psicofármacos, especialmente o carbonato de lítio, são teratogênicos). EXAME CLÍNICO: • Exame físico; • Exame neurológico simples; • Exame do estado mental. ANOTAR: • Aparência geral; • Interação com o examinador; • Atividade psicomotora; • Afeto e humor (estado emocional); SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Linguagem; • Presença ou não de alucinações; • Pensamento (velocidade e conteúdo: delírio, preocupações, obsessões, auto e hetero-agressividade); • Nível de consciência; • Orientação espacial, temporal e pessoal; • Memória; • Concentração; • Inteligência. QUADRO IV.1: SINAIS INDICADORES DE GRAVIDADE • Agitação • Delírio e/ou alucinações • Delirium1 • Distúrbios do movimento • Intoxicação e abstinência de substâncias psicoativas • Risco de suicídio • Suspeita de negligência e abuso • Contexto desfavorável (pessoa incapaz de cuidar de si mesma e sem suporte familiar) 25 1 Um delirium é um quadro agudo de perturbação da consciência e alteração na cognição Pode ser causado por um distúrbio clínico subjacente ou induzido por substâncias. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA CONDIÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS: As condições médicas gerais que cursam com transtornos mentais, quando não diagnosticadas, interferem no resultado terapêutico. Exigem intervenções específicas além daquelas instituídas para o controle da sintomatologia apresentada e do transtorno mental presente. O quadro a seguir demonstra os principais indicadores sugestivos de transtorno mental devido à condição orgânica: QUADRO IV.3: 26 INDICADORES SUGESTIVOS DE TRANSTORNO MENTAL DEVIDO À CONDIÇÃO ORGÂNICA Início agudo e episódio único Idosos: Pessoas idosas são mais sujeitas a quadros neurológicos, enquanto o transtorno mental pode acometer pessoas de qualquer idade. Uso de substâncias psicoativas e de medicações: Várias substâncias químicas podem desencadear sintomatologia psiquiátrica, inclusive medicamentos. Pesquisar medicações de uso constante, aumento recente de dosagem, acréscimo de nova droga àquelas já em uso. Doenças concomitantes: Aids, toxoplasmose, quadros infecciosos, aterosclerose, insuficiência cardíaca, renal ou hepática, hipóxia e outras patologias indicam grande possibilidade de acometimento neurológico. Antecedentes de traumatismo crânio-encefálico, politraumatismos Sinais de comprometimento neurológico e da cognição OUTROS FATORES ASSOCIADOS Observar: • Suspeita ou comprovação de maus tratos na infância, adolescência, mulher ou idoso; • Riscos devido às condições sócio-econômicas; • Abandono escolar; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Analfabetismo; • Conflitos com a Lei; • Vulnerabilidade a situações de risco a DST / Aids. Sempre que um indivíduo apresentar quadro sugestivo de transtorno mental, deve-se afastar condições orgânicas que possam estar dando origem à sintomatologia, como as descritas no quadro a seguir: QUADRO IV.4: QUADRO IV.4: CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Aids Ataxia Convulsões Emagrecimento Febre Incontinência Sinais neurológicos focais Alterações de personalidade Demência progressiva Depressão Memória e concentração comprometidas Mutismo Psicose Teste de HIV + Grande maioria dos pacientes têm sintomas psiquiátricos Considerar sempre em jovens com demência e populações de alto risco Afastar outras infecções, neoplasias cerebrais, demência e psicose Carcinoma Dor abdominal Anedonia Amilase Sempre considerar em pancreático Perda de peso Apatia Depressão Falta de energia Letargia pacientes de meia idade deprimidos Convulsões Alterações sensoriais Aura Automatismos motores Beligerância Comportamento bizarro Confusão Estados catatoniformes Estados dissociativos Psicose Violência Alterações ao EEG Considerar convulsões complexas parciais em todos os estados dissociativos Afastar estados pósictais e esquizofrenia catatônica Deficiência Diarréia Apatia Afastar transtornos de de Confusão humor e demência nicotinamida Demência Depressão Disturbios de memória Insônia Irritabilidade Psicose 27 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADRO IV.4: 28 CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Deficiência Convulsões Apatia Freqüentemente caude Fraqueza muscular Distúrbios de memória sada pelo uso de iso- Piridoxina Irritabilidade niazida Afastar transtornos de humor e demência Deficiência Neuropatia Amnésia Mais freqüente em de tiamina Cardiomiopatia Sindrome de Wernicke- Korsakoff (ver ítem específico) Nistagmo Cefaléia Confabulação Confusão Diminuição da capacidade de concentração Incapacidade para sustentar uma conversação alcoolistas afastar hipomania, transtorno depressivo e demência Deficiência Palidez Demência Anemia Afastar transtornos de de vitamina Tonturas Fadiga megaloblástica humor e demência B 12 Neuropatia periférica Ataxia Falta de atenção Irritabilidade Psicose Doença de Huntington Movimentos coreoatetóticos Rigidez Depressão Euforia Afastar transtornos de humor e esquizofrenia Doença de Parkinson Disfunção motora Ansiedade Demência Depressão Afastar outras causas de demência Doença de Anel de Kayser-Alterações de humor Ceuloplasmina Início, em geral, na ado- Wilson Fleischer Movimentos coreoatetóticos Quadro sugestivo de hepatite Rigidez Psicose sérica Cobre urinário lescência ou juventude Afastar reações extra- piramidais e transtornos de humor Encefalopatia Aranhas vasculares Déficit cognitivo e de Provas de função Pode ser aguda ou crôhepática Atrofia hepática Ataxia Disartria Eritema palmar Equimoses Hepatomegalia Hiperreflexia concentração Depressão Desinibição Diminuição das atividades de vida diária Euforia Inquietação Psicose hepática e albumina alteradas Lentificação difusa ao EEG nica, conforme a causa Afastar abuso de substâncias, transtornos de humor, demência SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADRO IV.4: CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Esclerose Alterações motoras Ansiedade Gamaglobulina Início, geralmente em múltipla e sensoriais súbitas Euforia elevada no liquor adultos jovens e transitórias Mania Alterações dege-Afastar sífilis terciária, Fala arrastada Incontinência nerativas no céoutras doenças dege- Perda visual rebro e espinha nerativas, histeria, ma- Sinais neurológidorsal nia tardia cos difusos Feocromo-Cefaléia Ansiedade Ácido vanil-Afastar transtornos de citoma Hipertensão Pânico mandélico ansiedade paroxística urinário elevado Sudorese Tremores Hipergli-Anorexia Ansiedade Acidose Quase sempre associacemia Convulsões Agitação Cetonas séricas do com diabete juvenil Desidratação Delirium Cetonas urinárias resistente e diabete não- Hálito cetônico Hiperglicemia insulina dependente Náuseas e vômitos do idoso Queixas Afastar distúrbios de- abdominais pressivos e de ansiedade Hiperpara-Constipação Depressão Hipercalcemia Afastar depressão maior tireoidismo Náuseas Paranóia Hormônio paratie transtorno Polidipsia Confusão reoideo variável esquizoafetivo ECG: diminuição do intervalo QT Hipertire-Intolerância ao Cognição alterada T4 livre Nem sempre todo o oidismo (tireotoxicose) calor Diarréia Palpitações Concentração diminuída Excitabilidade T3 TSH espectro de sintomas esta presente Coexistência de hiperti- Perda de peso Falta de limites ECG: taquicardia, reoidismo e ansiedade Sudorese excessiva Hiperatividade fibrilação atrial, Afastar malignidade Taquicardia Irritabilidade mudanças nas oculta, doença cardio- Tremor fino Insônia ondas P e T vascular, intoxicação Vômitos Medo de morte anfetamínica, iminente intoxicação por Nervosismo cocaína, estados de Psicose ansiedade, mania Verborragia Hipoglicemia Coma Convulsões Estupor Sonolência Sudorese Taquicardia Tremores Agitação Ansiedade Confusão Inquietude Hipoglicemia Excesso de insulina, muitas vezes complicada, por exercício, álcool, redução da ingestão alimentar Afastar insulinoma, estados pós-ictais, depressão agitada e psicose 29 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADRO IV.4: 30 CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Hiponatremia Coma Convulsões Estupor Polidipsia Sede excessiva Confusão Letargia Alterações de personalidade Anormalidades da fala Hiponatremia Osmolaridade Diabetes insípido atípico Potomania Afastar síndrome nefrótica, doença hepática, cardiopatia congestiva Psicose Personalidade esquizotípica Hipopara-Cefaléia Agitação Hipotensão arterial Afastar transtornos de tireoidismo Dor abdominal Espasmo carpopedal Espasmo laríngeo ParestesiasTetania Alterações de memória Ansiedade Confusão Depressão Hipocalcemia com albumina normal ansiedade e de humor Hipotireoidismo Bradicardia Afeto deprimido TSH Mais comum em (mixedema) Bócio Cabelo seco e quebradiço Constipação Fraqueza muscular Ganho de peso Intolerância ao frio Pele seca Sensibilidade incomum aos barbitúricos Alucinações Apatia Concentração diminuída Lentidão psicomotora Letargia Mudança de personalidade Paranóia Psicose que se assemelha a mania Sensibilidade incomum aos barbitúricos TSH se houver doença pituitária T4 livre mulheres Associado à lítioterapia Afastar doença pitutitária, doença hipotalâmiaca, depressão maior e transtorno bipolar Insuficiência Anorexia Depressão Eosinofilia Pode ser primária ou adreno-Coma Letargia Hipercalemia secundária cortical Delirium Estupor Fadiga Hipotensão arterial Hiperpigmentação Náuseas Vômitos Psicose Hiponatremia Afastar transtornos alimentares e de humor SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADRO IV.4: CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Lesões Doença crônica Acidentes e Comportamento suipossivelmente ou terminal atendimentos em cida é sintoma de doenauto- infligidas Dor crônica serviços de emergência ça psiquiátrica, incluindevido a freqüentes do abuso de álcool e transtorno Ansioso para não ser outras substâncias; psiquiátrico, examinado Há um risco elevado de como “pulsos Humor deprimido (novas) tentativas de suicortados” e Psicose puerperal cídio outras mais Tentativas anteriores de graves suicídio Lupus Artralgias Alterações do humor Anemia Mais freqüente em mu- Erirematoso Cefaléia Fadiga Anticorpos lheres; Sistêmico Febre Fotossensibilidade Lesão em asa de borboleta Psicose antinucleares + Teste LE + Trombocitopenia Pericardite Derrame pleural Sintomas psiquiátricos em metade dos casos; Corticoterapia pode causar sintomas psicóticos; Afastar transtorno de humor e psicose Síndrome de Diminuição da Delirium Intolerância a glicose; Cushing força muscular Estrias vinhosas Hipertensão arterial Hirsutismo Obesidade central Osteoporose Ulcerações freqüentes Depressão Dificuldade de concentração Euforia Falta de energia Insônia Labilidade emocional Mania Psicose Teste de supressão da dexametasona anormal Identificar outras causas como neoplasias; Risco de suicídio em casos não tratados; Afastar transtornos do humor Neoplasias Achados Alterações da fala Lesões focais Tumores cerebelares cerebrais neurológicos focais Anormalidades motoras e sensoriais Cefaléia Convulsões Delirium Equilíbrio e coordenação perturbados Papiledema Problemas visuais Vômitos Alterações de humor Alteração de personalidade Alucinações visuais Crises psico-motoras Irritabilidade Julgamento e memória prejudicados Hipertensão intracraniana são mais freqüentes na criança e gliomas na quinta década de vida; Afastar abscesso intracraniano, aneurisma, hematoma sub-dural, epilepsia, doença cérebro- vascular, depressão reativa, mania, psicose, demência 31 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADRO IV.4: 32 CONDIÇÕES CLÍNICAS QUE SE APRESENTAM COM SINTOMAS PSIQUIÁTRICOS DOENÇA SINAIS E SINTOMAS CLÍNICOS COMUNS SINAIS E SINTOMAS MENTAIS E COMPORTAMENTAIS EXAMES E APOIO DIAGNÓSTICO OBSERVAÇÕES Porfiria Constipação Agitação Leucocitose Mais comum em muintermitente Dor abdominal Alucinações visuais Ácido lheres de 20 a 40 anos; aguda Febre Náuseas e vômitos Neuropatia periférica Paralisia Taquicardia Sudorese Depressão aguda Fraqueza Inquietação Paranóia gamaaminolevulínico Porfobilinogênio Pode ser precipitado por várias substâncias Afastar abdome agudo, episódio psiquiátrico agudo Sífilis Artrite Alterações de VDRL +, Afastar neoplasias, meterciária Distress cardiovascular progressivo Distress respiratório Lesões cutaneas Placas leucodermicas Periostite personalidade Comportamento irresponsável Confusão Desatenção nas atividades de vida diária Irritabilidade Psicose Anticorpos antitreponema, Líquor alterado ningite, demência, transtornos de humor com sintomas psicóticos e esquizofrenia Síndrome de Encefalopatia de Psicose de Korsakoff: TC e RNM podem Deficiência de tiamina Wernicke-Wernicke (= risco Amnésia evidenciar lesões Korsakoff de vida): Ataxia Confusão mental Febre Nistagmo Oftalmoplegia Vômitos Confabulação Déficit cognitivo puntiformes nas regiões periventricular, periaqueductal do tronco e diencéfalo Traumatismos Alteração ou per-Alteração de Alterações no RX Confirmar história de cranianos da de consciência Cefaléia Convulsão História ou evidência de trauma Sangramento auricular Sinais neurológicos focais Paralisia Tontura personalidade Confusão Perturbação da memória de crânio, TC, angiograma cerebral e EEG traumatismo e afastar doença cérebro-vascular, epilepsia, alcoolismo, diabetes, encefalopatia hepática, depressão, demência Adaptado de Kaplan e Sadock, 1997 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA MONITORAMENTO DO TRATAMENTO ESPECIALIZADO • Inscrever o paciente no Programa de Saúde Mental; • Realizar visita domiciliar, para verificar as condições de autocuidado (vide quadro pág. 85), familiares e de moradia conforme necessidade ou quando há indícios de falha na adesão do tratamento (ver tabela de visitas domiciliares pág. 85); • Realizar acompanhamento mensal, incluindo: • Disponibilização e verificação da medicação em uso; • Comparecimento a consultas; • Evolução do tratamento; • Monitorar o plano terapêutico estabelecido pelos serviços; especializados, liberando os cheques consulta e as diárias dos CAPS; • Periodicamente o usuário deve ser avaliado clinicamente e monitorado com exames laboratoriais, sendo a freqüência destas ações determinada pelo médico responsável, em função da patologia; • Esclarecer dúvidas e orientar sobre a patologia e o funcionamento do Programa de Saúde Mental do município; • Deverá ser designado um gerente de caso para cada paciente, entre os profissionais da US. Este gerente de caso será responsável por acompanhá-lo com relação a todos os ítens descritos anteriormente, bem como manter contato com os outros serviços envolvidos (inclusive a escola ou creche, no caso de crianças!) e, sempre que necessário marcar reuniões para desenvolver um método de atuação coordenada e prover as diferentes necessidades do indivíduo em questão. C. EVENTO AGUDO CONSIDERAÇÕES GERAIS: • No atendimento dos pacientes nestas situações deve-se priorizar sua segurança física e emocional; • Evitar atitudes ameaçadoras; • Informar ao paciente que a violência não será admitida e que, se necessário, medidas de contenção serão tomadas; Manter o ambiente de trabalho seguro: • O local de atendimento não deve ser isolado; • Remover objetos que possam ser usados como instrumento de agressão; • Os móveis devem estar dispostos de maneira a permitir fácil acesso para entrada e saída da equipe; • A equipe deve estar pronta para conter o paciente quando necessário. 33 34 34 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA SITUAÇÕES ESPECÍFICAS AGITAÇÃO: ESTABELECER A CAUSA PROVÁVEL: A causa pode ser única ou a combinação de duas ou mais: • Orgânica; • Comportamental; • Psiquiátrica. Prevenir agressão detectando indicadores de comportamento violento, como: • Comportamento ameaçador; • História de violência, homicídio, assalto, prisões; • Porte de armas e objetos que possam ser instrumentos de agressão; • Intoxicações por álcool ou droga; • Síndrome cerebral orgânica; • Alucinações auditivas determinando a prática de atos violentos contra si ou outros. CONTENÇÃO: CONTENÇÃO VERBAL Observar as seguintes medidas: • Identificar-se; • Comunicar que está ali para ajudá-lo; • Utilizar frases curtas e claras, repetindo se necessário; • Manter distância adequada para sua proteção; • Afastar platéias; • Explicar o que será feito para ajudá-lo (não enganar o paciente); • Estimular o paciente a falar de seus sentimentos, procurando acalmá-lo e auxiliá-lo na percepção da realidade. Obs.: Não excluir a possibilidade de novos episódios de agitação após a estabilização do quadro. Quando não for suficiente a contenção verbal, utilizar a contenção física. Certificar-se de que poderá contar com a ajuda de outras pessoas caso haja violência. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA CONTENÇÃO FÍSICA • É um método seguro, eficiente e reversível, não afetando o nível de consciência do paciente; • Havendo risco da integridade dos profissionais, poderá ser solicitada ajuda da polícia militar para fazer a contenção; • É necessária a participação de, no mínimo, 4 profissionais; • O material para a contenção é constituído de 4 faixas (uma para cada membro), de aproximadamente 12 m de comprimento por 40 cm de largura, com tiras finas em 1 das extremidades (figura IV.1). Figura IV.1 TÉCNICA DA CONTENÇÃO: 1. O paciente deverá ser deitado sobre uma cama, maca ou colchão e 3 ou mais pessoas devem segurar os membros do paciente, estendidos (nos ossos longos; não fazer pressão sobre as articulações); 2. Retirar do paciente: cinto, pulseiras, relógios, anéis, colares, objetos nos bolsos, chaves ou outros objetos que possam machucá-lo;. 3. Desenrolar cerca de 1 metro da faixa, juntar as duas partes fazendo uma alça e colocar a mão direita pelo espaço da alça (figura IV.2); 35 Figura IV.2 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 4. Dobrar a laçada que ficou sobre a mão, colocando-a por cima da junção das faixas (figura IV.3); Figura IV.3 36 5. Firmar o laço que se formou com a mão esquerda, deixando a mão direita dentro da laçada (figura IV.4); Figura IV.4 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 6. Cada uma das 4 faixas deverá ser colocada em um dos punhos e tornozelos do paciente (por um dos 4 profissionais envolvidos), utilizando-se a mesma laçada (figura IV.5); Figura IV.5 7. Introduzir, a seguir, a ponta mais curta da faixa dentro da laçada , o que evita que ela aperte o paciente que está sendo contido, mantendo sempre a mesma tensão (pode-se verificar se a tensão está adequada introduzindo os dedos indicador e médio entre a faixa e o corpo do paciente); 8. O restante da ponta mais curta deve ser amarrado à estrutura da cama, imobilizando o paciente (o ideal é que a pessoa mais treinada faça as 4 laçadas, enquanto as outras contém o paciente); 9. Com a parte da faixa que estava enrolada envolver por 3 vezes o membro que já está imobilizado pela laçada, sempre no sentido distal-proximal de forma a envolver joelhos e cotovelos; 10. A seguir, 4 pessoas, 2 de cada lado da cama farão a contenção propriamente dita, passando as faixas (2 pessoas para superiores e 2 para as inferiores) sobre o paciente e por baixo da cama (figura IV.6); 37 Figura IV.6 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 11. As faixas que prendem os membros superiores devem vir dos ombros até o abdome e as que prendem os membros inferiores dos tornozelos até a cintura (figura IV.7); Figura IV.7 38 12. As faixas deverão ser colocadas na horizontal ou com pequenas inclinações, o que dificulta que o paciente afrouxe a contenção (figura 8); Figura IV.8 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 13. É fundamental que as faixas fiquem bem esticadas. Para tanto, sempre que uma volta for concluída puxar a faixa para dar a tensão necessária (nem muito apertada nem frouxa), firmar os membros estendidos (nos ossos longos; não fazer pressão sobre as articulações). 14. No caso de pacientes que necessitem soroterapia ou medicação endovenosa, após a imobilização dos braços com a laçada as faixas são passadas por cima de um dos braços, do ombro até a cintura, e por baixo do outro, de modo a deixar livre parte do mesmo, permitido o acesso venoso (figura IV.9). Figura IV.9 39 CUIDADOS COM O PACIENTE CONTIDO: • Nunca deixá-lo sozinho: a presença de cuidadores junto ao paciente contribui para acalmar! • Observá-lo constantemente em relação à segurança e ao conforto da contenção (observar a pressão da faixa sobre a região contida); • Manter tronco e cabeça levemente elevados; • Monitorar sinais vitais e o nível de consciência, a cada 15 minutos e anotá-los na ficha de contenção (anexo 3); • Caso a contenção seja mantida por mais de 1 hora, o paciente deverá ser reavaliado pelo médico de hora em hora (ou com maior freqüência); • Não permitir que seja alimentado ou fume neste período; • Em caso de sede, molhar o algodão e passar nos seus lábios; • Não administrar medicação por via oral neste período; • Não desfazer a contenção em situações de necessidades fisiológicas; • Desfazer a contenção imediatamente em casos de emergência clínica como dificuldades respiratórias, crises convulsivas e outras; • Ao transportar o paciente para outro local, deixá-lo contido com faixa de segurança e explicar que este procedimento é rotina. Caso a contenção física não seja suficiente para o controle da situação de crise, pode ser indicada a contenção química. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA CONTENÇÃO QUÍMICA • A contenção química só poderá ser prescrita pelo médico, em casos de extrema necessidade e como último recurso; • Deve-se evitar a sedação completa, pois esta pode dificultar a avaliação diagnóstica do paciente; • As indicações dos psicofármacos no controle dos quadros de agitação poderão ser pesquisadas no quadro a seguir. QUADRO IV.5: 40 PSICOFÁRMACOS UTILIZADOS NA CONTENÇÃO QUÍMICA: PRINCIPAIS INDICAÇÕES E INCONVENIENTES PSICOFÁRMACO POSOLOGIA INDICAÇÕES INCONVENIENTES HALOPERIDOL 5 mg, IM, cada 30 mi-Primeira escolha: Sintomas extrapiramidais; (Antipsicótico de alta nutos, até a dimi-Quadros psicóticos; Contra-indicado em intopotência) nuição dos sintomas Máximo: 6 doses. Episódios maníacos xicações por inalantes. CLORPROMAZINA 25 mg, IM Segunda escolha: Maior poder de sedação; (Antipsicótico de Quadros Risco aumentado de for- baixa potência) Psicóticos mação de abscessos e reações granulomatosas; Causa hipotensão e efeitos anticolinérgicos; Contra-indicado em intoxicações por inalantes DIAZEPAM 10 a 20 mg, VO Primeira escolha: Início da ação não é (Ansiolítico) Dose máxima, VO: 120 mg ao dia Intoxicação alcoólica aguda; Abstinência de álcool ou de drogas hipnótico sedativas; Intoxicação por cocaína, alucinógenos, inalantes, maconha e anticolinérgicos; Quadros não psicóticos; Tratamento das convulsões rápido; Efeito sedativo; Risco de depressão respiratória; Efeito paradoxal eventual; Não usar via IM em intoxicações por alucinógenos, maconha, cocaína e anticolinérgicos ENCAMINHAMENTO DO PACIENTE: • O paciente deverá ser encaminhado para o pronto atendimento; • O transporte do paciente deverá ser feito pelo serviço de ambulância, com o acompanhamento de um profissional de enfermagem e familiares ou responsável; • Os acompanhantes deverão ter documentação para efetuar internamento, se necessário. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA SUICÍDIO: IDEAÇÃO SUICIDA O paciente poderá apresentar idéias de suicídio, sem ter necessariamente o risco de cometê-lo. Caso haja verbalização acerca desta intenção, abordar da seguinte maneira: • Evitar críticas irônicas, julgamentos ou demonstração de irritabilidade; • Investigar a intenção ou ideação suicida; • Fazer perguntas abrangentes e não diretivas; • Incentivar o paciente a falar livremente, mostrando-se solidário e disposto a ouvi-lo; • Abordar gradualmente a ideação suicida. Não é verdade que falar sobre suicídio pode vir a desencadeá-lo; • Auxiliar o paciente a compreender melhor a intenção da tentativa; • Auxiliar o paciente a elaborar outras alternativas para resolver esta situação; • Oferecer apoio realista evitando apoio superficial (tudo vai melhorar, seu esposo voltará...); • Pesquisar as razões que o paciente tem para viver, e enfatizar estes aspectos; • Orientar os familiares sobre o problema do paciente e solicitar sua ajuda, alertando sobre riscos e necessidades intensivas de proteção; • Após esta abordagem de apoio encaminhar para o pronto atendimento. 41 NÃO EXISTE EVIDÊNCIA DE QUE A DISCUSSÃO SOBRE SUICÍDIO PODE VIR A DESENCADEÁ-LO. RISCO DE SUICÍDIO Ao avaliar um paciente com ideação suicida deve-se considerar os seguintes fatores, que indicam risco de suicídio: • Tentativas anteriores; • Ideação suicida com plano de suicídio; • Sexo masculino; • Dificuldade de controle com impulsos agressivos; • Acesso a armas ou outros instrumentos como cordas, substâncias tóxicas; • Uso de álcool ou drogas; • Depressão grave ou quadro psicótico; • História de suicídio na família. Caso seja identificado o risco de suicídio o paciente deverá ser encaminhado imediatamente para o pronto-atendimento. É importante garantir a sua chegada para que não haja tentativas durante o trajeto. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA TENTATIVA DE SUICÍDIO: • Encaminhar o paciente para avaliação clínica de urgência; • Não havendo necessidade de intervenção clínica, observar o ítem ideação e risco de suicídio. 42 D. FAMÍLIA A família é o elo fundamental entre o ponto de atenção em saúde e o doente. Ela deve ajudá-lo a sentir-se responsável pelo tratamento. Familiares e profissionais devem agir em conjunto, procurando melhorar a qualidade de vida do portador de transtorno mental. Para tanto, ela deve ser: • Encaminhada para reuniões educativas e de apoio na US, grupos na comunidade ou atendimento ambulatorial; Orientada quanto: • À doença; • Seu tratamento; • Efeitos colaterais da medicação; • Importância da família, especialmente no que se refere a: • Seguir as orientações dos profissionais de saúde; • Incentivar a continuidade do tratamento; • Avaliar os resultados, e informar à US a ocorrência de risco ou ideação suicida, agitação excessiva, agressividade, efeitos colaterais da medicação, apatia e outros; • Comunicar a US nos casos de falta às consultas programadas ou recusa a fazer uso da medicação; • Realizar acompanhamento integral e permanente do paciente quanto à administração da medicação, verificando seu uso correto. CUIDADO CONTÍNUO E. Nos transtornos mentais, além do evento agudo, deverá ser priorizado o cuidado contínuo nos momentos silenciosos da doença. Na maioria das vezes, a manutenção deste cuidado poderá evitar eventos agudos, como recaídas e reagudizações. O detalhamento deste cuidado está descrito nos protocolos específicos de cada patologia. 43 4.1. DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS • O alcoolismo representa, tipicamente, uma seqüência progressiva de eventos, que podem se desenvolver através de várias fases sucessivas do ciclo de vida. O beber pode começar na infância ou na adolescência e tornar-se disfuncional em fases posteriores da vida; • 15 a 30 % da população adulta, em algum momento da vida, tem problemas associados ao uso de álcool e 5 a 15% são dependentes; • Com relação às outras drogas (exceto álcool e tabaco), o uso vida entre estudantes de 1o e 2o graus, em 10 capitais brasileiras, variou de 18 a 23%; • Cada dependente químico afeta diretamente a vida de pelo menos 4 ou 5 pessoas; • No caso de mulheres grávidas ou que estão amamentando, o abuso do álcool pode provocar malformações no bebê. A. ATIVIDADES PROGRAMADAS AVALIAÇÃO CLÍNICA: • Como a prevalência do alcoolismo é alta, todo indivíduo que procura a unidade básica de saúde deve ser investigado quanto ao alcoolismo. No entanto, não é raro identificar situações clínicas, a partir da avaliação clínica ou de resultados de exames complementares, sem considerar o papel da bebida alcoólica no seu desenvolvimento. Mesmo que valorizado como fator etiológico ou de descompensação, usualmente nenhuma investigação adicional é realizada para esclarecer o padrão de consumo, estabelecer um diagnóstico e planejar uma intervenção adequada. • Cerca de 70% dos alcoolistas tem recidivas um ano após o início do tratamento e 90% após 5 anos. Porém, os resultados são bem melhores quando o tratamento é instituído nos estágios iniciais do alcoolismo. O mesmo se dá no caso do tratamento de outras adições. • Diversos trabalhos tem demonstrado que a precocidade na identificação do problema e conseqüente orientação pelas equipes de saúde, reduz em até 40% o consumo de álcool desta clientela. 43 4.1. DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS • O alcoolismo representa, tipicamente, uma seqüência progressiva de eventos, que podem se desenvolver através de várias fases sucessivas do ciclo de vida. O beber pode começar na infância ou na adolescência e tornar-se disfuncional em fases posteriores da vida; • 15 a 30 % da população adulta, em algum momento da vida, tem problemas associados ao uso de álcool e 5 a 15% são dependentes; • Com relação às outras drogas (exceto álcool e tabaco), o uso vida entre estudantes de 1o e 2o graus, em 10 capitais brasileiras, variou de 18 a 23%; • Cada dependente químico afeta diretamente a vida de pelo menos 4 ou 5 pessoas; • No caso de mulheres grávidas ou que estão amamentando, o abuso do álcool pode provocar malformações no bebê. A. ATIVIDADES PROGRAMADAS AVALIAÇÃO CLÍNICA: • Como a prevalência do alcoolismo é alta, todo indivíduo que procura a unidade básica de saúde deve ser investigado quanto ao alcoolismo. No entanto, não é raro identificar situações clínicas, a partir da avaliação clínica ou de resultados de exames complementares, sem considerar o papel da bebida alcoólica no seu desenvolvimento. Mesmo que valorizado como fator etiológico ou de descompensação, usualmente nenhuma investigação adicional é realizada para esclarecer o padrão de consumo, estabelecer um diagnóstico e planejar uma intervenção adequada. • Cerca de 70% dos alcoolistas tem recidivas um ano após o início do tratamento e 90% após 5 anos. Porém, os resultados são bem melhores quando o tratamento é instituído nos estágios iniciais do alcoolismo. O mesmo se dá no caso do tratamento de outras adições. • Diversos trabalhos tem demonstrado que a precocidade na identificação do problema e conseqüente orientação pelas equipes de saúde, reduz em até 40% o consumo de álcool desta clientela. 44 44 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA As seguintes queixas são altamente sugestivas de alcoolismo: • Aversão a doces; • Náuseas e/ou vômitos matinais; • Diarréias freqüentes; • Dor abdominal; • Hemorragia digestiva; • Inapetência; • Pirose; • Ansiedade, irritabilidade e excitabilidade; • Insônia; • Confusão e desorientação; • Depressão; • Dificuldades de aprendizagem, de memória e de concentração; • Amnésia; • Convulsões; • Dores musculares e/ou fraqueza, principalmente nas pernas; • Polineurite; • Impotência sexual; • Palpitações; • Infecções respiratórias recorrentes (tuberculose, pneumonia apical por Klebsiella); • Escoriações, contusões e fraturas repetidas; • Acidentes de trânsito e de trabalho; • Faltas ao trabalho, principalmente nas segundas feiras e após feriados; • Desemprego prolongado; • Problemas familiares e sociais, incluindo espancamentos. E, ao exame físico: • Hálito alcoólico; • Face avermelhada; • Aranhas vasculares; • Edemas; • Emagrecimento; • Hepatomegalia, cirrose; • Hipertensão arterial; • Icterícia; • Pelagra. As seguintes alterações laboratoriais também podem sugerir alcoolismo: • Anemia com aumento do volume corpuscular médio pela deficiência do ácido fólico (ou ferropriva por baixa ingesta ou por perdas) • Trombocitopenia; • Ácido úrico elevado; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Bilirrubinas elevadas; • Colesterol total elevado; • Gamaglutamil transferase elevada. • Triglicerídios elevados; • Proteínas séricas diminuidas; • Hipoglicemia; • Alcoolemia superior a 150 mg/100ml. ABORDAGEM: A seguir apresentamos algumas orientações sobre como e o que perguntar, para confirmar a suspeita de alcoolismo: • O profissional deve avaliar o momento que lhe pareça mais apropriado para fazer as perguntas necessárias. • Abordar o uso de álcool no contexto de outros hábitos alimentares, evita a estigmatização e permite associações como, por exemplo: • Alguma vez já lhe foi indicado por algum médico diminuir ou suspender o sal da dieta? • O sal já lhe prejudicou a saúde? • Qual a bebida de sua preferência? • Para investigar a quantidade utilizada, deve-se exagerar na pergunta, na tentativa de evitar que o usuário afirme usar uma quantidade muito inferior à que realmente utiliza: • Você bebe todos os dias? • Quantas garrafas por dia? 45 PODE-SE UTILIZAR QUESTIONÁRIOS ESTRUTURADOS COMO O CAGE : C A G E – Alguma vez você sentiu que deveria diminuir (cut down) a quantidade de bebida, ou parar de beber? – As pessoas o/a aborrecem (annoyed) porque criticam o seu modo de beber? – Você se sente culpado/a (guilty) chateado/a consigo mesmo/a pela maneira como costuma beber? – Você costuma beber pela manhã ao acordar (eye opener) para diminuir o nervosismo ou a ressaca? • O CAGE é considerado positivo, sugerindo alcoolismo, quando há duas respostas afirmativas. Sua especificidade é de 76%; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • CAGE positivo e gamaglutamil transferase aumentada = 82% de especificidade; • Associação de macrocitose a estes dois fatores = 90% de especificidade. Classificação quanto ao consumo do álcool: • Bebedor moderado: aquele que utiliza bebida alcoólica sem dependência e sem problemas decorrentes do seu uso; • Bebedor problema: aquele que apresenta na sua história qualquer problema de ordem física, psíquica e/ ou social em decorrência do consumo do álcool; • Dependente de álcool: aquele que apresenta estado físico ou psíquico caracterizado por reações que incluem ingestão excessiva de álcool de modo contínuo ou periódico, para experimentar seus efeitos psíquicos e/ou evitar o desconforto de sua falta. 46 CONSUMO DE RISCO PARA DEPENDÊNCIA: Baixo Risco Médio Risco Alto Risco Homens 3 unidades/dia Até 8 unidades/dia Acima de 8 unidades/diaMulheres 2 unidades/dia (unidade = 300ml de cerveja, 100 ml de vinho ou 35 ml de destilados) DIAGNÓSTICO: O diagnóstico de dependência de álcool baseia-se, de acordo com o CID –10, na presença de três ou mais dos seguintes requisitos , em algum momento durante os últimos 12 meses: • Forte desejo ou senso de compulsão para consumir bebidas alcoólicas; • Dificuldades em controlar o comportamento de beber em termos de seu início, término ou níveis de consumo; • Estado de abstinência fisiológico quando o uso de bebida alcoólica, ou de uma substância intimamente relacionada, cessou ou foi reduzido, ou o seu uso com a intenção de aliviar sintomas de abstinência; • Evidência de tolerância, sendo necessárias doses crescentes de bebida para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas; • Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso de bebida alcoólica, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou consumir bebida ou para se recuperar de seus efeitos; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Persistência no uso da bebida, a despeito de evidência clara para o usuário de conseqüências sabidamente nocivas, tais como: danos hepáticos, estado de humor depressivo ou comprometimento do funcionamento cognitivo. OUTRAS DROGAS O quadro seguinte relata os quadros de intoxicação e de abstinência desencadeados pelo uso das principais drogas utilizadas em nosso meio. QUADRO IV. 6: SUBSTÂNCIA INTOXICAÇÃO ABSTINÊNCIA Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas COCAÍNA Arritmias cardíacas, Agitação, Agitação ou retardo CRACK Calafrios, Crises convulsivas, Delirium, Freqüencia cardíaca ou , Midríase, Pressão arterial ou , Sudorese. Com o aumento da dose podem ocorrer: paralisia da atividade motora, hipo ou arreflexia, estupor e coma, óbito. . início das manifestações, geralmente, minutos após a administração da droga e duração de até uma hora. agressividade, alterações na sociabilidade, Desinibição, Euforia, Hipervigilância, manifestações psicóticas Prejuízo do julgamento e do funcionamento ocupacional, psicomotor Avidez pela droga Distúrbios do sono Fadiga Humor disfórico Ideação e comportamento suicída Ideação paranóide Irritabilidade tende a se resolver em 1 ou 2 semanas CANNABIS Coordenação Ansiedade Náuseas e Distúrbios do sono (Maconha) motora Hiperemia conjuntival Taquicardia Boca seca . início das manifestações, imediato ou gradual, logo após o fumo e duração de 2 a 4 horas. Aumento do apetite Capacidade de julgamento prejudicada Disforia Distorsões perceptivas Euforia Grandiosidade Retraimento social Risos vômitos Irritabilidade 47 48 48 SUBSTÂNCIA INTOXICAÇÃO ABSTINÊNCIA Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas INALANTES Coma Confusão Fala arrastada Estupor Fraqueza muscular Hiperemia conjuntival Hiporreflexia Letargia Marcha vacilante Tremores Visão turva . início das manifestações 5 minutos após a inalação e duração de até 2 horas Agressividade Comportamento impulsivo Desinibição Euforia Excitação Ilusões e alucinações visuais Risos Sensação de leveza Cefaléia Náuseas e vômitos Tremores . Com a retirada abrupta: desorientação e convulsões Ansiedade Irritabilidade Insônia . Com a retirada abrupta: delírios e alucinações ALUCINÓ-Coordenação Alucinações Convulsões Agitação GENOS motora Midríase Sudorese Taquicardia Tremores Visão borrada . início das manifestações 1 hora após a ingestão, e duração de 8 a 12 horas Ansiedade e pânico Delírios Depressão Despersonalização (sentimento de separação ou estranhamento de si mesmo) Desrealização (sentimento de que o mundo externo é estranho ou irreal) Fusão dos sentidos (os sons adquirem formas) Ideação paranóideI lusões Julgamento comprometido Medo de enlouquecer Taquicardia Tremores Alucinações Recorrência espontânea dos sintomas de intoxicação, sem o uso da droga (o teste de realidade permanece intacto) Delírios ANTICOLI-Boca seca Agitação psicomotora NÉRGICOS Hipertermia severa Midríase Motilidade intestinal Retensão urinária Taquicardia . início das manifestações após ingestão de altas doses, com duração de até 3 dias Alucinações Confusão delírios SAÚDE MENTAL EM CURITIBA SUBSTÂNCIA INTOXICAÇÃO ABSTINÊNCIA Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas Alterações clínicas Alterações Psiquiátricas ANFETA-Calafrios Agitação Agitação MINAS Cefaléia Convulsões Delirium Hipertensão arterial Midríase Náuseas e vômitos Sudorese Taquicardia Pode evoluir para óbito . início das manifestações após ingestão de altas doses, e duração de alguns dias Agressividade Ansiedade Euforia Grandiosidade Hipervigilância Ansiedade Cansaço extremo Depressão Disforia Distúrbios do sono Irritabilidade B. CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO DO ALCOOLISTA NA US: 49 • Alcoolistas considerados leves e moderados (vide quadro), com relação à síndrome de abstinência alcoólica (vide quadro abaixo). A desintoxicação somente será realizada na US depois que tiverem sido afastadas as situações que caracterizam urgência clínica e/ou psiquiátrica; • Todos os alcoolistas, bem como os dependentes de outras drogas, inscritos no programa serão acompanhados na US após a estabilização do seu quadro, com foco na prevenção de recaída. GRAVIDADE DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: ESTADO NIVEL I - LEVE OU MODERADA NÍVEL II – GRAVE Físico Leve agitação psicomotora, tremores finos de extremidades, sudorese facial discreta, relata episódios de cefaléia, náuseas sem vômitos, sensibilidade visual e sem alteração da sensibilidade tátil e auditiva. Agitação psicomotora intensa, tremores generalizados, sudorese profusa, com cefaléia, náuseas com vômitos, hipersensibilidade visual, convulsões recentes ou descritas a partir da história pregressa, Delirium tremens1 . SAÚDE MENTAL EM CURITIBA GRAVIDADE DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: ESTADO NIVEL I - LEVE OU MODERADA NÍVEL II – GRAVE Psicológico O contato com o profissional de saúde está preservado. Encontra-se orientado temporo-espacialmente, o juízo crítico da realidade está mantido, apresenta uma ansiedade leve, não relata qualquer episódio de violência auto ou heterodirigida. O contato com o profissional de saúde está alterado, encontra-se desorientado no tempo e no espaço, o juízo crítico da realidade está comprometido, apresenta uma ansiedade intensa com episódio de violência auto ou hetero dirigida, apresenta- se delirante, com o pensamento descontínuo rápido e de conteúdo desagradável, observam-se alucinações táteis e/ou auditivas. Social Refere estar morando com familiares ou amigos, com os quais se relaciona regular ou adequadamente; atividade produtiva moderada mesmo que atualmente esteja desempregado, rede social ativa. Refere estar morando só ou com familiares ou amigos, mas este relacionamento está ruim, tem estado desempregado ou impossibilitado de desenvolver atividade produtiva, a rede social é inexistente ou apenas se restringe ao ritual de uso da substância. Comorbidades Sem complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas detectadas ao exame geral. Com complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas detectadas ao exame geral. GRAVIDADE DA SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA: ESTADO NIVEL I - LEVE OU MODERADA NÍVEL II – GRAVE Psicológico O contato com o profissional de saúde está preservado. Encontra-se orientado temporo-espacialmente, o juízo crítico da realidade está mantido, apresenta uma ansiedade leve, não relata qualquer episódio de violência auto ou heterodirigida. O contato com o profissional de saúde está alterado, encontra-se desorientado no tempo e no espaço, o juízo crítico da realidade está comprometido, apresenta uma ansiedade intensa com episódio de violência auto ou hetero dirigida, apresenta- se delirante, com o pensamento descontínuo rápido e de conteúdo desagradável, observam-se alucinações táteis e/ou auditivas. Social Refere estar morando com familiares ou amigos, com os quais se relaciona regular ou adequadamente; atividade produtiva moderada mesmo que atualmente esteja desempregado, rede social ativa. Refere estar morando só ou com familiares ou amigos, mas este relacionamento está ruim, tem estado desempregado ou impossibilitado de desenvolver atividade produtiva, a rede social é inexistente ou apenas se restringe ao ritual de uso da substância. Comorbidades Sem complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas detectadas ao exame geral. Com complicações e/ou comorbidades clínicas e/ou psiquiátricas detectadas ao exame geral. 50 1Delirium tremens – psicose orgânica aguda que constitui emergência médica e se inicia, geralmente, após 24 a 72 horas de abstinência do álcool. Inicialmente se observam inquietude, agitação psicomotora e tremores. Na evolução ocorrem desorientação, obnubilação, alucinações visuais, taquicardia, hiper ou hipotensão arterial, sudorese profusa e hipo ou hipertermia. C. DESINTOXICAÇÃO DO ALCOOLISTA NA UNIDADE DE SAÚDE OBJETIVOS DO TRATAMENTO: • Alívio dos sintomas; • Prevenção do agravamento do quadro, de convulsões e de delirium; • Vinculação e engajamento do paciente no tratamento da dependência propriamente dita; • Prevenção de síndromes de abstinência mais graves no futuro. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA DESINTOXICAÇÃO PROPRIAMENTE DITA: • Consiste na suspensão do uso da bebida; • O paciente deve vir à US, sem ingerir álcool, no início da semana para iniciar a desintoxicação, sendo reavaliado diariamente nos 5 dias da desintoxicação; • No início do tratamento, deve ser feito um contrato com o paciente, através do formulário de parceria (anexo I), corresponsabilizando-o pelo enfrentamento da doença; • É fundamental que haja apoio de um membro da família ou uma pessoa de confiança do indivíduo; • Nas primeiras semanas, o desconforto experimentado pelo paciente pode ser intenso, assim como o desejo de voltar a consumir álcool; • Durante essa etapa do tratamento, o paciente pode apresentar síndrome de abstinência, com gravidade variável; • Sempre que houver lapsos ou recaídas3, todo o processo deverá ser reiniciado. MEDIDAS GERAIS • Quanto à atitude dos profissionais na abordagem dos pacientes e familiares, vale a pena ressaltar que é imprescindível: • Acolher e escutar com interesse; • Procurar estar disponível para atender as solicitações no momento oportuno; • Respeitar o paciente, os familiares e suas opções; • Evitar atitudes preconceituosas, punitivas ou de repreensão; • Não confundir compreensão com conivência; • Falar de maneira clara e objetiva, certificando-se de que foi compreendido; • Tranqüilizar o paciente e os familiares; • Resistir ao sentimento de frustração e impotência. Podem ocorrer recaídas por duas, três, ou mais vezes e é importante persistir e acreditar. 51 3 lapso é entendido como um “deslize”, onde o indivíduo entra em contato com a bebida sem caracterizar uma recaída total. Deve ser encarado como uma oportunidade de apreendizagem pois permite que sejam avaliados os fatores envolvidos na sua ocorrência para que sejam evitados, ou solucionados de forma mais saudável, futuramente. Recaída é o retorno ao consumo de álcool nos mesmos padrões anteriores ao tratamento. Freqüentemente na recaída o consumo é, na verdade maior que o anterior. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Proteger o paciente de quedas e ferimentos acidentais; • Controlar sinais vitais, bem como evolução dos escores da escala de avaliação de sintomas de abstinência - CIWA-Ar (Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol revised). • Solicitar os seguintes exames laboratoriais (caso ainda não tenham sido colhidos): • Hemograma; • Gamaglutamiltransferase (É um indicador mais específico e de maior sensibilidade de doença hepática em relação à dosagem de transaminases e fosfatase alcalina, sendo bastante útil no acompanhamento do indivíduo); • Colesterol total; • Triglicerídeos. 52 ESCALA CIWA-AR - AVALIAÇÃO DE SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA PONTUAÇÃO 0 1 2 3 4 5 6 7 Náuseas e vômitos Sem Náusea discreta Náusea intermitente e espasmo gástrico Náusea constante espasmo gástrico vômito severo Tremor (braços estendidos e dedos afastados) Sem Perceptível ao tocar os dedos Moderado Perceptível com braços não estendidos Sudorese paroxística Sem Discreta umidade palmar Sudorese óbvia na região da fronte Abundante Ansiedade Sem Leve Moderada (ansioso ou defendido) Estado equivalente a pânico agudo Agitação Atividade normal Atividade u pouco maior Agitação e inquietude moderadas Move-se constantemente, ataques verbais ou violência Distúrbios táteis* Ausentes Muito leves Leves Moderados Alucinações pouco severas Alucinações severas Alucinações muito severas Alucinações contínuas Distúrbios auditivos** Ausentes Nítidos e assusta muito pouco Nítidos e assusta um pouco Nítidos e assusta moderadamente Alucinações pouco severas Alucinações severas Alucinações muito severas Alucinações contínuas SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ESCALA CIWA-AR - AVALIAÇÃO DE SINTOMAS DE ABSTINÊNCIA PONTUAÇÃO 0 1 2 3 4 5 6 7 Distúrbios visuais*** Ausentes Sensibilidademuito leve Sensibilidade Leve Sensibilidade moderada Alucinações pouco severas Alucinações severas Alucinações muito severas Alucinações contínuas Cefaléia (sensação de cabeça cheia) Ausente Muito leve Leve Moderada Pouco severa Severa Muito severa Extremamente severa Orientação e embotamento do sensório **** Orientado Faz adições seriadas Não faz adições seriadas ou incerto sobre a data Desorientado para a data por não mais que dois dias Desorientado para a data por mais que dois dias Desorientado para lugar e/ou pessoa Total de pontos - máximo de 67 * Distúrbios táteis – sente prurido, formigamento, queimação, amortecimento, sensação de insetos andando sob ou sobre a pele. ** Distúrbios auditivos – está mais consciente dos sons ao seu redor; os sons são nítidos; deixam-lhe assustado; ouve algo que lhe incomoda; ouve coisas que sabe não estarem lá. *** Distúrbios visuais – a luz parece ser mais brilhante; as cores parecem diferentes; a luz fere os olhos; vê algo que lhe incomoda; vê coisas que sabe não estarem lá. **** Orientação e embotamento do sensório - sabe que dia é hoje; onde está e quem é. HIDRATAÇÃO: A reidratação oral permite uma boa eliminação da droga pela urina, com menor risco de desencadeamento de síndrome de abstinência, encefalopatia de Wernicke e hiperhidratação, em relação à hidratação parenteral: • Recomendar o aumento da ingesta hídrica diária para 3.000 ml em média prescrevendo, inclusive, solução de reidratação oral. MEDICAÇÃO: Tiamina (Vitamina B1) • Deve ser administrada a todos os pacientes no início do tratamento pois previne a encefalopatia de Wernicke e a Síndrome de Wernicke-Korsakoff. • Dose: 300 mg/dia, VO (1 drágea de 300 mg ao dia), por 30 dias. Caso o paciente apresente vômitos, pode-se usar tiamina injetável (100 mg, IM, 3 X ao dia). Ácido fólico • Indicado nos casos de anemia megaloblástica. • Dose: 15 mg/dia , VO (1 comp. 5mg, 3X ao dia), num período de 30 dias. 53 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Diazepam • Utilizado para o controle dos sintomas de abstinência, prevenindo ou controlando o delirium; • A dose de diazepam a ser administrada por via oral, nos 3 primeiros dias, deve ser baseada na quantificação da síndrome de abstinência, de acordo com a escala CIWA-Ar, conforme o quadro abaixo. Não havendo controle da sintomatologia, oferecer mais medicação até dose máxima diária de 70 mg. Solicitar o retorno periódico do paciente à US para reavaliação. • Dose de manutenção: A partir do 4° dia, reduzir o diazepam, progressivamente, de forma que seja retirado completamente num prazo máximo de 3 semanas para evitar dependência. Recomenda-se reduzir 5 mg cada 3 dias. 54 DOSE DE BENZODIAZEPÍNICO CONFORME A AVALIAÇÃO CLÍNICA – ESCALA CIWA-AR ESCALA CIWA-Ar CONSIDERAÇÕES DOSE DE DIAZEPAM (disponível em comprimidos de 5 e 10 mg) < 10 Terapia suportiva não farmacológica e monitoração contínua 10 e < 15 Há benefício sintomático com a medicação além da redução do risco de complicações maiores 1° dia – 5 mg 4 x ao dia 2° e 3° dias – 5 mg 2 x ao dia > 15 Há risco significativo de complicações maiores se não for tratado 1° dia – 10 mg de 4 x ao dia 2° e 3° dias – 5 mg 2 x ao dia Sintomáticos: Antieméticos, antiácidos, analgésicos e outros deverão ser prescritos de acordo com a sintomatologia apresentada. Observação: Considerações sobre outros agentes • Carbamazepina – embora seja eficaz para sintomas de abstinência leves, moderados e possa ser utilizada em situações especiais, como abstinência para benzodiazepínicos, agitação psicomotora e irritabilidade extrema (neste caso a continuidade da desintoxicação não deve ser realizada na US), é importante lembrar que a carbamazepina não previne o delirium. A dose preconizada é de 200 mg, VO, 2 x ao dia (se necessário aumentar até um máximo de 1200 mg/dia). • ß-bloqueadores – podem ser associados ao benzodiazepínico para reduzir o quadro de abstinência. Como reduzem seletivamente estas manifestações, podem mascarar o desenvolvimento de sintomas significativos, interferindo nos escores da tabela CIWA-Ar e aumentar o risco do delirium. Não previnem convulsões. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Clonidina – é útil na abstinência para opiáceos e na redução de sintomas leves e moderados de abstinência de alcoolismo. Estudos a respeito da prevenção de delirium tremens e de convulsões são inconclusivos; • Antipsicóticos (neurolépticos) – tem alguma eficácia no controle dos sintomas, mas não devem ser usados como monoterapia pois não reduzem o risco de delirium tremens e aumentam o de convulsões. O haloperidol (5 mg, IM), pode ser administrado em indivíduos com agitação psicomotora importante e/ou na presença de alucinações (nestes casos a continuidade da desintoxicação não deve ser realizada na US). Clorpromazina e levomepromazina, estão contra- indicados, por induzirem à sedação e perda de controle do caso; • Magnésio – administração parenteral de rotina não é recomendada; • Dissulfiram – este fármaco é um aversivo e, embora possa ser utilizado no tratamento do alcoolista em situações especiais, é indispensável que o paciente tenha conhecimento de que ele está sendo usado, bem como dos seus efeitos colaterais. POPULAÇÕES ESPECIAIS: • Não há evidência de que as recomendações devam mudar para adolescentes e idosos, exceto pela eventual necessidade de doses mais baixas para estes últimos; • Para pacientes com história de convulsões, uma opção razoável é prescrever a medicação independente da severidade da síndrome de abstinência. Monitorar o paciente e fornecer tratamento guiado pela clínica é outra opção; • Nas gestantes, os benzodiazepínicos devem ser administrados em doses mínimas necessárias para prevenção de complicações maiores da síndrome de abstinência, devido aos seus efeitos adversos sobre os fetos, embora estes sejam menos importantes que o risco da síndrome Alcoólica fetal; • Nas crianças e adolescentes é mais prevalente o abuso de substâncias psicoativas, porém, ao contrário dos adultos, dificilmente apresentam sintomas físicos de dependência, como tolerância e sintomas de abstinência. Adolescentes que chegam aos centros de tratamento diferem dos adultos quanto ao tempo e intensidade do uso de substâncias, bem como dos tipos de prejuízos causados pelo consumo. Com menos tempo de uso, tanto os problemas físicos e psicológicos, quanto a deterioração das funções sociais são menores do que nos adultos. No entanto, sabe-se que 89% dos adolescentes que apresentam problemas devido ao uso de substâncias têm ao menos uma co-morbidade psiquiátrica associada, sendo os transtornos de humor e de conduta, os mais freqüentes. O tratamento adequado da patologia primária melhora o prognóstico/sucesso do tratamento do uso/abuso da substância; 55 56 56 Objetiva-se também dar preferência ao tratamento extra-hospitalar e comunitário para que o jovem não sofra a exclusão familiar e social e o estigma que a internação proporciona; O objetivo primário do tratamento é a criação de um vínculo de confiança com o jovem, que permita o início de uma intervenção terapêutica. Lembrar que o adolescente devido a características da fase em que se encontra, usa a droga para auto-afirmação e necessita de um tempo para substituí-la por alternativas saudáveis. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA D. PREVENÇÃO DE RECAÍDAS O atendimento ao alcoolista não se resume à desintoxicação. Deve-se iniciar, precocemente, um processo de prevenção, sendo indispensável agendar revisões regulares para acompanhar a evolução do paciente, procurando reforçar suas decisões e oferecer apoio nas suas dificuldades. Esta disponibilidade da equipe é fundamental para o sucesso do tratamento. O enfrentamento do alcoolismo envolve 3 fases distintas. É necessário conhecelas e saber quais são as orientações importantes em cada uma delas, para o alcoolista e para sua família: 1. 1. Pré-sobriedade – é importante lidar com a negação, ajudar o bebedor a atingir a abstinência e orientar a família a comprometer-se e a reverter os padrões de super e subresponsabilidade. Se o alcoolista não parar de beber e abandonar o tratamento, manter o trabalho com os familiares; 2. 2. Ajustamento à sobriedade – estabilizar a família em torno da sobriedade antecipa ressentimentos, expectativas frustradas de sobriedade e mudança de papéis devido à sobriedade. 3. 3. Manutenção da sobriedade – estimular maior flexibilidade de cada membro da família, com relação ao seu papel, e a expressão de sentimentos ou comportamentos que antes só eram possíveis através do beber. A seguir, são fornecidas algumas orientações para auxiliar as equipes de saúde na abordagem do paciente e das situações do cotidiano que podem interferir no tratamento. O acompanhamento periódico do paciente pela US facilita a construção de uma abordagem motivacional para a prevenção de recaídas. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUANTO À EQUIPE DE SAÚDE: • Lembrar que a capacidade cognitiva do alcoolista está comprometida, com acentuado bloqueio do pensamento abstrato. É importante que todos – paciente e familiares – possam compreender as informações e que sejam oferecidas opções de atividades concretas que fixem a mensagem que se pretende passar; • Mostrar ao paciente que não há conivência com a dependência, mas não tratá-lo de forma agressiva quando ocorrer um lapso ou recaída. Uma relação de respeito e confiança mútuas permite que o paciente não se envergonhe do seu comportamento, procurando auxílio tão logo perceba a recaída. Evita-se, assim, a cronificação, através da abordagem precoce e eficaz; • O lapso deve ser encarado como uma oportunidade de aprendizagem, pois permite que sejam avaliados os fatores envolvidos na sua ocorrência para que sejam evitados, ou solucionados de maneira mais saudável, futuramente; • Resistir ao sentimento de frustração e impotência. Podem ocorrer 2, 3 ou mais recaídas e é importante persistir e acreditar. QUANTO AOS ALCOOLISTAS: • Reconhecer pessoas significativas – família, US, comunidade – que podem aconselhar e apoiar nos momentos de incerteza e ameaça ao sucesso do tratamento, bem como permitir a detecção precoce de eventuais recaídas; • O paciente, juntamente com sua família e com a equipe, deve escolher os recursos mais adequados para auxiliar na prevenção de lapsos e recaídas. Estes recursos incluem: • Grupos de auto-ajuda como o Alcooólicos Anônimos (AA); • Grupos de mútua ajuda na comunidade ou US; • Ambulatórios. • Deixar claro que o alcoolismo não é uma falha de caráter, nem resultado exclusivo de problemas familiares, mas sim uma doença; • Trabalhar os pensamentos mágicos e as atitudes de desafio: após um período de abstinência é comum que o alcoolista passe a questionar o risco e a capacidade de lidar com o problema do álcool. As recaídas são freqüentes nessa fase pois o paciente desafia seus limites, duvidando da existência da dependência; • Dialogar sobre os efeitos do álcool em uma pessoa e em como isto pode afetar sua vida. Auxiliar na percepção dos danos que ele já enfrenta ou poderá enfrentar no âmbito físico, psíquico e social; • Monitorar, diariamente, o consumo de álcool. Assim o paciente avalia seus resultados e reconhece o alcance dos objetivos propostos; 57 58 58 • O paciente deve ser auxiliado no sentido de não ver suas dificuldades como um problema único e complexo, mas como um conjunto de pequenas dificuldades, o que faz com que cada uma possa ser enfrentada. O paciente que tem metas possíveis e que consegue atingi-las, passo a passo, sente-se motivado a persistir; • O consumo de álcool está associado a situações de vida que o indivíduo experimenta em seu dia a dia, e resulta da busca de prazer imediato, com o alívio de tensões e culpas. Por isto, é importante identificar e prevenir situações de risco: • Avaliar as situações que desencadearam lapsos, recaídas ou intoxicação alcoólica e suas conseqüências, construindo estratégias para reconhecê-las e evitá-las; • Modificar, gradativamente, hábitos que favorecem o consumo de álcool como, por exemplo, encontrar amigos em locais de venda e consumo de bebidas alcoólicas; • Persistir no tratamento mesmo que outros alcoolistas na família não queiram se tratar ou sofram recaídas. Essas pessoas podem se sensibilizar a procurar o tratamento também. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA E. ORIENTAÇÃO A FAMILIARES Um dos mais importantes aspectos a ser considerado na abordagem da família e do paciente é que ambos vêm à US motivados por pressões e expectativas diferentes. Estas podem ser desde a procura de uma solução mágica para a aflição momentânea causada por complicações físicas, emocionais, sociais ou jurídicas, até o desejo de receber auxílio, orientação e/ou tratamento. O alcoolismo envolve tão intensamente a família quanto o paciente. Conviver com alguém que tenha esta doença pode ser devastador e a maioria dos familiares necessita de ajuda para suportar esta situação. Na dinâmica de funcionamento familiar ocorre a inversão de papéis. O cônjuge ou um dos filhos assume papéis próprios do alcoolista como, por exemplo, a manutenção financeira da casa ou a administração das tarefas diárias. É comum que se experimente sentimentos como a negação da dependência “ ele pára quando quer” - e com o agravamento da situação surge a raiva, a vergonha e, conseqüentemente, a rejeição e o isolamento da vida familiar, chegando à segregação pelo internamento. Experimenta-se, então, a culpa e a compaixão – ”não deixa faltar nada em casa, quando não bebe é bom”- e a tendência é interromper o tratamento. Ocorrendo recaída ou lapso, surge novamente a raiva, depois a culpa e a pena, e os comportamentos se repetem. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Avaliar, e ajudar a família a compreender, como o alcoolismo pode ter sido uma resposta a transições ou estresses específicos do ciclo de vida. Com informações e orientações adequadas sobre a natureza do alcoolismo, seus efeitos e passos concretos a serem dados por cada membro da família, esta aprende a se relacionar de maneira mais saudável com o alcoolista, evitando a rigidez, a alienação e o isolamento. Todos precisam buscar vivenciar suas emoções que foram “apagadas”. A família resgata, assim, a confiança nela, no familiar e nas outras pessoas. O alcoolismo tem um efeito intergeracional e afeta todo o sistema familiar. Os filhos que crescem em lares alcoolistas tem necessidades especiais, mesmo quando adultos. O objetivo principal é proporcionar espaços onde todos sejam estimulados a falar, sentir e confiar novamente. Ao conseguirem fazer estas coisas, seus relacionamentos futuros, bem como os atuais, serão profunda e positivamente afetados, independentemente do alcoolista continuar ou não a beber. PARA AJUDAR FAMILIARES: • Não esperar que o problema se agrave para tomar alguma providência; • Privilegiar o diálogo: as pessoas devem estar interessadas em compartilhar as dificuldades e anseios de seu familiar, trocando experiências, e principalmente, sabendo ouvir; • Usar de franqueza: é fundamental que a família possa se posicionar com franqueza e segurança diante da pessoa com problema, exigindo dela o mesmo. Se algo está preocupando-o, porque não discutir diretamente com o interessado? • Participar da vida de seu familiar: acompanhá-lo em passeios, esportes e outras atividades, com sincero interesse; • Mostrar ao alcoolista que não há conivência com a dependência: tratá-lo com indiferença quando consome álcool e com atenção quando evita o contato com a bebida; • Evitar a ociosidade: estar alerta para o abandono do trabalho. É importante estimular constantemente o indivíduo para que ele tenha ocupações, responsabilidades e envolva-se com estudo, esporte, cultura e trabalho; • Estimular a autoconfiança: valorizar os progressos para que ele sinta-se capaz de trilhar novos caminhos; • Possibilitar que a pessoa realize conquistas com seu próprio esforço: nada deve se constituir num presente fácil mas proporcional ao empenho; • Desmistificar a internação: não fazer dela um “bicho de sete cabeças” ou a única opção de tratamento e muito menos um castigo. Quando houver indicação, a internação deve ser encarada de modo realista e positivo; 59 60 60 • Substituir a expectativa de cura pela perspectiva de amadurecimento e fortalecimento da personalidade. É através deste processo que o alcoolista chegará ao ponto de abandonar sua dependência; • Conseguir dizer “não”: dar limites quando necessário, não deixando de demonstrar interesse pelo bem estar do seu familiar; • Responder com sinceridade: A família está precisando ser tratada também? • Participar de grupos de mútua ajuda. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA F. EVENTO AGUDO DETERMINAÇÃO DE URGÊNCIA URGÊNCIAS CLÍNICAS • Abdomen agudo (ou suspeita de); • Cetoacidose; • Convulsões; • Delirium tremens; • Encefalopatia de Wernicke; • Hemorragia digestiva; • Infecções concomitantes – meningite, pneumonia e outras; • Intoxicação alcoólica aguda grave (coma alcoólico); • Intoxicação por outras drogas; • Traumatismo crânio-encefálico com sinais de comprometimento neurológico, e outros. NO CASO DE CONVULSÕES, DEVE SE PROCEDER DA SEGUINTE FORMA: Quadro isolado – Tratar a crise e observar o paciente; não necessita medicação de manutenção. Convulsões repetidas, sem histórico de epilepsia – Tratar cada episódio com Diazepam EV e considerar tratamento profilático. Convulsões com sintomas focais – Tratar como o anterior e investigar a causa pois não se relaciona à Síndrome de Abstinência. Na presença de situações clínicas associadas que representem risco de vida o paciente deverá ser imediatamente encaminhado para os serviços de pronto atendimento clínico, após atenção prévia às medidas de suporte. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA URGÊNCIAS PSIQUIÁTRICAS: • Alucinose alcoólica aguda; • Violência; • Risco de suicídio. Observando-se estas alterações, o paciente deverá ser encaminhado imediatamente para os serviços de pronto atendimento de saúde mental. G. ENCAMINHAMENTOS • Todos os alcoolistas, bem como seus familiares, devem ser orientados a procurar grupos de apoio; • No caso de comorbidades o usuário deve ser encaminhado para atendimento especializado; • Urgências clínicas serão encaminhadas para uma US 24 horas, ou pronto- socorro. 61 H. INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • Nos encaminhamentos para serviços de saúde, a unidade deverá fornecer as informações sobre o paciente, seu quadro clínico e condutas tomadas; • Em todos os encaminhamentos as equipes envolvidas deverão trocar informações quanto à evolução do paciente. • Assistência social; · Atendimento intensivo a pacientes em condições agudas; · Nos casos de crianças e adolescentes, atendimento psicopedagógico e fonoaudiológico; 62 63 • Os transtornos do humor caracterizam-se por rebaixamento ou elevação do humor, que também pode ser irritável. Eles interferem intensa e negativamente na qualidade de vida dos indivíduos; • O transtorno depressivo maior se caracteriza por um ou mais episódios depressivos maiores; • A distimia é um transtorno com sintomas menos intensos, porém com duração de pelo menos 2 anos; • Quando ocorrem episódios de elevação do humor, ou mania (período com 4.2. DEPRESSÃO 63 • Os transtornos do humor caracterizam-se por rebaixamento ou elevação do humor, que também pode ser irritável. Eles interferem intensa e negativamente na qualidade de vida dos indivíduos; • O transtorno depressivo maior se caracteriza por um ou mais episódios depressivos maiores; • A distimia é um transtorno com sintomas menos intensos, porém com duração de pelo menos 2 anos; • Quando ocorrem episódios de elevação do humor, ou mania (período com 4.2. DEPRESSÃO aumento da atividade, gastos excessivos, aumento da libido, euforia ou irritabilidade) em geral associados a outros de humor depressivo temos os transtornos bipolares; • O risco de um adulto apresentar transtorno depressivo maior é de 10 a 25% em mulheres e 5 a 12% em homens, durante a vida (American Psychiatric Association, 1994); • Cerca de 15% dos indivíduos com transtorno depressivo maior morrem por suicídio; • 80% dos indivíduos que receberam tratamento para um episódio terão um segundo episódio na vida, sendo 04 a média ao longo da vida; • A duração de um episódio é de 6 meses ou mais; • 12% dos pacientes têm um curso crônico sem remissão dos sintomas; • A depressão é a quarta causa específica de incapacitação; • Nos serviços de cuidados primários e outros serviços médicos gerais 30 a 50% dos casos não são diagnosticados. 6464 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA A. ATIVIDADES PROGRAMADAS AVALIAÇÃO CLÍNICA • Os dados acima evidenciam a importância do diagnóstico e tratamento adequado desta patologia; • É fundamental afastar causas orgânicas para o quadro depressivo (vide: quadro Condições Médicas quadro IV. 4 que se apresentam com sintomas psiquiátricos/ mentais), e também comorbidades; • Lembrar de observar crenças culturais e religiosas que podem interferir no diagnóstico e prognóstico; • Na anamnese e no exame físico e mental, incluir a observação dos sintomas a seguir (OMS – 1993): SINTOMAS FUNDAMENTAIS • Humor deprimido (sentimentos profundos de tristeza); • Perda de interesse por atividades antes consideradas prazeirosas; • Fatigabilidade. SINTOMAS ACESSÓRIOS • Concentração e atenção reduzidas; • Autoestima e autoconfiança reduzidas; • Idéias de culpa, inutilidade e desamparo; • Visões desoladas e pessimistas do futuro; • Idéias ou atos auto-agressivos ou suicidas; • Sono perturbado (insônia ou hipersonia); • Apetite diminuído ou aumentado. CARACTERÍSTICAS DA DEPRESSÃO NO IDOSO • Ansiedade, agitação e irritabilidade são mais freqüentes; • Sentimentos de culpa e auto depreciação são bastante comuns; • Verbaliza desejo de morrer; • Há diminuição da concentração e da memória, o que dificulta o diagnóstico diferencial com demência; • A depressão “mascarada” com queixas de fadiga ou somáticas é freqüente; • Observa-se lentificação psicomotora; • Há menor adesão ao tratamento, pois o paciente e os familiares tendem a achar que o quadro é normal para a idade. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA CO-MORBIDADES • Abuso de substâncias; • Demências; • Luto; • Deficit de atenção e hiperatividade; • Outras doenças clínicas. SUGESTÕES DE PERGUNTAS (ANDERSON E COLS.): • Durante o último mês você se sentiu para baixo, deprimido ou sem esperança? • Durante o último mês você sentiu pouco interesse ou prazer para fazer as coisas do seu cotidiano? CLASSIFICAÇÃO QUANTO À GRAVIDADE DOS EPISÓDIOS DEPRESSIVOS Episódio Leve: dois sintomas fundamentais + dois acessórios; Episódio Moderado: dois sintomas fundamentais + três a quatro acessórios; Episódio Grave: três sintomas fundamentais + cinco acessórios ou mais. B. CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO NA US O tratamento na US se restringe ao tratamento farmacológico de casos com episódios leves e moderados, que contem com apoio familiar e social. Não deverão ser tratados na US pacientes com risco de suicídio, depressão grave e transtorno bipolar. Caso não haja resposta satisfatória ao tratamento na US em até 6 semanas também está indicado o encaminhamento ao serviço especializado. 65 C. TRATAMENTO DA DEPRESSÃO NA US: Algumas considerações importantes: • Os antidepressivos são efetivos no tratamento agudo das depressões moderadas e graves, porém, não diferentes de placebos nas depressões leves; • Os antidepressivos são efetivos no tratamento agudo da distimia. Portanto, uma vez diagnosticada a condição, ela deve ser tratada; • As psicoterapias são mais efetivas para depressões leves e moderadas, e deverão ser indicadas nestes casos; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Todos os antidepressivos são eficazes, variando conforme o perfil de efeitos colaterais e potencial de interação com outros medicamentos. Por exemplo, os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) têm menos efeitos colaterais que os tricíclicos. Informações sobre estes medicamentos estão nos quadros abaixo; • O início da resposta ao tratamento com antidepressivo ocorre entre 2 a 4 semanas após o início do uso. É importante orientar o usuário a este respeito, e também quanto ao surgimento de efeitos colaterais. 66 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE OS PSICOFÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS DO HUMOR DISPONÍVEIS NA FARMÁCIA CURITIBANA CATEGORIA DROGA APRESENTAÇÃO DOSE DIÁRIA Antidepressivos tricíclicos Cloridrato de Amitriptilina 25 mg cápsula 50-300 mg Cloridrato de Clomipramina 25 mg cápsula 50-300 mg 75 mg cápsula Cloridrato de Imipramina 10 mg cápsula 100-300 mg 25 mg cápsula Pamoato de Imipramina 75 mg cápsula 100-300 mg Estabilizadores do humor Carbamazepina Carbonato de Lítio1 200 mg compr. 300 mg compr. 400-1600 mg 900-2100 mg 1 A dosagem laboratorial da litemia é indispensável, devido ao risco de intoxicação. No tratamento da fase aguda o nível sérico de lítio deve ser de 0,9 a 1,2 mEq/l, e na manutenção de 0,6 a 0,9 mEq/l INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE OS ANTIDEPRESSIVOS NÃO DISPNA FARMÁCIA CURITIBANA1 ONÍVEIS DROGA APRESENTAÇÃO DOSE DIÁRIA ISRS2 Cloridrato de Fluoxetina 20 mg compr 20 mg/5 ml –líquido (Prozac.) 20 mg/1 ml – gotas (Daforin.) 20-80 mg Cloridrato de Sertralina 25 mg compr 50 mg compr 100 mg compr 50-200 mg IRSN3 Cloridrato de Venlafaxina 75 mg compr 75 mg compr de liber. prolongada 150 mg compr 75-375 mg 1Para outras informações consultar o Memento terapêutico do Programa de Saúde Mental 2Inibidor seletivo de recaptação de serotonina 3Inibidor de recaptação de serotonina e noradrenalina SAÚDE MENTAL EM CURITIBA O tratamento da depressão inclui 3 fases: • Fase aguda: tem como objetivo reduzir os sintomas depressivos (resposta) ou, idealmente, retorno ao nível de funcionamento pré-morbido (remissão). Corresponde aos 2 a 3 meses iniciais; • Fase de continuação: tem como objetivo manter a melhoria obtida e evitar a reagudização do episódio. Corresponde aos 4 a 6 meses que se seguem ao tratamento da fase aguda; • Fase de manutenção: tem como objetivo evitar a recorrência, sendo importante em usuários que já tenham apresentado recorrências anteriores. Deve ser mantida a longo prazo. • Deve-se iniciar o tratamento, com os antidepressivos tricíclicos disponíveis, com 25 mg/dia, e ir aumentando 25 mg cada 2 ou 3 dias até atingir a dose terapêutica; • A dose no tratamento agudo está descrita no quadro acima, e deve ser a mesma nas fases de continuação e de manutenção; • A retirada deve ser lenta (redução de cerca de 25 mg ao mês, no caso dos antidepressivos tricíclicos), e iniciada pelo menos 6 meses após o restabelecimento; • No tratamento da distimia as doses são as mesmas. D. EVENTO AGUDO: Na avaliação inicial ou ao longo do tratamento podem ser observadas situações de emergência como: • Risco de suicídio; • Agitação psicomotora; • Ansiedade intensa; • Pânico; • Depressão grave (casos em que o paciente não sai do leito, não se cuida, não se alimenta); • Efeitos colaterais graves da medicação: agranulocitose, arritmias cardíacas, convulsões, hepatite, hipertensão, intoxicações. 67 68 68 Nos casos de risco de suicídio e/ou agitação psicomotora seguir as orientações contidas no item “SITUAÇÕES ESPECÍFICAS” (pág. 34). Uma vez identificada alguma destas condições, encaminhar para o PA. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA E. ENCAMINHAMENTOS • Em todos os casos, está indicado o encaminhamento para abordagens em grupo na Unidade de Saúde e comunidade; • Atividades de reabilitação e ressocialização quando necessário; • Os casos graves e os que não responderem ao tratamento na Unidade de Saúde em até 6 semanas, devem ser encaminhados para atendimento psiquiátrico no ambulatório especializado; • Os casos de transtorno bipolar, transtorno de ansiedade grave e aqueles em que sejam identificadas comorbidades deverão ser encaminhados para serviço especializado; • Em casos de intoxicações, encaminhar para internação em hospital geral (UTI). INTOXICAÇÃO FASE INICIAL EVOLUÇÃO EVOLUÇÃO GRAVE Antidepressivos Agitação e excitação Ataxia Coma não reativo tricíclicos Alucinações Hipersensibilidade a sons Confusão Contraturas musculares Convulsões Delirium Disartria Íleo paralítico Midríase Nistagmo Sonolência Torpor Depressão respiratória Hiporreflexia Hipotensão Hipotermia Hipóxia Carbonato de Ataxia Arritmias cardíacas Anúria lítio Disartria Tremor grosseiro Boca seca Convulsões Delirium Diarréia profusa Dor abdominal Fasciculações musculares Hiperreflexia Letargia (ou excitação) Náuseas e vômitos Nistagmo Oligúria Coma Óbito 69 4.3. PSICOSES • Vários transtornos mentais, como a depressão grave e o transtorno bipolar, além da demência e do delirium tremens podem cursar com psicose. A esquizofrenia é o mais grave dos transtornos psicóticos; • Os transtornos psicóticos caracterizam-se pela presença de alucinações e/ou delírios; • Alucinações são alterações da sensopercepção nas quais o paciente apresenta percepções falsas (na ausência de um estímulo real), que podem ocorrer nas diferentes modalidades sensoriais, ou seja, auditiva, gustativa, olfativa, visual e tátil; • Os delírios são alterações do conteúdo do pensamento, geralmente envolvendo interpretação incorreta de fatos reais; • Também ocorrem alterações do curso do pensamento, o que habitualmente se reflete em discurso desorganizado; • O paciente com psicose pode apresentar comportamento desorganizado, eventualmente com agitação importante ou catatonia, e alterações do afeto, que pode estar embotado (menos intenso do que o esperado) ou incongruente com o estímulo. A. CRITÉRIOS PARA ACOMPANHAMENTO NA US: • Paciente crônico e estável, que não preenche critérios para internação hospitalar; • Aceita e toma medicação; • Com suporte familiar ou social. 69 4.3. PSICOSES • Vários transtornos mentais, como a depressão grave e o transtorno bipolar, além da demência e do delirium tremens podem cursar com psicose. A esquizofrenia é o mais grave dos transtornos psicóticos; • Os transtornos psicóticos caracterizam-se pela presença de alucinações e/ou delírios; • Alucinações são alterações da sensopercepção nas quais o paciente apresenta percepções falsas (na ausência de um estímulo real), que podem ocorrer nas diferentes modalidades sensoriais, ou seja, auditiva, gustativa, olfativa, visual e tátil; • Os delírios são alterações do conteúdo do pensamento, geralmente envolvendo interpretação incorreta de fatos reais; • Também ocorrem alterações do curso do pensamento, o que habitualmente se reflete em discurso desorganizado; • O paciente com psicose pode apresentar comportamento desorganizado, eventualmente com agitação importante ou catatonia, e alterações do afeto, que pode estar embotado (menos intenso do que o esperado) ou incongruente com o estímulo. A. CRITÉRIOS PARA ACOMPANHAMENTO NA US: • Paciente crônico e estável, que não preenche critérios para internação hospitalar; • Aceita e toma medicação; • Com suporte familiar ou social. 70 70 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA B. ATIVIDADES PROGRAMADAS: AVALIAÇÃO CLÍNICA GERAL: • Todos os pacientes com quadro psicótico, mesmo com história anterior de psicose devem ser submetidos a uma avaliação clínica geral, afastando-se causas orgânicas (vide: quadro Condições Médicas quadro IV. 4 que se apresentam com sintomas psiquiátricos/mentais - pág. 27) e identificando comorbidades clínicas; • O diagnóstico de transtornos psicóticos deve ser firmado pelo especialista , mesmo porque o indivíduo com quadro agudo em geral está agitado, incoerente e incapaz de informar sua história adequadamente. TRATAMENTO NA US: • Tratar as condições clínicas associadas; • Acompanhar o paciente conforme plano terapêutico elaborado pelo especialista; • Lembrar que existe uma alta probabilidade de reagudização. Conseqüentemente, não se deve tentar suspender a medicação se o paciente teve mais que um surto. Porém são importantes “descansos” da medicação antipsicótica, devido ao risco de discinesia tardia. EVENTO AGUDO: C. • Seguir o protocolo geral do caso de agitação ou risco de suicídio; • Há necessidade de diferenciar quadros orgânicos cerebrais e outras doenças (quadro IV. 4), como intoxicações medicamentosas que podem cursar com sintomas de psicose; • Os principais efeitos colaterais dos antipsicóticos, que podem caracterizar evento agudo, estão descritos no quadro a seguir, juntamente com o seu manejo. Nestes casos não esquecer de explicar ao paciente e seus familiares o que está ocorrendo. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA EFEITOS COLATERAIS DOS ANTIPSICÓTICOS E SEU TRATAMENTO PARKINSONISMO DISTONIA ACATISIA SÍNDROME NEUROLÉPTICA MALIGNA Quadro Alterações de mar-Desenvolvimento Desejo subjetivo de estar Delirium Clínico cha (marcha à petit pas) Bradicinesia Facies em máscara Rigidez tipo roda denteada Salivação excessiva Tremor de repouso súbito de contrações breves ou prolongadas dos músculos agonistas e antagonistas, produzindo posturas anormais da cabeça, pescoço, tronco ou membros em constante movimento Dificuldade em permanecer parado: caminha, mexe os pés, cruza e descruza os braços, etc Sensação interna de inquietação pode ser confundida como piora da agitação ou ansiedade Febre Hipertensão arterial Rigidez muscular Sudorese Fatal em cerca de 20% dos casos Fatores/ Primeira semana de 3 primeiros meses de tra-Antipsicóticos de alperíodo de tratamento tamento ta potência, esperisco Aumento da dosagem do antipsicótico Com antipsicóticos de alta potência (ex. haloperidol) cialmente na forma depot Aumento rápido da dose Desidratação Desnutrição Outras intercorrências clínicas Manejo da Substituir o antipsicótico em uso, ou Substituir o antipsicótico Emergência clínica Crise reduzir a dose pela metade Biperideno 2 mg, 1 ampola via intramuscular visando alívio rápido (antes de uma hora) da sintomatologia; em uso, ou reduzir a dose pela metade Propanolol 40 mg 2 a 3 vezes ao dia – transferir para UTI! (Suspender o uso de antipsicóticos) Manutenção Biperideno 2 mg , 1 comp. via oral 2 a 3 vezes ao dia, por 14 a 21 dias; Encaminhar para o ambulatório. 71 D. ENCAMINHAMENTOS: • PA - no evento agudo; • Ambulatório - (através da CMCE) - para avaliação especializada e elaboração de plano terapêutico; • Recursos comunitários, como grupos de auto-ajuda e entidades com trabalhos voltados para reinserção social; • Reabilitação e ressocialização - identificar na sua área de abrangência recursos comunitários e utilizá-los para promover reabilitação e ressocialização; • Tratamento e internação em hospital clínico ou outros serviços especializados, no caso de doenças orgânicas. 72 72 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • Integrar equipes da US, de saúde mental do DS, do serviço especializado e de outros serviços (ação social); • Sempre que necessário realizar contato com as equipes especializadas; • Solicitar apoio da equipe de saúde mental do DS quando necessário; EQUIPES DE SAÚDE MENTAL DOS DS DEVEM MEDIAR SITUAÇÕES QUE NECESSITEM DE: • Avaliação conjunta com serviços especializados; • Interlocução com outros setores. 73 4.4. TRANSTORNOS MENTAIS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 73 4.4. TRANSTORNOS MENTAIS DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA Vários transtornos mentais ocorrem nesta faixa etária e necessitam tratamento adequado. A. CRITÉRIOS PARA ACOMPANHAMENTO NA US Alguns quadros leves, que respondam bem ao tratamento inicial podem ser acompanhados na US. Nos casos em que este ponto de atenção não for considerado o mais adequado haverá referência no texto. Quando acontecer um impasse sobre o manejo do problema deverá ser feito o encaminhamento para o serviço especializado. ATIVIDADES PROGRAMADAS B. AVALIAÇÃO CLÍNICA PEDIÁTRICA: A história e o exame clínico da criança devem ser realizados focalizando o desenvolvimento, avaliando a adaptação nas áreas relativas ao que é esperado para a idade e a fase do desenvolvimento. 74 74 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA Observar: • Constituição familiar e história; • Histórico da gestação, nascimento e amamentação; • Aspectos que possam ter ocasionado atraso de desenvolvimento; • Dificuldades no desempenho escolar; • Dificuldades no relacionamento; • Dificuldades no sono; • Dificuldades alimentares; • Alterações de humor (irritabilidade, medo, insegurança, tristeza excessiva); • Alterações do comportamento habitual (isolamento, hiperatividade, agressividade, timidez); • Atraso no desenvolvimento psicomotor; • Dificuldades familiares; • História familiar de transtorno mental; • Dificuldades de controle de esfíncteres. Frente à presença de alguns dos sintomas descritos acima, investigar: • Início/duração; • Freqüência; • Intensidade; • Circunstâncias em que ocorrem; • Manejo familiar do problema; • O que ameniza e exacerba os sintomas; • Tratamentos anteriores; • Intercorrências orgânicas: • Doenças crônicas; • Doenças próprias da infância; • Desnutrição; • Verminoses; • Problemas de saúde bucal. Sempre verificar fatores de risco para a saúde mental: • Deficiência física, sensorial e mental; • Dificuldades e evasão escolar; • Situações de abandono; • Situações de repressão excessiva e de violência psicológica; • Maus tratos (violência física ou abuso sexual); • Perda, rompimento ou ausência de vínculos familiares próximos; • Adoção; • Miséria e violência social. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA DO ADOLESCENTE Além do descrito na avaliação pediátrica: • Na anamnese, considerar especialmente os relacionamentos familiares, escolares, com o grupo de pares, afetivos e comunitários; • Avaliar o crescimento e desenvolvimento, assim como a maturação sexual segundo a escala de Tanner; • Verificar a necessidade de métodos contraceptivos e de proteção contra DST/ Aids; • Investigar sinais e sintomas de transtornos mentais, especialmente a depressão, distúrbios de conduta, uso e abuso de substancias, psicoses (usar os critérios dos demais protocolos). O início da sintomatologia pode auxiliar na suspeita diagnóstica, como demonstra o quadro abaixo. O quadro seguinte relaciona os sintomas e o contexto familiar ao diagnóstico. Vale lembrar que estes devem ser considerados apenas como orientação: 75 RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO E A FORMA DE INÍCIO DO QUADRO INÍCIO DIAGNÓSTICO PROVÁVEL AGUDO CRÔNICO1 INSIDIOSO2 Abuso de substância Ansiedade Crise familiar Depressão Estresse pós-traumático Mania Psicose Ambiente familiar caótico Ansiedade Déficit de atenção e hiperatividade Depressão Distúrbios de aprendizagem Distúrbio de conduta Distúrbio esquizotípico (borderline) Esquizofrenia 1Crônico + de 6 meses de duração 2Insidioso: instalação gradativa e persistente por mais de 6 meses RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO E O CONTEXTO FAMILIAR DIAGNÓSTICO SINTOMAS HISTÓRIA/CONTEXTO FAMILIAR Ansiedade Ataques de raiva Cefaléia Dificuldade para falar Dificuldade para separar-se dos pais Dispnéia Distúrbios do sono Hiperatividade Irritabilidade Medo Tensão Vômitos e outras queixas somáticas História de ansiedade e depressão 76 76 RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO E O CONTEXTO FAMILIAR DIAGNÓSTICO SINTOMAS HISTÓRIA/CONTEXTO FAMILIAR Déficit de Atenção e Dificuldades de aprendizado História de ansiedade e depressão Hiperatividade Dificuldade para focalizar a atenção Dificuldade para completar tarefas Dificuldade para selecionar estímulos Impulsividade Não consegue esperar Pensamento e fala rápidos Depressão (trans-Anorexia (com perda de peso ou ganho de Desagregação tornos do humor) peso inferior ao esperado ou ausente) ou aumento do apetite Auto-estima baixa Baixo rendimento escolar Choro freqüente Dificuldades de concentração Humor deprimido ou irritabilidade Insônia ou hipersônia Pensamentos, gestos e atos suicidas Separações História de depressão Esquizofrenia Alucinações Delírios Comportamento bizarro Pensamento desorganizado História de esquizofrenia Mania (Transtorno bipolar) Delírios e alucinações podem, ou não, estar presentes Euforia Hiperatividade Insônia Irritabilidade Pensamento acelerado – fala rápido História de distúrbio bipolar Negligência Atraso no desenvolvimento psicomotor Condutas agressivas e inadequadas Desnutrição Precariedade nos hábitos alimentares e de higiene Retraimento excessivo Perfil dos pais: Abuso de substâncias Depressão, psicose ou outro transtorno mental incapacitante Incapazes de oferecer alimentação, abrigo, supervisão e educação Jovens Transtorno de Atuação sexual Alcoolismo Conduta Comportamento incendiário Fugas de casa com freqüência Mentiras e gazetas Pensamentos, gestos ou atos suicidas Perversidade (crueldade) Uso regular do tabaco álcool ou drogas Desagregação familiar Necessidades básicas como afeto e educação freqüentemente não preenchidas Padrão não consistente de disciplina Transtorno de personalidade dos pais SAÚDE MENTAL EM CURITIBA RELAÇÃO ENTRE O DIAGNÓSTICO E O CONTEXTO FAMILIAR DIAGNÓSTICO SINTOMAS HISTÓRIA/CONTEXTO FAMILIAR Violência contra a criança e o adolescente (ver também negligência) Psicológica: Ansiedade Culpa Depressão Abuso de substâncias Estressados por dívidas, desemprego, doenças Expectativas irrealistas sobre os filhos História de terem sofrido violência Física: Ansiedade Culpa Depressão Ferimentos e cicatrizes suspeitos: Fraturas múltiplas Hematomas em vários estágios de evolução e/ou simétricos, principalmente em coxas, região glútea e dorso Queimaduras com cigarro ou por imersão em áqua fervente, tipo luvas ou meias (sem respingos!) Sexual: Ambivalência Ansiedade Comportamento sádico ou agressivo Comportamento sexual precoce com seus companheiros Culpa Depressão No exame físico: Alteração da prega anal Irritação genital e urinária Gonorréia e/ou outras DST 77 CONDUTAS GERAIS • Oferecer orientação sobre o desenvolvimento normal da criança e do adolescente; • Tratar as intercorrências clínicas presentes; • Orientar os familiares ou responsáveis quanto às condutas indicadas em relação aos sintomas presentes; • Observar a evolução, semanalmente, por cerca de 4 semanas levando em consideração a gravidade do sintoma; • Não havendo resposta, encaminhar para avaliação especializada; • Casos graves, complexos ou que causam muita ansiedade àqueles próximos à criança (família, escola, pediatra, serviço social, justiça juvenil, etc.) devem ser encaminhados diretamente ao ambulatório; 78 78 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • No caso do adolescente também deve-se considerar: • Promoção da saúde a partir do desenvolvimento de um projeto de vida e de comportamentos de auto cuidado; • Prevenção de gravidez precoce, DST/Aids e uso e abuso de substancias psicoativas; CONDUTAS ESPECÍFICAS DIFICULDADES ESCOLARES: As dificuldades de aprendizado não são incomuns. Por refletirem dificuldades maturacionais de desenvolvimento, elas irão influenciar profundamente as habilidades da criança, no âmbito da assimilação de suas experiências e sentimentos. Assim, o tratamento tem vital importância na prevenção de dificuldades futuras. Deve-se considerar a seguinte seqüência: • Acompanhamento da criança junto à escola; • Solicitar avaliação da acuidade visual e auditiva; • Nas solicitações de avaliação psicoeducacional nos Centros de Atendimento Especializado da Secretaria Municipal da Educação, pela escola municipal, promover a troca de informações entre os serviços de saúde e de educação para um diagnóstico interdisciplinar; • Em caso de alunos com dificuldades escolares, que não freqüentem a rede municipal de ensino, encaminhar para um dos ambulatórios especializados de saúde mental; • Quando houver suspeita de depressão, ansiedade, déficit de atenção/ hiperatividade, problemas neurológicos, abuso físico, emocional e/ou sexual encaminhar para avaliação em ambulatório especializado; DISTÚRBIOS DE CONDUTA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Tendo em vista se tratar de um distúrbio freqüente e difícil de tratar, é necessário o envolvimento de todas as instâncias que a criança freqüenta (educação, saúde, família e outras). O tratamento é importante como prevenção de abuso e dependência química. Condutas: • Encaminhamento para atendimento em ambulatório especializado; • Acompanhamento da criança junto à escola; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Orientação aos pais em conjunto com ambulatório especializado, visando adesão ao tratamento; • Inserção em atividades extra-escolares disponíveis na comunidade; • Enfatizar a importância do estabelecimento do vínculo da US com estas crianças e suas famílias; É COMUM ESTAS CRIANÇAS NÃO SEREM ACEITAS NA US, NA ESCOLA E NOS AMBIENTES SOCIAIS EM GERAL, EM FUNÇÃO DO SEU COMPORTAMENTO. AO CONTRÁRIO DISTO, DEVE HAVER UMA COOPERAÇÃO ENTRE OS DIVERSOS SETORES E PROFISSIONAIS A FIM DE FACILITAR A SUA INTEGRAÇÃO. DEPRESSÃO É diagnosticada com duas semanas de duração de humor deprimido ou irritável. • Os critérios diagnósticos são os mesmos usados para os adultos, mas a criança apresenta com mais freqüência; • humor irritável; • sintomas de ansiedade (fobias e ansiedade de separação); • dificuldade no dormir e no acordar; • falta de interesse generalizada incluíndo dificuldades nos cuidados pessoais e de higiene; • queixas somáticas; • alucinações; • O episódio dura cerca de 7 a 9 meses. • Há recorrência em 20 a 60% dos casos em 1 a 2 anos após e em 70% dos casos após 5 anos. • Pode aparecer episódio de mania (transtorno bipolar) em 20 a 40% dos casos após 5 anos. • O distúrbio de conduta é uma complicação freqüente, nestes casos secundário ao transtorno depressivo, geralmente salvaguardando a criança de entrar em contato com sua depressão e desespero. •O tratamento é imprescindível pois irá melhorar a qualidade de vida e prevenir o risco de suicídio, bem como a dependência química durante a adolescência. Condutas: • Encaminhar para atendimento em ambulatório especializado; • Acompanhar a criança junto à escola; 79 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Investigar, e tratar condições clínicas, que podem estar causando a depressão. Nessa faixa etária considerar, principalmente: • Abuso de substâncias; • Aids; • Anemia; • Diabetes melittus; • Doenças neurológicas; • Hipoglicemia; • Hipotireoidismo; • Lupus eritematoso sistêmico, e outras doenças crônicas; • Reação a medicações; • Informar sobre a doença e seus sintomas; • Orientar sobre as formas mais adequados de tratar a criança; • Estabelecer níveis de exigências compatíveis com seu nível de desenvolvimento; • Não usar punição para não acentuar a irritabilidade e sentimentos de menos- valia que irão acentuar o seu desespero; • Respeitar e estimular a expressão dos seus sentimentos; • Valorizar os aspectos positivos da criança. DEPENDÊNCIAS QUIMICAS 80 CRIANÇAS E ADOLESCENTES USUÁRIOS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS DEVEM SER ENCAMINHADOS A U.S. CENTRO VIDA. C. EVENTO AGUDO SUICÍDIO O comportamento suicida é uma das principais causas de emergência psiquiátrica em adolescentes e em menores de 12 anos, embora não seja tão freqüente o êxito neste último grupo. O quadro da página seguinte mostra os principais indicadores de risco de suicídio. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA RISCO DE SUICÍDIO: HISTÓRIA DA FAMÍLIA FATORES DE RISCO FATORES PRECIPITANTES Abuso físico e/ou sexual Discórdia Negligência Perda interpessoal Presença de suicídio Presença de doença mental em um ou ambos os pais Acesso a armas Comportamento agressivo Sexo masculino Tentativas anteriores Transtorno depressivo grave Uso de álcool e/ou outras drogas Nas meninas • Fugas de casa • Gravidez Conflito interpessoal Fracasso ou abandono escolar Isolamento social Problemas legais CONDUTAS: • Avaliação do paciente e de sua família; • Investigar uso de substâncias psicoativas; • Obter informações acerca da situação e intencionalidade suicida; • Orientar quanto aos cuidados com a criança; • Fazer o contrato do não suicídio (VIDE ANEXO). NA PRESENÇA DE INDICADORES DE IDEAÇÃO E INTENÇÃO SUICIDAS, ENCAMINHAR PARA O PRONTO ATENDIMENTO COM URGÊNCIA. 81 AGITAÇÃO E DISTÚRBIOS DE CONDUTA Podem estar presentes em diversos quadros psiquiátricos, associando-se com freqüência ao retardo mental. CONDUTAS: • Investigar o contexto em que ocorreu o episódio; • Tomar medidas de prevenção de perigo; • Garantir proteção física para criança ou adolescente, familiares e equipe; • Acalmar a família, solicitando sua ajuda no manejo da situação; • Pais provocativos devem ser separados da criança; • Usar preferencialmente a contenção verbal; • A contenção física para crianças abaixo de 12 anos, deverá ser feita segurando- a com ajuda de uma ou mais pessoas. Para crianças com mais de 12 anos utilizar faixas de contenção, se necessário. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA QUADROS PSICÓTICOS OS QUADROS PSICÓTICOS SÃO RAROS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 12 ANOS, DEVENDO SER ENCAMINHADOS PARA UMA AVALIAÇÃO CLÍNICA (ESPECIALMENTE NEUROLÓGICA) MINUCIOSA. O ENCAMINHAMENTO AO AMBULATÓRIO PSIQUIÁTRICO E A PARCERIA E INTEGRAÇÃO ENTRE TODOS OS PROFISSIONAIS SÃO DE SUMA IMPORTÂNCIA! 82 VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE • Investigar sinais e sintomas sugestivos de negligência e de abuso físico ou sexual; • Avaliar o perfil dos pais; • Sempre preencher a ficha de notificação obrigatória e entrar em contato com o SOS criança e/ou o conselho tutelar; • Nos casos de negligência e de abuso deve-se iniciar a educação da família sobre os cuidados com a criança no momento do atendimento; • Encaminhar para atendimento médico especializado das lesões encontradas. NEGLIGÊNCIA E VIOLÊNCIA CONSTITUEM EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS E PSIQUIÁTRICAS. 83 V. DEMAIS PONTOS DE ATENÇÃO 5.1. DOMICÍLIO Para considerarmos a residência do usuário um ponto de atenção adequado é fundamental que a família seja ativa e participativa, ajudando-o a sentir-se responsável pelo tratamento. Os encaminhamentos serão os mesmos que os da US, exceto quando referido no texto. A. CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO NO DOMICÍLIO • Pessoa com suporte familiar (no caso de crianças e adolescentes que eventualmente tenham indicação para tratamento domiciliar, é indispensável que a dinâmica familiar de pais e/ou responsáveis seja estruturada, com poder decisório e sem quebra de vínculos hierárquicos e afetivos); • Com comorbidade de deficiência física, que a impeça de ir à US; • Quadro crônico e estável; • Ausência de indicação para internamento hospitalar; • Condições de moradia, sanitárias e nutricionais favoráveis; • US com estrutura e equipe capacitada para fazer atendimento domiciliar. B. ATENDIMENTO PROGRAMADO 83 V. DEMAIS PONTOS DE ATENÇÃO 5.1. DOMICÍLIO Para considerarmos a residência do usuário um ponto de atenção adequado é fundamental que a família seja ativa e participativa, ajudando-o a sentir-se responsável pelo tratamento. Os encaminhamentos serão os mesmos que os da US, exceto quando referido no texto. A. CRITÉRIOS PARA TRATAMENTO NO DOMICÍLIO • Pessoa com suporte familiar (no caso de crianças e adolescentes que eventualmente tenham indicação para tratamento domiciliar, é indispensável que a dinâmica familiar de pais e/ou responsáveis seja estruturada, com poder decisório e sem quebra de vínculos hierárquicos e afetivos); • Com comorbidade de deficiência física, que a impeça de ir à US; • Quadro crônico e estável; • Ausência de indicação para internamento hospitalar; • Condições de moradia, sanitárias e nutricionais favoráveis; • US com estrutura e equipe capacitada para fazer atendimento domiciliar. B. ATENDIMENTO PROGRAMADO A EQUIPE DEVE: • acompanhar o usuário regularmente; • realizar consultas através de visitas; • verificar a medicação em uso; • responsabilizar e orientar a família; • observar condições de higiene; • encaminhar para atendimento pelo especialista a cada 4 meses, pelo menos. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA C. C. A FAMÍLIA As recomendações para a família são as mesmas descritas na US. ORIENTAÇÕES DE AUTOCUIDADO: • Tome a medicação como indicada pelo médico. Se tiver efeitos colaterais aparentes contate seu médico antes de parar a medicação. • Os efeitos colaterais da medicação geralmente podem ser tolerados e tendem a desaparecer dentro de alguns dias ou semanas. • Mantenha uma dieta saudável, evitando bebidas alcoólicas ou outro tipo de drogas. • Se você estiver tomando medicação psicotrópica avise seu médico antes de iniciar qualquer outra medicação, chás ou produtos alternativos, pois juntos podem fazer interação negativa. • Pratique exercícios pelo menos 3 a 4 vezes por semana, mesmo que seja caminhar por 15 minutos. • Procure dormir pelo menos 7 a 8 horas por noite mantendo uma rotina regular de sono. Hábitos irregulares ou inadequados de sono podem tornar a pessoa deprimida. • Procure ter pensamentos positivos a respeito de sua vida e desenvolva a atitude de que você irá melhorar. • Converse com os profissionais de saúde sobre como aprender modos positivos de resolver problemas. • Participe de grupos de apoio e familiares, conviva com outras pessoas. • Se você tiver pensamentos suicidas contate seu médico imediatamente. • Faça um esforço diário para manter sua aparência e cuidados pessoais. • Identifique atividades que ajudem você a se sentir melhor e procure participar destas atividades mesmo sem vontade. • Para que você possa se ajudar e assumir o controle de sua vida aprenda mais sobre sua doença com a equipe da US ou a partir de outras fontes confiáveis. • Cuide de si mesmo – você é muito importante! 84 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA D. EVENTO AGUDO NO DOMICÍLIO: Algumas doenças mentais provocam surtos com delírios, alucinações, agitações ou alterações da fala e idéias de suicídio. É importante entender que, neste momento, os familiares ficam muito assustados. Deve-se orientá-los a buscar ajuda, pois haverá necessidade de atendimento urgente. Muitas orientações poderão ser encontradas na cartilha para usuários e familiares do Programa de Saúde Mental. E. VISITAS DOMICILIARES: Os pacientes acompanhados em outros pontos de atenção poderão necessitar visitas domiciliares em determinadas circunstâncias, que serão descritas a seguir: VISITAS DOMICILIARES: SITUAÇÕES A OBSERVAR PROCEDIMENTOS Inscrição no Programa Visita domiciliar por ACS1que deverá relatar à US o que foi verificado. Reagudização, recaídas e situações de emergências Caso a visita tenha sido realizada pelo ACS1, informar à equipe da US, para que sejam tomadas as providências necessárias: orientação, consulta médica, encaminhamento para PA ou ambulatório Seguimento da prescrição e efeitos colaterais da medicação Dificuldades com o tratamento especializado Abandono do tratamento por estar se sentindo melhor Recomendar retorno imediato à US Falta de apoio familiar Orientações domiciliares e recomendar o retorno imediato à US Falta de suporte social e comunitário Informar a US para articulações da rede sociocomunitária, se necessário Autocuidado deficiente Orientações domiciliares e orientar o retorno imediato à US 85 1ACS: Agente Comunitário de Saúde F. INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO: Além do contato da família com a US, esta última deverá proceder como descrito anteriormente. 5.2. PRONTO ATENDIMENTO SAÚDE MENTAL EM CURITIBA A. CRITÉRIOS PARA ATENDIMENTO • Pacientes em situação de urgência/emergência. ATENDIMENTO PROGRAMADO • Fazer avaliação e atendimento psiquiátrico para o paciente em situação de urgência/emergência; • Triagem para internação hospitalar; • Triagem para os serviços especializados através dos critérios estabelecidos para as instâncias de encaminhamento; • Dar consultoria ao clínico geral no manejo dos casos atendidos na US, quando solicitado; • Além do exame clínico completo é necessário exame neurológico. Deve-se sempre estar atento a sinais e sintomas de alterações clínicas agudas e/ou crônicas para indicação de internação clínica; • Considerar a decisão do paciente e da família para indicar o internamento. 86 É IMPORTANTE CONSIDERAR QUE A PROCURA DE INTERNAÇÃO HOSPITALAR POR FALTA DE SUPORTE SOCIAL E FAMILIAR É FREQÜENTE, MAS QUE ESTA SITUAÇÃO DEVE SER RESOLVIDA, PRINCIPALMENTE, POR ENTIDADES COM FINS SOCIAIS. NESTES CASOS, ALÉM DOS RECURSOS DA SAÚDE, É NECESSÁRIO CONTAR COM: Abrigos que acolham e apoiem a pessoa em tratamento extra-hospitalar; Parceria com ação social a fim de resgatar, quando possível, a família na sua função de proteção; Envolvimento do Conselho Tutelar no apoio à participação da família ou responsável no tratamento nos casos de crianças e adolescentes, conforme Artigo 101 do ECA. 1. 2. 3. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA B. FAMÍLIA Orientar os familiares, ou responsáveis, quanto: • Ao quadro observado; • Ao tratamento indicado e • À importância da participação da família. INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO C. • Comunicar a US sobre o encaminhamento e orientação dada ao paciente e à família, com relato do atendimento e orientações escritas sobre o tratamento a seguir; • Encaminhar o usuário ao serviço indicado, com informações sobre o quadro observado e outras pertinentes. 87 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA A. A. AMBULATÓRIO PROPRIAMENTE DITO Deve-se dar preferência ao tratamento ambulatorial, evitando-se assim o estigma da internação psiquiátrica e estimulando a autonomia do cidadão. CRITÉRIOS • Pacientes voluntários ao tratamento; • Interesse e envolvimento do familiar ou responsável; • Ausência de indicação para atendimento hospitalar; • Casos graves e/ou com comorbidades; • Continuidade de tratamento hospitalar (integral, HD) ou em CAPS; • Casos leves ou moderados que não responderam ao tratamento na US; • Casos leves que necessitem somente de psicoterapia; • Pacientes crônicos e estáveis, para avaliação e controle periódicos. ATENDIMENTO PROGRAMADO • Avaliação interdisciplinar especializada de todos os casos encaminhados; • Plano de tratamento individualizado e reavaliado periódicamente; • Psicoterapia individual e/ou de grupo realizada por psicólogo ou psiquiatra; (Nos casos de depressão as evidências mais efetivas para tratamento são psicoterapia cognitiva - Scott, 1995, Gloaguen, 1998-, a inter-pessoal - Weissmann e Markowitz, 1994- e a de solução de problemas -Mynor-Wallis, 1995- Para terapia do grupo familiar a terapia sistêmica é a melhor evidência A. A.C.A.P. 1999); • Tratamento farmacológico, quando indicado; • No início do tratamento as consultas especializadas deverão ser semanais, até a estabilização do quadro; • Na continuidade e manutenção do tratamento a freqüência das consultas depende da condição do paciente e outros fatores; 5.3. AMBULATÓRIO 88 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Quando houver agudização do quadro o atendimento deverá ser mais freqüente, caracterizando o ambulatório intensivo ou CAPS; • Atendimento da família, individual ou em grupo; • Assistência social; • Atendimento intensivo a pacientes em condições agudas; • Nos casos de crianças e adolescentes, atendimento psicopedagógico e fonoaudiológico; • Participação em oficinas terapêuticas, sempre que indicado; • A duração mínima prevista para os diferentes atendimentos é de: • Consulta psiquiátrica: 20 minutos, • Consulta psicológica: 30 minutos, • Terapia de grupo: 90 minutos. FAMÍLIA • Orientar a família quanto à doença, o tratamento e sua participação em grupos de ajuda; • Corresponsabilizar a família no cuidado; • Verificar a necessidade de outros membros da família realizarem tratamento e encaminhar à US; • Realizar a terapia do grupo familiar. EVENTO AGUDO Antecipar a consulta e procurar controlar no ambulatório com revisão de medicação, aumento da freqüência das consultas médicas e das sessões de psicoterapia. Se necessário encaminhar para avaliação no PA, com informações escritas sobre a evolução, o indivíduo no serviço e quadro apresentado no momento. 89 ENCAMINHAMENTOS PELO AMBULATÓRIO SITUAÇÕES IDENTIFICADAS ENCAMINHAMENTOS Necessidade de reabilitação e ressocialização CAPS ou oficina terapêutica Preencher os critérios de internação Hospital integral ou HD Apresentar outras patologias clínicas US 90 90 ENCAMINHAMENTOS INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • Comunicar a US quando houver: • problemas de adesão ao tratamento; • necessidade de encaminhar para outro serviço especializado ou para atendimento clínico e odontológico; • outras intercorrências que necessitem apoio da US; • necessidade de visitas domiciliares; • inserção e alta do paciente em oficina terapêutica; • Regularmente discutir casos específicos com a equipe da US e do DS; • Caso o usuário seja encaminhado para outro serviço especializado, fornecer as informações necessárias sobre quadro clínico, condutas, evolução, etc. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA B. OFICINA TERAPÊUTICA A oficina terapêutica é um recurso complementar ao ambulatório e tem o intuito de resgatar individualidades, descobrir potencialidades, desenvolver habilidades específicas e prover suporte de tratamento como atividade grupal que proporcione a socialização do cidadão e facilite o vínculo afetivo com profissionais e outros participantes da oficina. CRITÉRIOS • Pacientes capazes de exercerem autocuidado; • Acompanhados pela US e que seguem tratamento ambulatorial; • Necessitam recuperação laborativa e inserção no mercado de trabalho; • No caso de crianças e adolescentes: • Transtornos mentais graves (transtornos de conduta e borderline, depressão grave, psicoses e outros), para as quais o tratamento ambulatorial não apresente resultados satisfatórios; • Necessidade de um apoio mais intenso e contínuo direcionado ao desenvolvimento do relacionamento social. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ATENDIMENTO PROGRAMADO • Atividades de socialização, expressão e inserção social, que podem incluir: carpintaria, costura, teatro, artesanato, artes plásticas e outros; • Os grupos devem ter duração mínima de duas horas, com a participação de, no mínimo 05 e no máximo 15 pacientes; • O profissional responsável deve ter nível médio e/ou superior; • Devem ser desenvolvidas atividades como: • Oficinas de alfabetização; • Oficinas de reabilitação; • Oficinas profissionalizantes; • Oficinas que promovam a inserção no mercado formal e informal de trabalho; • Passeios na comunidade; • No caso de crianças e adolescentes: • Oficinas terapêutico-pedagógicas, em que o atendimento é realizado no contra-turno escolar; • Atendimento por equipe multidisciplinar: psicólogo, psiquiátra, pedagogo, fonoaudiólogo e terapêuta ocupacional; • Treinamento em atividades de vida diária; • Atividades de teatro, artes, esporte, jardinagem, música; • Atividades de educação em saúde, como higiene, nutrição, saúde mental, prevenção ao abuso de drogas e educação sexual. Obs.: Devem ser de fácil acesso ao paciente. FAMÍLIA As oficinas terapêutico-pedagógicas, para crianças e adolescentes devem prever também: • Grupo de pais; • Participação dos pais junto às atividades desenvolvidas; • Orientação individual e em grupo da família: • Quanto ao diagnóstico e tratamento; • Condutas mais adequadas frente ao comportamento da criança; • Encaminhamento para tratamento dos demais membros da família quando necessário; • Importância da participação dos pais no tratamento; • Importância do acompanhamento da criança pelos pais na escola. 91 92 92 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 5.4. CAPS O CAPS - Centro de atenção psicosocial - é um recurso de continuidade de tratamento em que o grau de comprometimento requer monitoramento intensivo, semi-intensivo e não intensivo. Deve ser indicado para a fase de reabilitação visando a reinserção social do cidadão. Auxilia na recomposição da estrutura interna e social da pessoa como instância dentro do contínuo de tratamento. CRITÉRIOS • Pacientes com transtornos crônicos e incapacitantes, que necessitam de reabilitação psicossocial; • Pacientes que necessitem desenvolver o auto-cuidado. ATENDIMENTO PROGRAMADO Atividades de reabilitação e ressocialização: • Programa de alfabetização (próprios ou em parceria); • Atividades de desenvolvimento das funções cognitivas; • Atividades de reabilitação, que recuperem funções de auto-cuidado, comunicação, rotinas de vida diária, auto-estima e autoconhecimento; • Oficinas profissionalizantes, com atividades que habilitem o usuário a participar do mercado de trabalho formal ou informal; • Atividades laborativas permanentes na comunidade, que recuperem o valor social do paciente oferecendo oportunidade de recompensa ou pagamento adequado e conseqüente aproveitamento sadio e lógico da capacidade de trabalho; • Atendimentos de emergência em situação de crise. Assistência Especializada: • Elaboração de plano terapêutico individual e reavaliação periódica; • Tratamento farmacológico; • Psicoterapia individual realizada por psicólogo ou psiquiatra; • Psicoterapia de grupo realizada por psicólogo ou psiquiatra; • Atendimento da família, individual ou em grupo; • Assistência social; • Atendimento intensivo a pacientes em condições agudas; • 5 leitos para intenção em CAPS III. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA FAMÍLIA • Manter a família envolvida no tratamento através de: • Reuniões de famílias; • Atividades sociais da clínica; • Atividades internas da clínica; • Atividades voluntárias pró-tratamento. • Informar a família a respeito: • Do transtorno; • Das necessidades do familiar; • Das formas de lidar com a situação em casa. ENCAMINHAMENTOS ENCAMINHAMENTOS PELO CAPS SITUAÇÕES IDENTIFICADAS ENCAMINHAMENTOS Condições de alta Ambulatório/oficina terapêutica Preencher os critérios de internação Hospital integral (via PA) ou HD Apresentar outras patologias clínicas que não possam ser tratadas no CAPS US ou hospital clínico 93 INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • Comunicar a US quando houver: • Problemas de adesão ao tratamento; • Necessidade de encaminhar para outro serviço especializado ou clínico; • Outras intercorrências que necessitem apoio da US; • Necessidade de visitas domiciliares; • Regularmente discutir casos específicos com a equipe da US e do DS; • Caso o usuário seja encaminhado para outro serviço especializado, fornecer as informações necessárias sobre quadro clínico, condutas, evolução, etc. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA CRITÉRIOS • Pacientes em transição depois da alta do hospital integral; • Casos agudos, com suporte familiar; • Risco de suicídio, com suporte familiar; • Casos graves que necessitam de monitorização intensa/constante de tratamento; • Autocuidado muito prejudicado; • Comorbidades com dependências químicas; • Casos que não preencham os critérios de internação integral. ATENDIMENTO PROGRAMADO • Elaboração de plano terapêutico individual; • Tratamento farmacológico; • Psicoterapia individual realizada por psicólogo ou psiquiatra; • Psicoterapia de grupo realizada por psicólogo ou psiquiatra; • Atendimento à família, individual ou em grupo; • Assistência social; • Atividades de reabilitação psicossocial. FAMÍLIA • Manter a família envolvida no tratamento através de: • Reuniões de famílias; • Atividades sociais da clínica; • Atividades internas da clínica; • Atividades voluntárias pró-tratamento. • Informar a família a respeito: • Do transtorno; • Das necessidades do familiar; • Das formas de lidar com a situação em casa. 5.5. HOSPITAL-DIA 94 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ENCAMINHAMENTOS INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO ENCAMINHAMENTOS PELO HOSPITAL –DIA SITUAÇÕES IDENTIFICADAS ENCAMINHAMENTOS Condições de alta Ambulatório/oficina terapêutica ou CAPS Preencher os critérios de internação Hospital integral (via PA) Apresentar outras patologias clínicas que não possam ser tratadas no Hospital US ou hospital clínico • Comunicar a US quando houver: • Problemas de adesão ao tratamento; • Necessidade de encaminhar para outro serviço especializado ou clínico; • Outras intercorrências que necessitem apoio da US; • Necessidade de visitas domiciliares; • Regularmente discutir casos específicos com a equipe da US e do DS; • Caso o usuário seja encaminhado para outro serviço especializado, fornecer as informações necessárias sobre quadro clínico, condutas, evolução, etc. 95 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 5.6. HOSPITAL INTEGRAL 96 CRITÉRIOS • Comportamento de auto/hetero agressão e o risco de suicídio (considera-se risco de suicídio a presença do seguinte conjunto: ideação ou intenção suicida, plano para se matar, tentativas anteriores, perdas recentes e história familiar de suicídio); • Risco de desenvolver ou estar em síndrome de abstinência grave; • Quadro psicótico agudo com comportamento de risco, de suicídio, homicídio ou comportamento perigoso (liberação da auto/hetero-agressividade) de início agudo; • Insucesso do tratamento ambulatorial, segundo a avaliação da equipe terapêutica; • Quadro grave com ausência de suporte familiar; • Não resposta ao tratamento no hospital dia; Obs.: Nos casos de dependência química, se não preencher os critérios, observar a vontade do cidadão. É importante uma avaliação cuidadosa do padrão de consumo de drogas, que fornecerá o nível de envolvimento com estas e a gravidade do quadro clínico. ATENDIMENTO PROGRAMADO • Internar com previsão de alta, considerando outros recursos, como HD, CAPS, ambulatório e oficina terapêutica que estejam indicados para a continuidade do tratamento; • Os prazos médio de internamento, previstos, são os seguintes: • Dependências químicas: 21, 15 ou 3 dias; • Outros transtornos mentais: 21 dias ou até 7 dias em CAPS III; • Instituir plano terapêutico individual com reavaliações periódicas; • Farmacoterapia; • Psicoterapias individuais e de grupo; • Terapia ocupacional; • Suporte familiar e social através de grupos com familiares ; • Preparar a alta e assegurar a continuidade do tratamento extra-hospitalar após a alta; • Verificação de prescrição; SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Cuidados de enfermagem; • Interligação com grupos de auto-ajuda (depressivos anônimos); • Programar a continuidade do tratamento e co-responsabilizar a família; • Assistência social; • Atividades de reabilitação psicossocial. FAMÍLIA • Manter a família envolvida no tratamento através de: • Reuniões de famílias; • Atividades sociais da clínica; • Atividades internas da clínica; • Atividades voluntárias pró-tratamento; • Informar a família a respeito: • Do transtorno; • Das necessidades do familiar; • De formas de lidar com a situação após a alta. ENCAMINHAMENTOS ENCAMINHAMENTOS PELO HOSPITAL INTEGRAL SITUAÇÕES IDENTIFICADAS ENCAMINHAMENTOS Condições de alta Ambulatório e/ou oficina terapêutica, Hospital Dia ou CAPS Apresentar transtorno mental que não é tratado naquela unidade1 Outro hospital integral Apresentar outras patologias clínicas que não possam ser tratadas no Hospital US 24 horas (para procedimentos ambulatoriais) ou Hospital Clínico 97 INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • Orientar médicos do tratamento extra-hospitalar quanto aos procedimentos em geral, relativos ao paciente e à família (atendimento contínuo e integrado); • Caso o usuário seja encaminhado para outro serviço especializado, fornecer as informações necessárias sobre quadro clínico, condutas, evolução, etc.; • Realizar consultoria psiquiátrica nos casos de comorbidades psiquiátrias no hospital geral; • Informar a unidade de saúde de origem do paciente a respeito da previsão de alta, quando do internamento. 98 98 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 5.7. RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA Pacientes que perderam a estrutura social e familiar e necessitam de acompanhamento especializado e uma moradia temporária. CRITÉRIOS • Pacientes crônicos estáveis; • Pacientes sem possibilidade de autonomia sócio-financeira; • Ausência total de suporte familiar e moradia; • Pacientes submetidos a tratamento psiquiátrico em regime hospitalar prolongado, com grave dependência institucional. ATENDIMENTO PROGRAMADO • Atividades que visem a construção progressiva da autonomia do paciente na sua vida cotidiana, ampliando a inserção social; • Oferecer ao usuário um amplo projeto de reintegração social, por meio de: • implementação da autonomia para as atividades domésticas e pessoais; • programas de alfabetização; • reinserção no trabalho; • mobilização de recursos comunitários; • estímulo à formação e utilização de associações de usuários, familiares e voluntários. ENCAMINHAMENTOS E INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO Os usuários destes serviços deverão ser acompanhados pela US que procederá como descrito anteriormente (em “US” e “Domicílio”). SAÚDE MENTAL EM CURITIBA 5.8. HOSPITAL CLÍNICO Espera-se que, em breve possamos dispor de enfermarias psiquiátricas nos hospitais gerais, estimulando o trabalho multidisciplinar e o atendimento integral de todos os pacientes. Mesmo enquanto não dispomos desta modalidade de atendimento, o hospital clínico é um ponto de atenção importante para o tratamento de situações como as descritas a seguir: CRITÉRIOS Pacientes com: • Psicoses orgânicas; • Transtornos alimentares; • Transtornos mentais com intercorrências clínicas; • Depressão grave, no caso de tentativa de suicídio ou debilitações físicas; • Necessidade de desintoxicações químicas e síndromes de abstinência. ENCAMINHAMENTOS • Referendar para a unidade de saúde, no momento da alta, os pacientes que apresentarem intercorrências de saúde mental; • Se necessário encaminhar para avaliação no pronto atendimento em saúde mental. INTERLIGAÇÃO DOS PONTOS DE ATENÇÃO • No caso de pacientes com intercorrências de saúde mental, informar a US, ou o PA, sobre o quadro apresentado e o tratamento realizado; • Sempre notificar a alta de pacientes com tentativas de suicídio. 99 100 101 VI. DIREITOS DO USUÁRIO DE SERVIÇOS DE101 VI. DIREITOS DO USUÁRIO DE SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL DE ACORDO COM A LEI 10.216 DE 06 DE ABRIL DE 2001 TODO USUÁRIO DEVE TER GARANTIDOS OS SEUS DIREITOS, QUE INCLUEM: Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoas e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I – ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II – ser tratada com humildade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV – ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V – ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI – ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII – receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII – ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX – ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. 102 103 ANEXO I FORMULÁRIO DE PARCERIA COM O ALCOOLISTA E O BEBEDOR PROBLEMA Nome: ______________________________________________________________ Ficha familiar ou prontuário no.:__________________________________________ Questão: Devo e quero fazer o tratamento proposto pela US? Informações relevantes sobre a saúde (história pregressa, idade de início do consumo, freqüência/quantidade, interferência no trabalho, na família, nos relacionamentos sociais do paciente). ANEXOS 103 ANEXO I FORMULÁRIO DE PARCERIA COM O ALCOOLISTA E O BEBEDOR PROBLEMA Nome: ______________________________________________________________ Ficha familiar ou prontuário no.:__________________________________________ Questão: Devo e quero fazer o tratamento proposto pela US? Informações relevantes sobre a saúde (história pregressa, idade de início do consumo, freqüência/quantidade, interferência no trabalho, na família, nos relacionamentos sociais do paciente). ANEXOS Recomendações: A ingestão repetitiva e descontrolada de bebida alcoólica quase sempre traz sérios prejuízos orgânicos, psicológicos e sociais. O tratamento pode diminuir e até evitar complicações como: gastrite, cirrose, depressão, ansiedade, etc., bem como dificuldades no relacionamento familiar e profissional. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA • Procure alimentar-se adequadamente, pois a fome aumenta a vontade de beber; • Pratique exercícios físicos (futebol, ginástica, natação, ioga), atividades de lazer (jardinagem, pescaria, pintura, música, culinária, dança), e procure contato com a natureza e animais, pois podem ajudá-lo a descobrir novas fontes de prazer; • Evite o isolamento social, cultive amizades, procure grupos na sua comunidade que possam ajudar você e sua família a enfrentar o alcoolismo; • Durante o tratamento se você sentir vontade de beber ou se voltar a fazê-lo, procure a unidade de saúde. VOCÊ GANHARÁ: VOCÊ PRECISARÁ: Estilo de vida mais saudável Estados emocionais positivos Melhores possibilidades para o trabalho e para as relações familiares Desintoxicar-se Evitar companhia e local que incentivem o uso Mudar estilo de vida Sua proposta de tratamento é: 104 Curitiba ___/___/_____ Assinatura do Paciente Equipe de Saúde SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ANEXO 3 FICHA DE CONTENÇÃO Nome: ______________________________________________________________ Ficha familiar ou prontuário no.:__________________________________________ Médico Responsável: __________________________________________________ 106 Horário FC PA FR Obs.: 107 NOTAS 107 NOTAS 1 No modelo bio-psico-socio-espiritual a inclusão do espiritual não se dá sob uma perspectiva religiosa, mas trata do reconhecimento destas quatro dimensões da pessoa, e está de acordo com o modelo integrado da Saúde Mental Comunitária (Elias, J., Curso de Especialização em Saúde Mental Comunitária, PUC, 1995); 2 Sempre preencher ficha de notificação e entrar em contato com o SOS criança; 3 Lapso – é entendido como um “deslize”, onde o indivíduo entra em contato com a bebida sem caracterizar uma recaída total. Deve ser encarado como uma oportunidade de aprendizagem, pois permite que sejam avaliados os fatores envolvidos na sua ocorrência para que sejam evitados, ou solucionados de forma mais saudável, futuramente; Recaída – é o retorno ao consumo de álcool nos mesmos padrões anteriores ao tratamento. Freqüentemente na recaída o consumo é, na verdade maior que o anterior; 4 Estes estresses estão relacionados às fases do ciclo de vida, ou seja: casal jovem com filhos pequenos, com filhos adolescentes, “síndrome do ninho vazio”, etc; 5 Sempre preencher ficha de notificação e entrar em contato com o SOS criança. 108 108 109 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental disorders, 4 ed. Washington DC : American Psychiatric Association, 1994. DUNCAN, B. B., SCHMIDT, M. I., GIULIANI, E. R. J. et Al. Medicina ambulatorial: Condutas clínicas em atenção primária. Porto Alegre : Artes Médicas, 1996 FLECK, M. P. A.; Diretrizes para o tratamento da Depressão (Versão Integral), Rio de Janeiro : Associação Brasileira de Psiquiatria, 2001 KAPLAN, H. I., SADOCK, B. J. Kaplan and Sadock’s Synopsis of Psychiatry: Behavioral sciences, clinical psychiatry, 8 ed. Baltimore : Lippincott Williams & Wilkins, 1997. LARANJEIRA, R.; NICASTRI, S.; JERÔNIMO, C.; MARQUES, A. M. et. Al. Consenso sobre a síndrome de abstinência do álcool (SAA) e o seu tratamento. JBDQ, 2000; 1:5-16 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de transtornos Mentais e de Comportamento do CID 10: Descrições Clínicas e diretrizes Diagnósticas. Porto Alegre : Artes Médicas, 1993. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Manual do Programa de Saúde Mental em Curitiba – Mais Atenção Para Quem Precisa, Curitiba : Prefeitura Municipal de Curitiba, 1999. OPAS/OMS. Relatório sobre a saúde no mundo 2001. Saúde Mental : Manual do Programa de saúde Mental em Curitiba – Mais Atenção Para Quem Precisa, Curitiba : Prefeitura Municipal de Curitiba, 1999. MENDES, E. V. Os grandes dilemas do SUS : Salvador, Casa da Qualidade/Instituto de Saúde Coletiva da UFBa, 2001. Prefeitura Municipal de Curitiba, oficinas ministradas pelo consultor Willians Valentini em 2001. SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ANEXO 2 CONTRATO DE NÃO SUICÍDIO PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTRATO DE COMPROMISSO Eu, ______________________________________________________________ Prometo não tentar me machucar ou me matar e comprometo-me a avisar imediatamente meus pais ou outro adulto responsável se eu pensar em me matar novamente. 105 Assinatura 110 110 SAÚDE MENTAL EM CURITIBA ORGANIZADORAS: Cristiane Honório Venetikides Danuza Menezes Maceno Eleuza Alves de Oliveira Luzia Viviane Fabre Nadia Veronica Halboth Mariangela G. Simão COLABORADORES: Andreia C. Litwinski Ribeiro Aparecida Conceição de Andrade Audrey Rosanna C. Wrublevsky Carmen Lúcia Seibt Cassia Menezes Medeiros Silva Célia Mazza de Souza Claudio Rotenberg Cleuza Peres Carvalho Cristiane Honório Venetikides Cristina Andrade da Silva Daisy Maria Jopper Dalton V. Paiva Abussafi Danuza Menezes Maceno Denise M. Schlichta Ruiz Moreti Edite Klettenberg Rocha Edna Sueli Nishino Eleuza Alves de Oliveira Flávia Vernizi Adachi Isa Hermann Ivete Berkenbrock José Plínio do Amaral Almeida Luciana Varela de Oliveira Luzia Viviane Fabre Marcy Sberzen Marco Antonio R. Bessa Maria Alice Pedotti Maria Amélia Tavares Maria Emi Shimazaki Nadia Veronica Halboth Natália M. Miyake Roberto Ratzke Rogéria Ribas Prestes Rojane da Silva Rosale Aparecida Stoeterau Rosana Maria Colombes Simone Marie Perotta Simone Pizzatto Araújo Tânia M. Cordeiro Ribas Tereza Cristina Andrigueto Tereza Lemler Cani Willians Valentini Júnior Coordenação de Saúde Mental - SMS Coordenação de Saúde Mental - SMS Coordenação de Saúde Mental - SMS Coordenação de Saúde Mental - SMS Distrito Sanitário Boa Vista - SMS Diretora do Centro de Informação em Saúde Distrito Sanitário (DS) Matriz - SMS DS Pinheirinho- SMS Conselho Regional de Psicologia DS Boa Vista - SMS DS Boqueirão - SMS Conselho Regional de Psicologia Psicoterapeuta infantil, de adolescentes e famílias Conselho Regional de Psicologia Coordenação de Saúde Mental - SMS Auditoria Ambulatorial Conselho Regional de Psicologia DS Boa Vista - SMS Coordenação de Saúde Mental - SMS DS Cajuru - SMS DS Boqueirão - SMS Centro Psiquiátrico Metropolitano - SESA Coordenação de Saúde Mental - SMS DS Bairro Novo- SMS DS Boa Vista - SMS DS Matriz - SMS DS Portão - SMS DS Pinheirinho- SMS Coordenação de Saúde Mental - SMS Centro Psiquiátrico Metropolitano - SESA Sociedade Paranaense de Psiquiatria Clínica / Clínica Heidelberg Centro de Informação em Saúde Sociedade Paranaense de Psiquiatria Centro de Informação em Saúde/Normas Técnicas Distrito Sanitário Boa Vista - SMS DS Bairro Novo - SMS Sociedade Paranaense de Psiquiatria Clínica / Clínica Heidelberg DS Bairro Novo - SMS DS Matriz- SMS DS Santa Felicidade - SMS DS Boqueirão - SMS DS Portão - SMS DS Santa Felicidade - SMS DS Santa Felicidade- SMS DS Cajuru - SMS DS Matriz - SMS Consultor do Programa de Saúde Mental “Estamos apoiando o novo protocolo do Programa de Saúde Mental, notamos que o nosso ultrapassado modelo assistencial vem sendo reformado. A assistência à saúde mental estava defasada da moderna psiquiatria, no momento estamos à procura da estrutura assistencial adequada.” “O Conselho Regional de Psicologia – 8ª Região apoia o Protocolo do Programa de Saúde Mental, visto ser um trabalho comprometido com a ética e a cidadania conectando cada ação em prol de uma comunidade mais saudável e integrada nas suas diferenças” “ Todas as iniciativas que visem aperfeiçoar os serviços de saúde e, em especial o atendimento psiquiátrico, prestados a nossa população devem ser incentivadas. O Protocolo do Programa de Saúde Mental de Curitiba é um belo exemplo que merece nosso apoio.”