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Florianópolis, 16 de janeiro de 2017

No período do verão, a Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Diretoria de Vigilância Epidemiológica, comumente registra um aumento significativo de acidentes com animais marinhos. Somente no último final de semana, segundo o Corpo de Bombeiros MIlitar de SC, foram 6.665 ocorrências de água-viva em todo o Litoral catarinense. Tal fato se relaciona com o grande potencial turístico do litoral catarinense, com as praias catarinenses recebendo milhões de banhistas a cada ano. Somam-se a isto as características biológicas dos cnidários ((hidras, medusas ou água-vivas, corais e anêmonas-do-mar), que são animais invertebrados exclusivamente aquáticos, com ampla distribuição geográfica, sendo mais comuns em regiões onde há águas quentes, rasas e limpas nos oceanos e que sofrem mudanças importantes no seu quantitativo populacional por fatores inerentes às espécies e às condições meteorológicas e oceanográficas regionais (podem ser carregadas pelas correntes marítimas). Além disso, é no verão que ocorre a reprodução desses organismos contribuindo para aglomeração e seu aparecimento no litoral, fazendo com que algumas temporadas apresentem um grande número de acidentes.

 

No final de 2016, alguns estados brasileiros já detectaram um aumento no número de acidentes com os cnidários, sendo que o Paraná já identificou mais de 4 mil acidentes entre 20 de dezembro e 3 de janeiro de 2017 - um incremento de 155% em relação ao ano anterior. Em Santa Catarina, o Corpo de Bombeiros Militar, órgão responsável pela segurança e atendimento inicial aos banhistas que tenham contato com animais aquáticos, não identificou até o momento aumento no número de acidentes em relação aos anos anteriores.

 

As características dos acidentes podem variar muito, dependendo da espécie e da forma do animal, que podem ser fixas a um determinado substrato, denominados pólipos, ou formas livres, denominadas medusas. As medusas podem ser relativamente pequenas (alguns milímetros), mas as espécies maiores podem atingir os 2 metros de diâmetro e apresentar tentáculos com mais de 10 metros de comprimento.

 

O contato de cnidários com humanos, provocando envenenamentos, ocorre de maneira ocasional, fortuita, ou pela manipulação deliberada dos animais, tendo em vista um aspecto biológico importante desses animais, que não atacam seres humanos premeditadamente, uma vez que não apresentam boa capacidade natatória, não possuem capacidade de orientação em grandes distâncias, e tampouco olhos formados capazes de definir imagens de seus alvos.

O ser humano ao entrar em contato com as toxinas pode desenvolver os seguintes sinais e sintomas: ardência e dor intensa nos pontos de contato, eritema e bolhas, podendo também apresentar necrose superficial, e nos casos mais graves, vômitos, câimbras, desmaios, convulsões, arritmias cardíacas e problemas respiratórios. As espécies presentes em Santa Catarina raramente causam quadros graves.

 

Um ponto importante a ser salientado é que desde 2007 pesquisadores têm publicado casos de acidentes no estado pela medusa dedal (Linusche unguiculata), que foi encontrada na reserva do Arvoredo em 2001. Os acidentes por esta medusa têm algumas características diferentes: ela é responsável pela “erupção” ou “prurido do traje de banho”, uma dermatite intensamente pruriginosa que ocorre em áreas do corpo cobertas por trajes de banho e áreas de dobras cutâneas após exposição à água do mar, e que pode durar até duas semanas. O quadro ocorre por proliferação intensa e aprisionamento de larvas plânulas de Linusche unguiculata sob os trajes dos banhistas, que sem poder escapar, disparam seus nematocistos (células urticantes de defesa), provocando uma erupção pápulo-eritemato-pruriginosa. Situações diversas, como a pressão contra uma prancha de surfe ou aderência em pelos ou áreas intertriginosas poderiam explicar o envolvimento de áreas expostas vistas com menor frequência. Acometem com mais frequência crianças e surfistas, provavelmente pelo maior tempo de exposição à água. O diagnóstico diferencial é o prurido do nadador (causado pelo contato em água doce com cercarias de Schistosoma sp.), picadas de insetos, dermatite alérgica, escabiose. O tratamento pode ser feito com anti-histamínicos sistêmicos, corticoides tópicos e em casos mais severos, corticoides sistêmicos.

Neste verão, o município de São Francisco do Sul já identificou casos compatíveis com erupção do traje de banho, que estão em investigação.

 

Cuidados gerais na hora do acidente:

  • Os tentáculos devem ser removidos usando luvas, pinça ou lâmina, e nunca tocando com a mão nua
  • Aplicar compressas de água gelada, do mar ou de gelo
  • Não esfregar a região do ferimento
  • A aplicação de compressas de vinagre desativa o veneno
  • Nunca urinar sobre o local, nem lavar com água doce
  • Não aplicar qualquer outra substância sobre o local e se dirigir com urgência ao serviço de saúde mais próximo.

 

Mais informações:

Núcleo de Comunicação da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde