O período de amamentação nem sempre flui facilmente: conseguir a pega correta do bebê, superar a dor a cada mamada e a ausência de uma noite bem dormida. Em tempos de pandemia novas questões surgiram. Para buscar a superação deste momento delicado, novas maneiras de orientar e dar suporte a mães foram criadas, como grupos em redes sociais.
Foto: Mauricio Vieira/Secom
Uma das experiências bem sucedidas no apoio às mães ocorre no Banco de Leite Humano da Maternidade Darcy Vargas (MDV), em Joinville, referência estadual e um dos 13 da rede de bancos de leite de Santa Catarina. A pandemia de Covid-19 impôs restrições severas como a impossibilidade de atendimento às pacientes externas. Para atender a demanda, foram criados grupos de WhatsApp e um sistema de orientação por telefone. A ação buscou levar informações e soluções pertinentes às mulheres que estão amamentando.
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De acordo com a médica Cláudia Bortolaso Pinto, coordenadora do Banco de Leite da MDV, o grupo reúne em torno de 40 mulheres e serve para definir as questões de doação do leite materno e rastrear a situação da saúde dessas mulheres em relação à pandemia. “Tivemos em julho um estoque de 77 litros de leite humano para atendimento dos bebês na UTI Neonatal”, disse. “Nosso grupo tem mantido o contato quase que diário com essas mães, tirando dúvidas sobre amamentação, rastreando se elas tiveram sintomas ou contatos com pessoas infectadas pela Covid-19, além de oferecer suporte em relação a este momento delicado de pandemia pelo qual passamos”.
Foram realizadas diferentes ações, entre elas a divulgação de pequenos vídeos com orientações sobre problemas comuns e trocas de experiências por meio de depoimentos compartilhados entre as integrantes do grupo.
Dificuldades para além da pandemia
Hoje, com seu filho Théo de 3 meses, a servidora da Maternidade Carmela Dutra lembra todos os obstáculos que enfrentou para chegar ao aleitamento materno exclusivo e prazeroso: pega incorreta, muita dor, mastite. Não desistiu, como funcionária da saúde e com muita informação, foi atrás de profissionais que a ajudaram a manter o propósito de amamentar seu bebê.
“Acredito que a pandemia intensificou a insegurança e tornou a amamentação ainda mais difícil, principalmente para as mães de primeira viagem como eu”, afirma. “Tive que lidar com o medo de sair de casa com um recém-nascido em meio a uma pandemia e ter que adotar todas as medidas possíveis de proteção ao procurar atendimento, além da dificuldade pra conseguir esse atendimento, pois o banco de leite da Carmela deixou de atender pacientes externas nesse período”.
Alimento que ajuda na imunidade
O leite materno é o único alimento que um bebê precisa nos seus seis primeiros meses de vida, além disso, com ele o bebê recebe os anticorpos da mãe que o protegem contra várias doenças entre elas diarreia e infecções, principalmente as respiratórias. O risco de asma, diabetes e obesidade é menor em crianças amamentadas, mesmo depois que elas param de mamar.
A amamentação ainda ajuda a desenvolver a face da criança, auxiliando na formação de dentes fortes, desenvolve a fala e faz com que tenha uma boa respiração.
Por isso, este mês é conhecido como Agosto Dourado - por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação e a cor dourada estar relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. O mês do Aleitamento Materno no Brasil foi instituído pela Lei nº 13.435/2017 que determina que, no decorrer do mês de agosto, sejam intensificadas ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno.
Para 2020, o tema escolhido foi "Apoie o aleitamento materno para um planeta mais saudável”. A amamentação é um dos melhores investimentos para salvar vidas infantis e melhorar a saúde, o desenvolvimento social e econômico dos indivíduos e nações. Criar um ambiente propício para padrões de alimentação infantil ideais é um imperativo da sociedade.
Aleitamento em tempos de Covid-19
Mesmo em tempos de coronavírus e uma mãe infectada o aleitamento materno precisar ser mantido. O médico infectologista da Dive Eduardo Campos de Oliveira explica que se os sintomas da mãe forem leves, ela pode continuar levando o filho ao peito desde que observadas as regras básicas como o uso das máscaras e boa higienização das mãos e das mamas.
Caso a mulher tenha sintomas muito intensos como muita tosse e coriza, que dificultem o processo de amamentação, o leite pode ser retirado com bomba e oferecido ao bebê.
Outras orientações
- Na alta hospitalar, a mãe e o bebê que precisarem de acompanhamento relacionado à amamentação deve retornar para o ambulatório do Banco de Leite Humano (BLH);
- Casos e informações sobre ingurgitamento mamário, suspeita de mastite, febre relacionado às mamas devem passar pela triagem da emergência da maternidade. Após, ser encaminhada para o BLH;
- Mães com sinais de gravidade de Covid-19 ou outras complicações que as impeçam de cuidar de seu bebê ou de continuar a amamentação direta, sempre que possível, devem ser incentivadas e apoiadas a retirar e fornecer com segurança o leite materno ao bebê, aplicando medidas apropriadas para o controle e prevenção de infecções.
- Todas as mães devem receber apoio prático que permita iniciarem e estabelecerem a amamentação de forma segura e melhor possível a fim de que saibam lidar com as dificuldades comuns do aleitamento materno, incluindo medidas de controle e prevenção de infecções.