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ÉPOCA DE RISCOS
Época de risco

O outono avança, o inverno se aproxima inexoravelmente, e com a chegada do frio, atitudes corriqueiras – como permanecer em espaços fechados com pouca circulação de ar ou usar roupas que estavam guardadas por muito tempo – podem acarretar as temidas gripes e os não menos desagradáveis resfriados. Variações térmicas muito bruscas aumentam a chance de pegar gripe. A umidade e o frio – assim como o ar seco em excesso – podem desencadear crises de asma e rinite. O alto nível de poluição atmosférica aumenta os casos das doenças respiratórias, inflamatórias e alérgicas.

No entanto, mesmo que nem todas as doenças de inverno possam ser evitadas, é possível reduzir os riscos. Confira alguns cuidados básicos que podem ajudar na prevenção.


 

 


Carmela Dutra registra 400 nascimentos por mês e diferencia-se pela qualidade no atendimento
Com 58 anos de atividades, a “maternidade dos manezinhos” ainda é referência na Grande Florianópolis
 

Saraga Schiestl

Florianópolis 


Quem tem mais de 18 anos sabe: certificado de manezinho é autenticado no lugar onde se nasceu. Até 1995, eram as maternidades Carmela Dutra e Carlos Corrêa que dividiam a responsabilidade pelos nascimentos em Florianópolis e parte da região metropolitana. Mas é a Carmela – como é conhecida pelos quatro cantos da cidade – em que ainda se mantém com um ritmo elevado partos. Todos os meses 400 bebês saem das portas do prédio, inaugurado em 3 de julho de 1955 como a primeira maternidade pública de Santa Catarina.

Andreza nasceu na Carmela e decidiu ter a filha, Eloá na mesma maternidade

A marca dos 400 nascimentos todos os meses é mantida desde 1996. Ou seja, nesses 16 anos as equipes da Carmela colocaram no mundo uma população de 78.400 manezinhos e manezinhas. Mas apesar da intensa procura, as mães que optam pela maternidade não encontram quartos ultramodernos. Elas se recuperam dos partos em alas simples, com quartos duplos divididos por cortinas.

O que diferencia a Carmela das outras opções existentes é a tradição e também a histórica qualidade do serviço. O local é referência em Santa Catarina para o acompanhamento de gestantes de alto risco e, mesmo realizando mais de 24 mil partos nos últimos cinco anos, nenhuma mãe morreu em decorrência do nascimento do bebê dentro da Carmela. Tal marca rendeu à maternidade o prêmio nacional Dr. Pinotti de Hospital Amigo da Mulher que será entregue na próxima terça-feira, em Brasília. Apenas três hospitais brasileiros receberão a condecoração.

“Devemos esse prêmio a todo o trabalho feito na maternidade. Temos o cuidado de manter internadas todas as mães que correm algum risco. Há casos de gestantes que ficam conosco durante 60 dias até terem o bebê em segurança”, afirmou o diretor da Carmela Dutra, Ricardo Maia.

Mas o prédio de 58 anos começa a dar sinais de que precisa ser ampliado. O número de gestantes que cresce a cada dia obrigou a direção a elaborar um projeto para aumentar o espaço. A Secretaria de Estado da Saúde já aceitou o projeto, mas ainda não há prazo para execução. “Quando ficar pronto o novo prédio saltaremos de 112 leitos para quase 300”, completou.

Maternidade para todas as classes

Mesmo sem saber, os recém-nascidos Eloá Martins dos Santos e Lorenzo Goulart de Godoes, os dois com quatro dias de vida, têm algo em comum com o tenista Gustavo Kuerten, o Guga. As mães dos três optaram em dar a luz a seus bebês na Carmela Dutra. O que os separa são 36 anos de diferença, quando Alice Kuerten, a mãe de Guga, teve o filho – que se transformaria no tenista mundialmente conhecido – no centro obstétrico da Carmela Dutra.

A atenção dos funcionários e a confiança são valores passados de mãe para filhas, fato que faz com que maternidade entre na terceira geração de nascimentos. É o caso da mãe de Eloá, Andreza Corrêa dos Santos, 20, que nasceu na Carmela e voltou para ter a filha. “Acho que toda a mãe fica com um pouco de receio antes de ter o bebê, mas fiquei tão a vontade aqui que me senti muito mais segura”, garantiu Andreza que recebeu das enfermeiras todas as indicações sobre a amamentação e os primeiros cuidados com a filha.

Natural do Rio Grande do Sul, Kelem Goulart, 35, teve dois dos quatro filhos na Carmela. Enquanto mima o pequeno Lorenzo, ela conta que além de saber da tradição da maternidade, opta por ela pelos cuidados dos médicos em partos mais complicados, como foi o caso dela, que precisou de uma cesariana.

Hoje o desafio da Carmela é manter o ritmo de partos, incentivando sempre as mães pelo parto normal que oferece recuperação muito mais rápida às gestantes e menos riscos aos bebês. “Toda a mãe que chega aqui prestes a ter o bebê tem como primeira opção o parto normal, porém, se houver necessidade, não pensamos duas vezes antes de fazer a cesárea”, destacou o diretor da maternidade, Ricardo Maia. Por receber gestantes de alto risco, a Carmela não consegue baixar o índice de cesáreas, que hoje está em 38%. “Queremos reduzir para 30% e conseguirmos nos adequar ao que é indicado pelo Ministério da Saúde”, completou.

Banco de leite pioneiro

Além de pioneira no atendimento público às mães, a Carmela Dutra foi a primeira maternidade de Santa Catarina a desenvolver o banco de leite humano, inaugurado em 1976. Desde então, a equipe incentiva mães que têm leite sobrando das mamadas dos seus bebês a doarem àqueles recém-nascidos prematuros que as mães não têm como amamentar.

Por mês são recolhidos 60 litros de leite e todos os dias a maternidade gasta dois litros para alimentar os bebês internados muitas vezes nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) neonatais. Líquido precioso para a recuperação dos pequenos, garantiu a enfermeira Jaqueline Cavalheiro Locqs, responsável pelo banco. “Apesar de parecer pouco, temos uma demanda muito grande. Por isso, todas doações são bem vindas”, destacou.

Para doar, o banco exige que a mulher seja saudável e não tenha doenças transmissíveis como hepatite tipo B e o HIV. Os responsáveis pelo banco vão até a casa das mães para recolher o leite, que é colocado em frascos de vidro e congelado. “Ao chegar ao hospital o leite passa por um processo de pasteurização e também de análise química para garantir a qualidade dele”, explicou. 

A preocupação com a amamentação é tão grande dentro da Carmela Dutra que as mães e bebês só são liberados quando o aleitamento acontece efetivamente. No banco de leite e nos quartos, enfermeiras auxiliam as mães nas primeiras mamadas.

Família Carmela

Foi em um livro de registros que a auxiliar do setor de Recursos Humanos da maternidade Carmela Dutra, Odalete Odília Nunes Leal, 43, conheceu o começo da sua história. Ela que começou a trabalhar há 20 anos na maternidade como auxiliar de serviços gerais, nasceu na Carmela em 1969. Curiosa, procurou nas páginas amareladas do livro pelo dia em que nasceu e se encontrou. “Estava lá, o nome da minha mãe e o horário do meu nascimento, às 19h. Foi emocionante”, recordou.

Mais do que o lugar que Odalete dedica-se ao trabalho, a Carmela transformou-se num marco para a família da auxiliar. Além de nascer ali, ela teve os dois filhos de 26 e 21 anos nas salas de parto da maternidade. “Boa parte da minha família nasceu aqui. Minha mãe teve oito filhos na Carmela e eu já falei para a minha menina que meus netos nascerão aqui também”, garantiu Odalete que no começo da carreira limpava as salas de parto e, mesmo que indiretamente, participou do nascimento de centenas de meninos e meninas. “De vez em quando vem alguma mãe aqui e diz pro filho ‘olha, ela estava no consultório no dia em que você nasceu’”, contou orgulhosa. 

Odalete trabalha há 20 anos na Carmela DutraMesmo sem ter nascido na Carmela Dutra, o funcionário do setor administrativo da maternidade, Geraldo Ramos, fez questão de que seus dois filhos nascessem ali. Para ele, trabalhar em uma maternidade é especial. Ouvir o chorinho dos bebês tornou-se a música de todos os dias. “Aqui é um lugar especial porque trabalhamos com a vida, ao contrário dos hospitais comuns”, resumiu.

A região também depende da Carmela

Nos quase 58 anos de existência, a Carmela Dutra fez diferença no cuidado das mães e recém-nascidos da Grande Florianópolis. Na cidade de Palhoça, por exemplo, não há maternidade, por isso boa parte dos palhocenses também têm em sua certidão de nascimento a presença da Carmela.

É o caso da família Marques. Pai, mãe, filhos e agora até os netos saíram de Palhoça para nascer na maternidade mais antiga de Santa Catarina. “Optamos pela Carmela porque é tradicional, o lugar é simples, mas você sabe que vai sair de lá bem atendido”, afirmou o militar Aroldo José Marques, 49.

A dona de casa Arli Raimundo Marques, 41, nasceu na Carmela e ainda mantém com todo o cuidado a certidão, já amarelada pelo tempo. O orgulho em ter nascido na maternidade é tanto que ela fez questão de ter a segunda filha no mesmo lugar. De lá, ela tem boas lembranças, como a ajuda das enfermeiras que a levavam para ver a menina ainda na incubadora. “Toda a equipe sempre foi muito atenciosa, dava todas as explicações e dicas possíveis”, elogiou.

Números da Carmela

Inauguração: 3 de julho de 1955

Leitos: 112

Nascimentos por mês: 400

Leitos de alojamento para bebês sadios: 43

Leitos de cuidados intermediários: 14

UTIs neonatais: 10