SAÚDE
A carência de pediatras em Joinville
Pais com plano de saúde reclamam que não conseguiram atendimento de urgência para seus filhos na rede privada
1 Alberto Bauer Filho, 44 anos, médico pediatra, morador de Itapoá, trabalha há 12 anos no serviço público da cidade, além de ser o vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde. No dia 8 de maio, precisou levar sua filha, de cinco anos, com urgência ao hospital. Ele suspeitava de apendicite – que necessita de atendimento rápido. Pensou em procurar o hospital que seu plano de saúde atende: Dona Helena, em Joinville. Ao ligar, foi orientado pela telefonista a ir diretamente ao Hospital Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, porque o Dona Helena estava sem cirurgião pediátrico naquele plantão.
2 Adriane Maria de Souza, 28, dona de casa e mãe de duas crianças. Sua filha de sete anos ficou doente, com febre e vômito. Procurou o hospital Dona Helena. Esperou e foi informada que só havia um médico pediatra. Precisou ir para o Hospital Infantil. Uma semana depois, no domingo, o bebê de oito meses apresentou os mesmos sintomas. Ela procurou, mais uma vez, o hospital particular. Novamente foi orientada a buscar ajuda na rede pública. Como o Infantil estava lotado, Adriane só foi atendida do Pronto-atendimento (PA) Sul.
O que estes dois relatos têm em comum? Os dois pais sentiram na pele a dificuldade da rede de saúde privada e da pública em atender à demanda com um quadro clínico reduzido. O problema não é exclusivo de Joinville. Ocorre em todo o País: os médicos preferem não trabalhar em hospitais ou na rede pública. No caso da especialidade mais procurada – a pediatria – a preocupação é ainda maior.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de 2001 a 2011 o número de especialistas recém-formados no atendimento a crianças apresentou uma queda de 30,4%. O mesmo ocorre com cirurgiões pediátricos, uma especialidade ainda mais escassa.
O desinteresse tem reflexos em Joinville. Não existe uma estatística de pediatras na cidade, mas estima-se que sejam cerca de cem para atender às redes pública e privada em hospitais e consultórios.
A unidade que foi alvo das duas reclamações, o Hospital Dona Helena, que é particular, conta com dois plantonistas (pediatras) por turno. Nas segundas-feiras, em alguns casos, este número pode chegar a três. Mas a dificuldade em remanejar os especialistas para trabalhar no fim de semana é grande. Problemas como filas de espera e falta de médicos são frequentes. De forma geral, afirmou o diretor clínico da unidade, Marcos Antônio Navarro, apesar da demora, todos os pacientes são atendidos. Os casos de emergência são priorizados.
“Estamos procurando médicos aqui na cidade, fizemos nossa oferta, estamos avaliando o reajuste salarial. Mas está difícil. Estamos procurando especialistas de outras cidades, mas precisamos priorizar as qualificações. Não pode ser qualquer um”, explicou o diretor.
CAROLINE STINGHEN
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Conselho pede investigação
O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Valmor João Machado, disse que essa situação é difícil de ser aceita. “O hospital, particular ou público, precisa avaliar e atender todos os pacientes que chegam nos prontos-socorros. O pediatra é indispensável. Se o paciente tem plano de saúde que cobre pediatria, ele precisa ser atendido”, enfatizou.
A reclamação contra o Dona Helena chegou ao conselho na semana passada. Segundo Valmor, também houve reclamações contra o Hospital da Unimed. Um pedido de investigação contra as duas unidades já foi enviado aos Ministérios Públicos Estadual e Federal. O assunto também será debatido na próxima reunião do conselho, em 29 de maio.
Na Unimed, casos de emergência também ganham prioridade. A unidade informou, por meio de sua assessoria, que somente nas situações que necessitam da internação em uma unidade de tratamento intensivo (UTI) infantil é que o paciente é obrigatoriamente transferido ao Hospital Infantil, única unidade em Joinville a contar com o serviço. As demais situações são todas atendidas no próprio hospital.
“Mas como uma cidade do porte de Joinville só tem uma UTI Infantil? A saúde na cidade precisa receber mais atenção. A população tem direito constitucional em ser atendida”, desabafou o médico de Itapoá e pai Alberto Bauer.
Estrutura e salário
Falta de estrutura e de condições de trabalho, associada a baixos salários, têm sido os motivos da debandada dos especialistas, sobretudo dos pediatras. “Os jovens médicos não procuram mais fazer concursos públicos ou se especializar em pediatria. Existem outras especialidades mais atrativas. Em atendimentos pediátricos, por exemplo, uma criança acaba voltando várias vezes ao consultório, e o médico é remunerado apenas por uma consulta”, explicou o presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Vicente Pacheco Oliveira. A falta de estrutura em unidades públicas também traz insegurança. “Se ocorrer algum problema por causa das condições precárias, o médico é penalizado”, completou Pacheco.
Segundo ele, para o trabalho ser mais atrativo, os salários precisam ser mais competitivos com o mercado. “E os hospitais e unidades de saúde precisam garantir melhores condições de trabalho.”
Se pediatria está difícil, imagine a área de cirurgia pediátrica. O motivo é o mesmo. Na região Sul do País, há apenas 238 médicos nesta área. Em comparação, são mais de 5,3 mil pediatras, segundo pesquisa do Conselho Federal de Medicina divulgada neste ano.
CONTRAPONTOS
Plano de saúde que atende ao médico de Itapoá que não pôde ser atendido no Hospital Dona Helena, a Agemed informou que irá apurar a situação. O departamento jurídico afirma que o hospital particular é referência em Santa Catarina e que em horários de pico ou dependendo da especialidade, o médico do hospital tem autonomia para encaminhar um paciente para outra unidade conveniada ou, se for em caso de emergência, para o hospital mais próximo.
O Hospital Dona Helena enviou aos planos de saúde uma explicação sobre a falta de médicos pediatras. O diretor clínico da unidade, Marcos Antônio Navarro, afirmou no ofício que os pacientes, assim que chegam, são informados do tempo médio de espera para o atendimento e que casos de emergência e urgência têm prioridade.
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Demanda sobrecarrega o Infantil
Com a situação problemática nos PAs e no Dona Helena, a demanda do Infantil aumentou. Mas, de acordo com a assessoria de imprensa da unidade, esse tipo de situação não é comum. Não é praxe pacientes de unidades particulares serem encaminhados ao Infantil. Apenas quando é necessária uma internação na UTI Infantil.
A situação no Infantil piorou na última semana por causa da greve dos servidores públicos. O movimento no pronto-socorro da unidade subiu 38%. Há filas, mas todos os pacientes são atendidos. Casos de emergência ganham prioridade e podem gerar descontentamento. Na última quarta-feira, por exemplo, pais ficaram revoltados com a demora e iniciaram um pequeno tumulto à noite. A Polícia Militar precisou ser chamada para conter os ânimos.
O hospital conta com o quadro completo de médicos e especialistas. Apesar disso, há divulgação para a contratação de especialistas em neurologia e dermatologia.
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Nos postos, também faltam profissionais
Na rede municipal, os postos de saúde são abastecidos por 44 pediatras e ainda pelos médicos do Programa de Saúde da Família (PSF). O problema está nos dois prontos-atendimentos da cidade e agora na nova Unidade de Pronto-atendimento (UPA). Faltam seis médicos pediatras plantonistas para cumprir uma carga horária de 60 horas semanais.
O PA Sul, por ser o mais movimentado, conta com pediatras 24 horas. A média é dois por turno. O PA Norte não tem profissional especializado. As famílias são orientadas a procurar o PA Sul ou o Hospital Infantil, que fica próximo. Já o PA Leste conta com alguns horários defasados.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a contratação para médicos interessados nessas vagas é imediata. “Estamos resolvendo a situação com horas extras aos médicos que já atuam na rede”, informou a assessoria de imprensa.
O Hospital Dona Helena também procurou médicos pediatras da rede pública para assumir horários na rede privada, mas os pediatras estão sobrecarregados.
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Advogado orienta conveniados
No caso de unidades particulares ou de planos de saúde, o advogado e especialista em direito civil e do consumidor, Luiz Fernando Harger Silva, acredita que o conveniado deva procurar seu plano e informar que o hospital indicado não conta com determinado especialista ou tratamento. “A primeira orientação é procurar as vias pacíficas, como o Departamento de Proteção ao Consumidor, porque trata-se de uma relação de cliente e empresa. Se o hospital não atende aos requisitos apresentados pelo plano, o convênio precisa cadastrar outros hospitais”, explicou Silva.Se a demora no atendimento prejudicar o paciente, ele pode entrar com um processo contra o hospital e o plano de saúde.
DEMANDA REPRIMIDA
Faltam pediatras em Joinville
As redes de saúde privada e pública de Joinville enfrentam problemas em atender à demanda com um quadro de pediatras reduzido. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de 2001 a 2011, o número de especialistas recém-formados no atendimento a crianças apresentou uma queda de 30,4%.
O desinteresse tem reflexos em Joinville. Não se conhece exatamente o número de pediatras atuando na cidade, mas estima-se que sejam cerca de cem para atender às redes pública e privada em hospitais e consultórios.
O Hospital Dona Helena, que é particular, conta com dois plantonistas (pediatras) por turno. Mas a dificuldade em remanejar os especialistas para trabalhar no fim de semana é grande. Problemas como filas de espera e falta de médicos são frequentes. De forma geral, afirmou o diretor clínico da unidade, Marcos Antônio Navarro, apesar da demora, todos os pacientes são atendidos. Os casos de emergência são priorizados.
O presidente do Conselho Municipal de Saúde, Valmor João Machado, disse que essa situação é difícil de ser aceita.
– O hospital, particular ou público, precisa avaliar e atender todos os pacientes que chegam nos prontos-socorros – enfatizou.
Na Unimed, casos de emergência também ganham prioridade. A unidade informou, por meio de sua assessoria, que somente situações que necessitam da internação em uma Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) infantil é que o paciente é obrigatoriamente transferido ao Hospital Infantil, única unidade em Joinville a contar com o serviço.
Os postos de saúde do município contam com 44 pediatras e médicos do Programa de Saúde da Família (PSF). O problema está nos dois prontos-atendimentos e na nova Unidade de Pronto-atendimento (UPA). Faltam seis pediatras para cumprir uma carga horária de 60 horas semanais.
DOAÇÃO DE SANGUE
Hemosc promove coleta
A Secretaria da Saúde de Balneário Camboriú, em parceria com o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc), promove a Campanha de Doação de Sangue hoje, na quinta-feira e na próxima terça-feira, das 8h às 11h30min e das 13h30min às 16h30min, na Praça Almirante Tamandaré, na Avenida Atlântica. A equipe do Hemosc realizará a coleta de sangue por meio da distribuição de senhas. São 100 senhas por dia: 50 no período da manhã e o restante na parte da tarde.
O candidato à doação passará por um processo de triagem, onde será fundamental prestar todas as informações solicitadas, Sendo aprovado, será retirado em torno de 450 ml de sangue e leva em torno de sete minutos. Todo material utilizado é descartável. Para poder realizar a doação é preciso ter entre 18 e 65 anos e pesar no mínimo 50 quilos. De acordo com o Hemosc, é necessário aguardar 30 dias após a vacina da gripe para doar sangue. Para doar é preciso levar um documento de identidade.
Balneário Camboriú