AN.PORTAL | JEFFERSON SAAVEDRA
ORTOPEDIA LIDERA FILA DO HOSPITAL SÃO JOSÉ
A ortopedia lidera com folga a lista de espera por cirurgias eletivas, marcadas com antecedência, no Hospital São José de Joinville. A relação, obtida pelo vereador Patrício Destro, aponta 4,1 mil pessoas aguardando para serem operadas. Procedimentos como retirada de pinos, melhorias em articulações (artodrose e artoplastia) e reconstruções de ligamentos estão entre as cirurgias mais procuradas. Quase 400 pacientes aguardam por operação de varizes. Dos 4,1 mil pacientes da fila, 3,5 mil são de Joinville. A maioria das cirurgias foram marcadas entre 2009 e 2011, mas há casos, isolados, de até 2004. A falta de leitos no São José é o principal motivo da fila das eletivas se esticar.
RECONSTRUÇÃO
Mãos à reconstrução
Aos poucos, o Hospital Santa Tereza, em São Pedro de Alcântara, muda a sua imagem e, com a ajuda dos funcionários, tenta dar um novo colorido ao dia a dia de pessoas que moram no local há muito tempo
À noite, Amilton Laurentino trabalha na enfermaria, zelando por pacientes. De dia, atua como pedreiro no Hospital Santa Tereza de Dermatologia. A instituição, em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, é o último local isolado para pacientes hansenianos em Santa Catarina.
Fundada em 1940, a construção original está sendo recuperada. Os trabalhos mais complexos são executados por empresas contratadas pelo Estado. Os que não exigem mão de obra especializada são feitos por um grupo de 15 dos cem funcionários do hospital.
A instituição (Colônia Santa Tereza) foi construída como uma pequena vila, formada por 30 casas padronizadas – residências para os casados – e 12 pavilhões para os solteiros e as crianças. No local, havia prefeitura, delegacia, cinema, escola e outros serviços.
Atualmente, além de 29 hansenianos, a unidade abriga 42 pacientes de psiquiatria e outros 20 de clínica médica. Como unidade de retaguarda do Hospital Regional de São José, um dos pavilhões recebe diariamente pacientes em fase final de tratamento daquela instituição. O grupo permanece apenas em observação, recebendo pequenos cuidados. Até o final do ano, este número deve aumentar.
Com 28 anos de serviço público, e até um ano atrás atuando na Colônia Santana, Amilton ajuda na reconstrução no horário oposto ao plantão: das 7 às 11h30 e das 14 às 17 horas. Na enfermaria, o horário é das 19 às 7 horas. O trabalho como pedreiro e em outros pequenos reparos conta como hora-plantão.
A diretora Teresinha Serrano diz que as características do hospital são bem diferentes das dos demais e revela uma proximidade grande com a comunidade, o que tem impacto nos funcionários. “As famílias de quase todos os nossos funcionários mantêm algum vínculo com a instituição”, observa.
Para a diretora, estas referências também refletem nos cuidados com os pacientes. “Os internos do hospital têm maior expectativa de vida. As pessoas são muito bem tratadas em termos de alimentação, medicamentos e cuidados”, diz Teresinha.
ÂNGELA BASTOS
RECONSTRUÇÃO
Quase sete décadas no hospital
No tempo em que os doentes ainda eram isolados, Angelina Maria Alexandre foi viver aos 14 anos no Hospital Santa Tereza. Ela não esquece a data: 12 de dezembro de 1942. Maria morava na Vila Nova, em Imbituba, quando o padrasto teve hanseníase. Como também contraiu a doença, ela foi levada para a “colônia”.
Ela tem um comportamento alegre e recorda das coisas boas que viveu. “O meu casamento foi o primeiro que teve aqui. Eu e meu marido vivemos 31 anos juntos, mas não tivemos filhos”, conta. Mesmo podendo deixar o local, prefere ficar. Algumas vezes por ano, ela passeia com os amigos internados.
Santa Catarina não foi o único Estado a criar um espaço para isolar os doentes. Mais 22 hospitais, na época chamados de leprosários, foram construídos em todo o País. Medida seguida também em outros países no século 20. Até a década de 1960, a internação era compulsória. A partir daí, ninguém mais foi isolado à força.
À ESPERA DE RESPOSTAS
Uma dor difícil de explicar
Marido enfrenta o drama da morte da mulher após o uso de remédio manipulado
“Eu não encontro a resposta e não há nada que me conforte”, desabafa o engenheiro elétrico Osmari José dos Santos Carvalho, 53 anos. Viúvo há dez meses, ele ainda busca explicações para a morte inesperada da mulher Eduvirges de Amorim Carvalho, 48 anos.
A agente comunitária e o aposentado Renato Wolf, 69, morreraem depois de tomar um remédio manipulado por uma farmácia de Corupá, feito à base de colchicina, usado no tratamento de ácido úrico (gota). Renato morreu no dia 13 de novembro de 2010, e Eduvirges, no dia 26 do mesmo mês, três dias após ter tomado uma cápsula do remédio que era do aposentado.
Eduvirges recebeu o remédio da família de Renato, mas não desconfiava que o medicamento havia tirado a vida do aposentado. Osmari conta que a colchicina era para ele, já que tratava da doença da gota. “Esse medicamento era para eu tomar. Eu devia ter morrido”, desabafa.
O marido da vítima lembra que a esposa não comentou que havia recebido o remédio. “Ela passou o dia inteiro fora de casa e quando voltou reclamou que estava com dores nos pés. Não sei por que achou que o remédio de Renato poderia aliviar a dor dela. Ela nunca foi de tomar remédios, mas naquele dia tomou”, conta.
Osmari só soube que o remédio teria sido o responsável pela morte da mulher depois que amigas dela contaram que Eduvirges comentou que havia ingerido o medicamento de Renato. A informação foi confirmada em uma anotação na agenda da vítima. “Então, o medicamento foi levado para a Vigilância Sanitária e após 45 dias saiu o resultado. Ficou comprovado que a dosagem estava errada. Aí, o caso foi parar na polícia”, conta ele.
Osmari e Eduvirges foram casados por 30 anos. Tiveram quatro filhos. Ele conta que a casa deles estava sempre cheia de amigos e parentes. “A minha mulher era muito alegre. Tudo era em torno dela. Agora, tudo mudou. Meus filhos têm a vida deles. A menor, de 12 anos, mora com uma outra filha. Meus fins de semana são tristes. Nada é mais como antes”, lamenta.
A Polícia Civil de Jaraguá do Sul encaminhou na quinta-feira à Justiça o inquérito que indicia o dono da farmácia e a farmacêutica por homicídio culposo pela morte do aposentado e pela prática irregular. Mas os dois não responderão pela morte de Eduvirges porque o remédio não foi feito para ela. Mesmo assim, Osmari diz que vai procurar a orientação de um advogado para saber que atitude tomar.
“Eu tenho muito carinho pela família do Renato. Mas, agora, a preocupação é de que as pessoas fiquem atentas com esse tipo de remédio. Tem de ter um controle para evitar que mais mortes ocorram”, diz Osmari.
À ESPERA DE RESPOSTAS
Alerta para a automedicação
Mais do que uma tragédia, as mortes de Renato e Eduvirges também revelam uma prática considerada de risco pelos profissionais da área de saúde: a automedicação. O aposentado tomava o medicamento manipulado sem prescrição médica. Segundo a filha dele, Marilene Wolf, há mais de três anos um amigo sugeriu o remédio à base de colchicina porque havia tido um bom resultado. Eduvirges também tomou sem o conhecimento profissional.
O médico Jean Lucht, conselheiro da Associação Médica de Jaraguá do Sul, disse que a automedicação é desaconselhável porque cada pessoa responde de forma diferente ao mesmo medicamento. “O que pode significar a cura para uma pessoa pode ser a morte para outra”, diz o médico. Ele conta que até medicamentos para tratar de dor de cabeça podem prejudicar alguém que tenha algum tipo de alergia e não sabe.
Outra alerta do médico é para os fitoterápicos – remédios à base de plantas medicinais. Segundo o médico, muitas pessoas acham que esses medicamentos não fazem mal e podem tomar de qualquer jeito. “Chegam a dizer: ‘Se fez bem para minha mãe, vai fazer bem para mim também’. Não é assim. Pode dar o efeito contrário. Todos os medicamentos têm uma concentração específica para determinado tipo de tratamento. Cabe ao médico dar a melhor orientação”, orienta Lucht.
A Assossiação Brasileira de Medicina (ABM) também destaca que a automedicação pode mascarar e até atrapalhar diagnósticos na fase inicial de algumas doenças.
Em um levantamento feito pela Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), cerca de 20 mil pessoas morrem por ano no Brasil por causa do uso de medicação sem orientação médica. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxicofarmacológicas mostram que houve 7.117 casos de intoxicações por medicamentos em 2009 na região Sul, representando 26,82% das intoxicações no Brasil, naquele ano – 18 pessoas morreram e 21 ficaram com sequelas.
Visor
CHAMA O AURÉLIO
Informativo distribuído pela prefeitura de Florianópolis sobre a importância de vacinar-se contra a hepatite B criou um novo gênero sexual: os transgênicos. A intenção era alertar as lésbicas, bissexuais e transgêneros (travestis e drags) para os cuidados. Erraram na ortografia. Transgênicos são organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, são modificados. O que não parece ser o caso, né?
Geral
RECONSTRUÇÃO
Com as próprias mãos
Durante anos, o Hospital Santa Tereza, em São Pedro de Alcântara, foi sinônimo de isolamento e visto com preconceito, por reunir os doentes com hanseníase do Estado. Aos poucos, reconstrói sua imagem e, com a ajuda de funcionários, tenta dar um novo colorido ao dia a dia de pessoas que moram ali há tanto tempo que a história de vida até se confunde com a trajetória do local.À noite, Amilton Laurentino trabalha na enfermaria, zelando por pacientes. De dia, atua como pedreiro no Hospital Santa Tereza de Dermatologia. A instituição, localizada em São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, é o último reduto isolado para pacientes hansenianos em Santa Catarina.
Fundada em 1940, a construção original está sendo recuperada. Os trabalhos mais complexos são executados por empresas contratadas pelo governo do Estado. Os que não exigem mão de obra especializada são feitos por um grupo de 15 dos cem funcionários do próprio hospital.
Com isso, a direção espera proporcionar melhor atendimento aos quase cem pacientes internados. Atualmente, além de 29 hansenianos, a unidade abriga 42 pacientes de psiquiatria e outros 20 de clínica médica, sendo adotado como lar por muitos deles.
Como unidade de retaguarda do Hospital Regional de São José, um dos pavilhões recebe diariamente pacientes em fase final de tratamento daquela instituição. O grupo permanece apenas em observação, recebendo pequenos cuidados médicos. Até o final do ano, este número deve aumentar.
Com 28 anos de serviço público, e até um ano atrás atuando na Colônia Santana, Amilton Laurentino considera importante poder trabalhar na obra:
– Acho interessante esta oportunidade de ajudar a manter o local onde trabalho – diz Laurentino.
A atividade é feita no horário oposto ao plantão: das 7h às 11h30min e das 14h às 17h. Na enfermaria, o horário é das 19h às 7h. O trabalho como pedreiro e em outros pequenos reparos conta como hora-plantão.
Teresinha Serrano é diretora do hospital. Formada em Administração de Empresas, ela estudou Administração Hospitalar e é mestre em Saúde Pública. Para a diretora, as características do hospital são bem diferentes das dos demais e revela uma proximidade grande com a comunidade, o que tem impacto nos funcionários:
– As famílias de quase todos os nossos funcionários mantêm algum tipo de vínculo com a instituição. Isso faz com que exista uma aproximação com as pessoas que hoje trabalham na casa – observa Teresinha.
Até a criação do hospital, a vila não existia. Com o surgimento, explica a diretora, várias pessoas que moravam ao redor foram trabalhar ali.
Formou-se uma pequena cidade no meio de uma colônia alemã. Foram criados vínculos dos moradores com a instituição, onde a população aprendeu a lidar com um grande preconceito da época – a psiquiatria era um deles também –, a hanseníase.
Para a diretora, estas referências também refletem nos cuidados cotidianos com os pacientes:
– Os internos do Hospital Santa Tereza vivem mais do que em muitas cidades catarinenses, que já possui uma das taxas mais altas do país. As pessoas são muito bem tratadas em termos de alimentação, medicamentos e cuidados – sugere a diretora.
RECONSTRUÇÃO
Governo criou 33 instituições no país
Santa Catarina não foi o único Estado a criar um espaço para isolar os doentes com hanseníase. Mais 32 hospitais – na época chamados de leprosários – foram construídos em todo o país. A medida foi seguida também em outros países no século 20.
Até a década de 1960, a internação era compulsória. A partir daí, ninguém mais foi isolado à força. O isolamento de antes deu lugar a um tratamento na casa da própria pessoa, porém, com os devidos cuidados para evitar contágios das pessoas próximas.
Em 1940, quando o Hospital Santa Tereza foi criado, a vila tinha moeda própria, cinema, rádio, igreja, cadeia, educandário, padaria, cinema, teatro e campo de futebol. A estrutura física – com 30 casas e 12 pavilhões – tem aproximadamente 9,5 mil metros quadrados e é cercada por um rio. Os prédios são ladeados por ruas e avenidas.
O Teatro Pavilhão Teresa Ramos está em obras. A casa onde morava o padre está sendo transformada em um museu, onde é guardado um acervo com objetos usados no hospital, fotografias e máquinas.
RECONSTRUÇÃO
Serenidade em meio século de cuidados
Aos 79 anos de vida e 50 de religiosa, irmã Adeli passou meio século cuidando dos pacientes do Hospital Santa Tereza. Mesmo quando o isolamento era compulsório, dava as mãos para os internos e brincava com as crianças com a mesma serenidade de sempre.
– Deus me mandou para cá para cuidar das pessoas. Se ele achasse que eu devia ficar doente, eu ficava e pronto.
Na época, recorda, chegaram a ser 13 irmãs franciscanas de São José. Adeli trabalhava na enfermagem, numa função importante: era a responsável por cuidar da dieta dos internos.
Hoje, são três religiosas que trabalham como voluntárias. Antigamente, elas moravam em um prédio separado. Agora, ela e as irmãs Teresa e Teodora vivem numa casa do conjunto.
Irmã Adeli sabe que ajudou a amenizar a dor de muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes, que não entendiam o motivo de serem isolados.
– Era uma realidade dura. Por isso, nos dias de festa, a alegria tomava conta das pessoas. Nem parecia um hospital. Mas depois voltava tudo e a gente precisava continuar – conta.
A hanseníase
O que é?
A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, causada por uma bactéria denominada Mycobacterium leprae. A doença afeta a pele e os nervos. Quase todo o corpo pode ser acometido, mas as regiões mais afetadas são as extremidades (braços, mãos, coxas, pernas, pés) e a face.
Como se pega?
A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, transmitida diretamente da pessoa não tratada para a outra através das vias respiratórias. A doença ocorre em pessoas de ambos os sexos, de qualquer idade, cor ou classe social.
Quando suspeitar de hanseníase?
Quando uma pessoa apresenta um ou mais destes sinais:
manchas esbranquiçadas ou róseas, ou mesmo avermelhadas e acobreadas, que tenham alteração na sensibilidade (dormência); alteração da sensibilidade, principalmente mãos e pés, ou em outras partes do corpo. Também pode haver diminuição da força muscular.
Todo mundo pega?
A maioria das pessoas, mesmo entrando em contato com o micróbio, não adoece porque tem uma resistência natural. Nem todos aqueles que adoecem são capazes de transmitir a doença. Quem transmite são chamados de multibacilares. Com o tratamento, o paciente multibacilar deixa de transmitir a doença.
Tem muita gente com a doença no Brasil?
O Brasil ainda registra 47 mil casos de hanseníase. Em Santa Catarina, são diagnosticados 200 novos casos da doença por ano, o que mantém o Estado dentro da meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece o limite de um doente a cada 10 mil habitantes. O objetivo da OMS é que a doença seja erradicada até o final deste ano.
O tratamento dá certo?
A hanseníase tem cura. O tratamento no Brasil é feito nos centros municipais de saúde (postos de saúde) e os medicamentos são fornecidos gratuitamente. Os pacientes são acompanhados durante todo o tratamento, cuja duração varia de acordo com a forma da doença: seis meses para as formas mais brandas e 12 meses para as formas mais graves.
RECONSTRUÇÃO
Casa de boneca montada na enfermaria
A casa de Angelina Maria Alexandre parece de boneca. Tem tudo no lugar, é limpa e com biscuits espalhados por cima de móveis e nas prateleiras. Sobre a geladeira, a coleção de pinguins. Sentada em uma cadeira próxima da porta, a boneca batizada de Viviane. No braço de Vivi, o relógio que foi de Maria.
Desde os 14 anos no Hospital Santa Tereza, ela ocupa um dos quartos da enfermaria. Prefere morar ali do que nas casinhas destinadas aos internos, onde o espaço seria maior.
– Vivo bem assim. Meu café vem pronto. A enfermeira sempre passa para ver como estou e dar o remédio na hora certa – diz.
Maria morava na Vila Nova, em Imbituba, quando o padrasto teve hanseníase. Como também contraiu, ela foi levada para a “colônia”. Desde então, sua vida tomou um rumo diferente daquele das amigas adolescentes:
– Cheguei aqui em 12 de dezembro de 1942. A gente não esquece da data, que vai carregar para a sepultura – conta.
Mas Maria não é só dor. Ao contrário, tem um comportamento alegre e recorda das coisas boas que viveu.
– O meu casamento foi o primeiro que teve aqui. Eu e meu marido vivemos 31 anos juntos, mas não tivemos filhos.
Durante o ano, ela participa de passeios com os amigos internados. Já foi ao Parque do Beto Carrero, visitou cidades da região do Vale do Itajaí e praias.
Maria conta que nestes quase 70 anos no hospital, nunca teve vontade de sair, mesmo podendo, pois é aposentada. O dinheiro, ela emprega em objetos que lhe trazem mais conforto, como roupas e aparelhos eletrônicos. O presente mais recente que se deu foi um televisor de tela plana.
– Sinto-me amada aqui. A gente se sente solto, todos somos iguais. Não precisamos esconder nada um do outro – conta.
RECONSTRUÇÃO
Cura da doença não livra do preconceito
Com 13 anos e arrancada do convívio familiar no Oeste de SC, a menina se apavorou quando viu tantos aleijados a sua volta. Anos mais tarde, já acostumada à nova realidade, sorriu no altar ao dizer o “sim” dentro da igrejinha da comunidade formada para isolar os ainda chamados de “leprosos”. Hoje, aos 61, fala do convívio com uma doença milenar que já tem cura. O problema é que ainda não existe remédio para se livrar do preconceito.
– Sofri tanto que nem quis voltar para Águas de Chapecó, onde morava minha família. Na escola, a professora me colocou sentada numa classe (mesa) longe dos colegas e avisou para não tocarem em mim e nem deixar eu tocar nas coisas deles.
Irene Terezinha Loureiro passou quase toda a vida no Hospital Santa Tereza. Ali estudou, fez cursos, trabalhou na enfermagem e casou.
Hoje, ela mora com um dos filhos em uma casa próxima. Mas não se desligou da instituição: lava roupas para alguns dos internados. Tem machucados nas pernas e sequelas nos dedos das mãos.
Por recomendação médica, usa colher de pau na cozinha – o que evita queimaduras nas partes onde perdeu a sensibilidade – e foge do sol forte para não abrir feridas.
– Com o tempo, a gente aprende a lidar com as coisas. Pior mesmo é o preconceito, que nunca acaba – diz.
Irene lembra bem quando se sentiu humilhada. Uma vez foi no ônibus para casa:
– Estava lotado e, nas curvas, a gente se encostava um no outro. Percebi que uma mulher foi se afastando, até ficar bem longe. Decerto pensou que pegaria a doença – sugere.
Não menos humilhante, diz, foi na missa:
– Na hora do Pai Nosso, o padre mandou a gente dar as mãos. Quando a mulher viu minhas mãos assim (mostra os dedos sequelados), ela ficou com o braço reto.
Na hora do Pai Nosso, o padre mandou a gente dar as mãos. Quando a mulher viu minhas mãos assim, ela ficou com o braço reto.
UFSC
HU vai receber R$ 7,2 mi
O Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) receberá uma verba de R$ 7,2 milhões do Ministério da Saúde até outubro. O valor será destinado a custeio e reforma da unidade.
Parte dos recursos será investida na implantação de uma emergência psiquiátrica, que será instalada em uma área desocupada da unidade de terapia intensiva (UTI). O local deverá ter seis ou sete leitos, voltados para emergência e internações por até 72 horas.
A UTI do hospital também será ampliada de 10 para 16 leitos. Além disto, deve receber mais 20 unidades móveis de emergência.
Segundo a diretora de Apoio Assistencial, Maria de Lourdes Rovaris, o valor destinado a cada unidade foi definido conforme o plano de reestruturação elaborado em 2010, junto com as secretarias de saúde municipal e estadual e da reitoria da UFSC.
Investimento total é de R$ 400 milhões
Outros 44 HUs também receberão o investimento – que faz parte do Programa de Expansão e Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais –, totalizando R$ 400 milhões.
MOACIR PEREIRA
Jardim de Burle Marx
Roberto Burle Marx, arquiteto e paisagista, transformou-se, na segunda metade do século passado, num dos brasileiros mais festejados em todo o mundo. Deixou suas impressões digitais em Florianópolis em dois projetos que abraçou com carinho e paixão, como pôde testemunhar o emérito escritor Jair Francisco Hamms, na década de 1970, um de seus interlocutores na Universidade Federal de Santa Catarina. Idealizou o aterro da Baía Sul como um ambiente de agradável e produtiva convivência humana, em que os frequentadores dividiriam o espaço com a arte dos desenhos no pavimento em petit-pavé, as árvores, os jardins e os equipamentos urbanos.
O aterro foi esquartejado pela omissão ou cumplicidade de nossas autoridades. Atiraram dinheiro do contribuinte no lixo, transformando a mais ampla e nobre área pública de Florianópolis em estacionamento de ônibus, improvisados sacolões, horrorosos camelódromos, quiosques indigestos, depósitos de carros particulares, etc. O primeiro trabalho do grande urbanista privilegiou o campus da Universidade Federal de Santa Catarina, na Trindade. Durante décadas, dava gosto circular pelo coração de nossa principal instituição de ensino superior. Jardins cobertos de flores coloridas formavam um ambiente acolhedor no meio de árvores frondosas, petit-pavé e pequenos bancos. Era o convite à reflexão, numa atmosfera de paz e liberdade, reproduzindo a ágora, a praça principal da polis na antiguidade grega.
A Leitura Catarinense da Criação, maravilhoso mosaico de Rodrigo de Haro, fixou ali a última joia preciosa. Os anos se passaram e, hoje, o coração do campus é uma tristeza. As flores desapareceram, as árvores envelheceram, o petit-pavé está virando estacionamento. A paisagem é de relaxamento. Ao lado, o Centro de Convivência é a negação do que deve ser um espaço acadêmico.
RENASCIMENTO
O Hospital Universitário da UFSC é uma instituição que continua prestando os mais inestimáveis serviços à comunidade catarinense e a todos os que visitam a Capital. Dedicados médicos e profissionais revelam-se humanos, competentes e solidários.
Mas a entrada do HU é uma lástima, considerando que a UFSC tem um curso de Arquitetura. Não há capricho, nem sinalização, muito menos estacionamento decente. Jardim florido para humanizar o atendimento... esquece! Nesta segunda-feira, uma comissão eleitoral define o calendário para eleição do novo reitor. Deve marcar prazos para a inscrição de chapas que vão concorrer às eleições marcadas para o dia 9 de novembro.
Quatro candidatos já se apresentaram: 1. Médico e professor Carlos Alberto Justo da Silva, “Paraná”, atual vice-reitor, tendo como vice a professora Vera Bazzo, do Centro de Educação; 2. Professor Dilvo Ristoff, ex-pró-reitor da UFSC e reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul, com vice de Rogério Bastos; 3. Professora Rosilene Neckel, diretora do Centro de Filosofia e Humanas; 4. Professor Irineu de Souza, do Centro Sócio-Econômico. No período em que Burle Marx idealizou o paisagismo do campus, a Universidade Federal de Santa Catarina era uma usina promotora de eventos artísticos, culturais, em integração total com a comunidade.
Os principais eventos partiam da cabeça dos professores e dos estudantes. Pesquisas que transformaram setores importantes da indústria catarinense ali foram realizadas com sucesso. Projetos inovadores em setores avançados da tecnologia da informação surgiram da academia. Nesta segunda-feira, acaba a greve dos servidores da UFSC. A população nem tomou conhecimento da paralisação. Por quê? É preciso mudar. E o processo eleitoral representa nova chance para o retorno às origens. Começando pelas flores no jardim de Burle Marx.