TROTES NO SAMU
Entre os dias 8 e 12 de setembro, quando o rio Itajaí-Açu alagou 402 ruas em Blumenau, o Samu recebeu 100 trotes por telefone. Segundo o serviço, do outro lado da linha, principalmente crianças.
PREFEITURA ESTUDA REAJUSTE PARA MÉDICOS EM JOINVILLE
A Prefeitura de Joinville está estudando se há folga no orçamento para reajustar os salários dos médicos. O objetivo, óbvio, é tentar atrair mais profissionais para a rede municipal. Ou, na pior das hipóteses, segurar quem já está. Não há prazo para a conclusão dos estudos. Há perto de 100 vagas para médicos – embora com metade disso fosse possível desafogar o sistema com folga. Na rede básica, a média salarial para carga horária de 120 horas mês anda perto de R$ 4 mil. Os valores sobem em caso dos médicos dos pronto-atendimentos, hospital São José e Saúde da Família. “Precisamos saber antes se há margem para esse aumento”, avisa Manoel Bento, líder do governo na Câmara de Vereadores.
Devolução
Na manhã de hoje, em coletiva, a Prefeitura de São Francisco do Sul confirma a devolução do Hospital de Caridade para a Venerável Ordem Terceira, que volta a administrar a unidade.
Viver Bem
É um direito seu!
Pacientes de câncer e de outras doenças graves devem exigir conquistas já previstas em lei
A legislação brasileira confere benefícios e direitos especiais aos portadores de doenças consideradas graves, como o câncer (veja box). Se for o seu caso – ou de alguém de sua família – guarde estas informações. Elas poderão ser muito úteis para melhorar a qualidade de vida do paciente.
Para ter acesso a estes direitos, é preciso comprovar ser portador da doença, o que se faz por meio de laudos médicos e exames. Em alguns casos, é preciso se submeter à perícia médica dos órgãos competentes para concessão dos benefícios.
Apesar de garantidos por lei, os direitos dos pacientes muitas vezes são desrespeitados, e o doente se vê privado de usufruí-los. O advogado especialista em saúde Tiago Farina Matos, coordenador do Núcleo de Defesa Ativa do Instituto Oncoguia, alerta que, quando a lei não for respeitada, o paciente deve, primeiramente, formalizar uma reclamação para os órgãos de defesa, controle e fiscalização competentes, buscando a resolução do problema. Caso isso não seja sufi ciente para resolver a questão, deve recorrer à via judicial.
Quando o paciente não dispuser de recursos materiais para contratar um advogado, o acesso à justiça deve ser viabilizado por meio do Sistema dos Juizados Especiais ou das Defensorias Públicas, presentes em todos os Estados brasileiros. Eles prestam serviço de assistência judiciária gratuita à população carente, diretamente ou por convênios celebrados com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Conheça e faça valer todos os seus direitos. Mais informações: www.oncoguia.org.br.
NA ESTRADA
Dalmo Claro de Oliveira (Saúde) esteve em São João do Itaperiú em evento do PMDB. O encontro marcou a arrancada para a candidatura de Clésio Fortunato (D) à Prefeitura.
PALAVRA TROCADA
Erro em cartilha da Saúde
Um erro de ortografia num texto de um informativo distribuído pela Secretaria de Saúde de Florianópolis colocou o órgão em uma saia justa.
O material divulgado alerta sobre a hepatite, formas de contaminação e prevenção. Porém, ao explicar sobre as pessoas a serem vacinadas contra a hepatite B, o material usa a palavra transgênicos, quando o correto seria transgêneros.
De acordo com o dicionário, transgêneros são pessoas que mudaram a aparência do corpo, do masculino para o feminino, ou o contrário.
Já os transgênicos são organismos que, mediante técnicas de engenharia genética, contenham material genético de outros organismos.
Material será recolhido para que seja feita a correção
A Secretaria de Saúde foi avisada do erro pela reportagem do Jornal Hora de Santa Catarina.
– Pedimos desculpas pelo erro terrível e pelos transtornos gerados – disse a assessoria de imprensa da pasta da Saúde.
A secretaria informou ainda que todo o material será imediatamente recolhido e corrigido, para ser colocado na rua novamente.
Os informativos estavam sendo distribuídos há aproximadamente duas semanas, em todos os postos de saúde da cidade.
Colunista Cacau Menezes
Enfermeiro
Pai de um colega jornalista, que prefere manter o anonimato, estava na UTI de um hospital particular de Balneário Camboriú, tentando vencer complicações de um AVC. O colega verificou, durante uma visita, que o instrumento medidor dos batimentos cardíacos mostrava números loucos. Num segundo 90, noutro 65, noutro 110 e assim por diante. Chamou um enfermeiro e perguntou o que poderia estar acontecendo. Resposta: “Não se preocupe. Isso deve ser só mau contato nos fios”. No dia seguinte, o paciente faleceu e entre as causas da morte estava arritmia (batimento irregular do coração
SAMU
Qual a sua emergência?
Trotes ao Samu somam 6% das ligações, mas número dobra durante enchente, o que prejudica atendimento a quem realmente precisaO Rio Itajaí-Açu atinge 12,80 metros e Blumenau vive a segunda maior enchente em três décadas. Quatrocentas e duas ruas ficam alagadas e deslocar-se pela cidade é tarefa complicada. As quatro viaturas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os 25 profissionais da Central Regional de Emergência (CRE) e UTI móvel se desdobram para atender aos chamados. A própria sede, junto ao batalhão da PM, fica embaixo d’água. Mas, mesmo com chuva torrencial, os trotes não dão trégua. Entre os dias 8 e 12 de setembro, o Samu recebeu 100 ligações com pedidos sem fundamento. Do outro lado da linha, principalmente crianças.
– Não podemos perder tempo, pois temos responsabilidade com a vida. Fico me perguntando, a cada trote, se com a irresponsabilidade de outra pessoa não deixamos de atender alguém que estava realmente precisando – desabafa a coordenadora do Samu no Vale do Itajaí, Maria Beatriz Silveira Schmitt Silva.
Das quase 800 ligações recebidas em quatro dias, vinda de 39 municípios do Médio e Alto Vale do Itajaí, 12,5% foram trotes – a média nos períodos sem enchente é de 6%. Maria Beatriz lamenta o aumento das brincadeiras de mau gosto durante a cheia, orquestradas por pessoas sem consciência do momento crítico que a cidade vivia.
– Até entendo que os pais queiram ensinar os filhos como fazer ligações em situações de emergência, mas aquele não era o momento mais propício – pondera Beatriz.
Cada saída desnecessária gera prejuízo de R$ 500
Todos os dias, a equipe do Samu se desloca em média duas vezes para averiguar trotes sobre casos clínicos difíceis de identificar por telefone. A cada ligação, um técnico e um médico conversam com o paciente e, se não perceberem o trote, acionam três profissionais para a saída: um motorista, um técnico e um enfermeiro. Cada saída custa R$ 500. Este valor inclui o desgaste da viatura e dos equipamentos, e medicação – algumas ampolas podem custar até R$ 200.
Além do desperdício financeiro, cada atendimento gera estresse nos profissionais, pois dentro da ambulância eles montam diagnóstico, preparam medicação para não perder tempo e definem de que forma será feita a abordagem.
Os trotes não ficam restritos apenas ao Samu. A Polícia Militar, que também recebe ligações pela Central Regional de Emergência, atende diariamente cerca de 500 ligações, de 12 cidades do Vale, e durante a última cheia registrou 60 trotes.
morgana.michels@santa.com.br
MORGANA MICHELS
QUANDO ACIONAR O SAMU
Ligue
- Em caso de acidente onde há vítimas com risco de morte
- Se estiver passando mal e sentir que a situação piora com o passar do tempo
- Quando estiver ao lado de alguém que esteja muito mal
Não ligue
- Em casos que o paciente pode ser conduzido de carro ou táxi para o hospital
- Quando estiver longe do paciente, o que inviabiliza o atendimento inicial do médico por telefone
- Pequenos ferimentos, que não trazem risco de morte
Trote é crime!
A Lei 14.953/2009 prevê multa de R$ 200 por ligação ao proprietário do telefone residencial ou comercial de onde for feito o trote para qualquer órgão de emergência, como PM, Samu, bombeiros, delegacias e Defesa Civil. Gerar algum inconveniente aos serviços de urgência e emergência e acionar os equipamentos de socorro indevidamente é crime.
SAMU
Maioria dos trotes é passada em horário de entrada e saída da aula
O trabalho de salvar vidas, que é naturalmente complicado com uma estrutura deficitária, fica ainda mais difícil com a alta incidência de trotes. Em 2006, quando o Samu de Blumenau foi inaugurado, as ligações com brincadeiras de mau gosto chegavam a 30%. Em 2009, após campanhas em escolas e nos veículos de comunicação, o número caiu para 15%. Atualmente, o número chega a 6% e a incidência maior é registrada nos horários de entrada e saída de escola.
– Os trotes são mais comuns na pré-adolescência. E é natural que ocorra este tipo de transgressão como meio de se sentir mais adulto e ver até onde pode ir. Mas a maneira de ensinar e de intervir vai depender de cada família. Algumas vão deixar de castigo, proibir de ir na casa do amigo. Outros podem retirar o videogame – explica a psicanalista e professora do curso de Psicologia da Furb Michele Kamers.
Atualmente, o Samu trabalha com 50% do efetivo na Central Regional de Emergências e UTI móvel de Blumenau. Dos 52 profissionais necessários para a demanda, a equipe é formada por apenas 28. Destes, são 14 médicos, cinco técnicos, três enfermeiros, três condutores e três radio-operadores. Em Rio do Sul, a equipe da UTI móvel, que precisaria de 19 profissionais, conta com 10.
– Por desconhecerem nosso trabalho, as pessoas passam trote e nos prejudicam ainda mais. Montamos uma cartilha e ministramos palestras em escolas e comunidade em geral para que possam entender e respeitar o serviço do Samu, pois os trotes não prejudicam só o nosso serviço, mas toda a comunidade – ressalta a coordenadora do Samu no Vale do Itajaí, Maria Beatriz Silveira Schmitt Silva.
PARA SEU FILHO LER
Quando você ou alguém da sua família fica doente de repente e passa tão mal que não dá para levar ao hospital, o Samu é chamado para socorrer. Os profissionais que trabalham lá são especialistas em atender emergências, casos graves. Portanto, o trabalho do Samu é coisa séria e você não pode brincar com eles, tentar enganá-los. A cada trote, eles perdem de dois a três minutos ouvindo as brincadeiras por telefone e não conseguem atender quem realmente precisa de ajuda para sobreviver. Só ligue para o Samu em casos de risco de morte, se estiver passando mal e não conseguir ir ao hospital. Alguém pode perder a vida enquanto você tira a atenção da equipe com mentiras. Além disso, passar trote é crime. Ajude a conscientizar os seus amigos e preserve vidas!
Entrevista
O calcanhar de Aquiles da Secretaria Estadual da Saúde está nos Recursos Humanos. Um deles, na verdade. Pelo menos durante um bate-papo rápido com o secretário Dalmo de Oliveira deu para perceber que sua grande preocupação é a de preencher os cargos proporcionando um atendimento mais adequado. Mas o problema é o salário baixo e nada atrativo.
-Qual o principal problema que o senhor encontrou na Secretaria da Saúde?
O principal foi a defasagem de recursos humanos. Ainda por cima tem o cuidado com a Lei de Responsabilidade Fiscal, muitas vezes limitando contratações. A estrutura salarial é baixa. Além disso, o pessoal procura outras colocações onde o salário é melhor, inclusive, dentro do governo. São capacitados. A Administração e a Fazenda são as mais procuradas. Pagam mais.
-Mas quanto ganha um profissional da Saúde, no caso, enfermeiro?
O salário inicial é de R$1,4 mil, por trinta horas semanais. Muito pouco, reconheço. Médicos com os complementos na folha chegam a R$ 5,2 mil. Considerou um bom salário, mas há dificuldade mesmo assim de contratar alguns especialistas como ortopedista e anestesista. Estão em falta.
- Uma realidade difícil, mas não há uma solução ou projeto em andamento para suprir essa dificuldade?
Está em estudo na Secretaria de Administração de um Plano de Cargos e Salários para a Saúde. É vital encontrar uma solução e estamos trabalhando nisso. Até porque há muita dificuldade em preencher cargos.
-Onde se localizam as maiores dificuldades?
Em Joinville, por exemplo, temos 20 leitos de UTI. Mas faltam, nove enfermeiros. Só estamos operando 10 leitos. Chamamos concursados, muitos não aceitam devido ao salário defasado. Estamos em andamento com o processo seletivo até a conclusão do novo concurso, mas a procura é limitada. Sem sobra de dúvida que os Recursos Humanos hoje são o maior gargalo. Além disso, se iniciou ao mesmo tempo várias obras, obrigatórias e necessárias, mas falta pessoal.
- Falando em obras há projetos para a construção de novos hospitais?
Temos que colocar a atual capacidade em operação. Operação total. Hoje em Florianópolis são mais de 200 leitos inativos. Não há projeto de novos prédios, até porque a medicina avançou e modernizou . As doenças clínicas são tratadas em ambulatórios e as cirurgias, muitas delas, não exigem mais de um dia internado.
-O senhor já conhece o mapa das necessidades no Estado?
Em Chapecó, sito como exemplo, a necessidade de um hospital especializado em ortopedia. Disponibilizamos R$1 milhão para o Hospital de Palmitos para que se capacite e desafogue a demanda na região. Estamos avaliando cada microrregião capacitando hospitais com liberação de recursos para com isso também reduzir a ambulância terapia.
- Pelo visto o senhor está enfrentando uma pedreira?
É um desafio. Meu desejo, e estou trabalhando para isso, é daqui quatro anos superar vários obstáculos. O mutirão das cirurgias , que está crescendo e avançando, a meta é mantê-lo permanente acabando em definitivo com as filas. Vamos ter uma Saúde diferenciada.
A vida segue
De janeiro até aqui a Secretaria da Saúde investiu, desde equipamentos até convênios, R$ 504 milhões. É muito dinheiro, e mesmo assim com infinitas deficiências.