OPINIÃO DE A NOTÍCIA
Demanda reprimida
A reportagem de hoje de “AN” sobre a lista de espera pela cirurgia de catarata mostra, mais uma vez, a imensa dificuldade de Joinville de reduzir a demanda reprimida por procedimentos médicos, sejam cirurgias, consultas ou exames. A maior capacidade da rede pública em atender a casos de emergência e a demorada condição de dar vazão a parte dos demais tipos de atendimento médico se repetem em boa parte do País não são, é claro, condição exclusiva de Joinville. Também se sabe que as filas de espera também angustiam os gestores em saúde, os mais cobrados pelo atendimento.
Reduzir a demanda reprimida é talvez um dos maiores desafios da saúde em Joinville. Além de sofrimento a milhares de pessoas, pode ser evitado também mais pressão ao sistema, afinal, consultas, exames e cirurgias realizados a tempo evitam que problemas não tão complicados passam se transformar em casos graves. Que, por sua vez, vão parar em serviços de emergências, cada vez mais sobrecarregados e concentrando recursos humanos e verbas que poderiam ser usados no atendimento mais básico. Um círculo vicioso sem fim.
No momento, em Santa Catarina, uma das medidas adotadas é do mutirão, empregado também em Joinville – inclusive agora, para enfrentar a demanda em catarata. Mas, como as filas demonstram, são necessárias ações de maior envergadura.
SAÚDE PÚBLICA
A agonia de quem espera
Em Joinville, 1.028 pessoas aguardam na fila para fazer cirurgia da catarata
esperança de voltar a enxergar com nitidez exige paciência dos 1.028 joinvilenses que estão na fila para fazer uma cirurgia da catarata pela rede pública. A espera para quem entra hoje na fila pode chegar a quatro anos. E a lista não para de crescer, apesar dos mutirões esporádicos, feitos voluntariamente por oftamologistas, e dos cerca de 80 procedimentos por mês.
De acordo com médico Rodrigo Marzagão, cada um dos sete oftalmologistas que atendem na rede pública municipal realiza de três a quatro cirurgias por semana. No lugar destes pacientes, aparecem outros dez com a doença.
No sábado, pelo menos 12 pessoas passariam pelo mutirão da catarata, realizado no Hospital Municipal São José. O grupo representa apenas 1,2% das pessoas que esperam por uma cirurgia.
O aposentado Avelino Antônio Cardoso é um desses pacientes que aguarda na fila. Desde o começo do ano, ele está num vai e vem de consultas e exames para saber em que estágio está a doença. Apesar de algum tempo sentir os sintomas, Avelino só soube que tinha catarata durante os exames para renovar a carteira de motorista. E lamenta, pois, aos 69 anos, o único problema que tem de saúde é a visão. Ele sabe que pode ficar até quatro anos na lista de espera e preocupa-se com a possibilidade de ficar cego. “Só não quero ser operado depois de perder a visão”, diz o aposentado.
Avelino compareceu à consulta com oftalmologista na sexta-feira, marcada para as 13 horas. A ansiedade o fez sair cedo de casa, no Paranaguamirim, rumo ao posto de atendimento médico (PAM) do Boa Vista, esperando boas notícias. Às 12h30, o aposentado já estava na unidade se preparando. Recebeu o colírio e ficou aguardando o médico com o exame, feito dias antes, na mão. Quando entrou no consultório, por volta das 13 horas, não demorou mais de dez minutos para voltar segurando um outro papel importante: o encaminhamento para a cirurgia.
Então, foi até o local de agendamento, onde teve outra boa notícia. O nome dele já estava na lista de espera com o número 87. Mal podia acreditar que só precisa esperar 86 cirurgias. Ele conta que achava que estava no fim da fila. “Agora, acredito que algo vai dar certo”, comemora.
Se for confirmada a média de cirurgias estimada pela Secretaria Municipal de Saúde, de 80 por mês, em menos de 45 dias Avelino estará livre da catarata, pelo menos no olho direito.
SAÚDE PÚBLICA
Sem solução a curto prazo
A Secretaria Municipal de Saúde afirma que tem conhecimento que a quantidade de pessoas esperando por uma cirurgia de catarata é grande. Mas não é o único indicador que preocupa: o número de pacientes que esperam por uma consulta oftalmológica chega quase a dez mil.
Como medida a curto prazo, segundo a secretaria, não há o que fazer. Mas estuda uma alternativa para duplicar a oferta de consultas com especialistas e de cirurgias de catarata.
A solução que se está estudando é a compra de serviços da rede particular. Com isso, a meta seria reduzir a demanda pela metade. Mas não há prazo para que isso saia do papel, segundo a Secretaria de Saúde.Atualmente, sete oftalmologistas trabalham para a Secretaria de Saúde, atendendo cerca de 950 pessoas por mês em consultas.
Desde 2007
Mesmo na iniciativa privada, investimentos em saúde nem sempre são rápidos. Agora em agosto, será lançada a pedra fundamental do hospital da Pró-rim em Joinville. Passaram-se quase quatro anos da mudança de zoneamento que permitiu prédios naquele ponto. À época da alteração, havia uma certa pressa.