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Viver bem


DEPRESSÃO
DEPRESSÃO MASCARADA
Variedade de sintomas dificulta diagnóstico da doença, que, se não tratada, pode trazer perdas cerebrais

Doença crônica e degenerativa que atinge cerca de 121 milhões de pessoas em todo o mundo – sendo 17 milhões apenas no Brasil –, a depressão é considerada uma das doenças mais incapacitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, sua complexidade leva a dificuldades no diagnóstico, já que o paciente pode apresentar um leque amplo de sintomas psíquicos e físicos.

“A depressão ainda é subdiagnosticada e pouco tratada. Somente um quinto dos pacientes deprimidos recebem tratamento adequado. A doença é frequentemente confundida com outras que provocam sintomas semelhantes, como estresse e ansiedade, ou com simples tristeza ou, ainda, com transtorno bipolar. Para complicar, cada paciente tem uma combinação diferente de sintomas, confundindo o médico”, explica Hamilton Grabowski, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

O especialista ressalta que a patologia também pode vir mascarada em sinais dolorosos (dores físicas) e, muitas vezes, não se percebe que, além do físico, há necessidade de tratar a mente. Ou seja: o paciente se queixa de dor, mas os outros sintomas psíquicos característicos da doença não estão aparentes.

Para que haja o diagnóstico correto, é imprescindível a investigação sobre o histórico familiar de doenças mentais, abuso de substâncias (drogas e álcool) e sinais físicos que as pessoas tendem a omitir. Quando negligenciada, a depressão pode ter consequências para o resto da vida. Estudos comprovam que, com o passar dos anos, pessoas depressivas não tratadas sofrem perdas cerebrais irreversíveis, resultando em déficits cognitivos significativos.

 

SAÚDE
Manias que viram DOENÇA
Confundidos com puro perfeccionismo ou mesmo camuflados num estilo de vida saudável, transtornos ameaçam a saúde

Se a prática de exercícios físicos ocupa boa parte do seu dia, você passa o tempo todo arquitetando formas saudáveis de alimentação, vive no médico atrás de explicações para qualquer incômodo, não sai de casa sem verificar dezenas de vezes se a luz está apagada ou não consegue trabalhar se a sua mesa não estiver com papéis e canetas alinhados, é hora de tomar cuidado.

Todas as características descritas acima são de pessoas que sofrem das doenças do excesso. Elas não são novidades, nem raras. Mas os estudos avançados na área da psiquiatria passaram a nominá-las recentemente. Quem faz de tudo por uma alimentação saudável pode ter desenvolvido ortorexia. Aqueles que malham em demasia e se enxergam sempre fracos, vigorexia. Pessoas que apresentam perfeccionismo e organização além da conta podem ter desenvolvido o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Sobre essa última síndrome das demasias, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva acaba de lançar o livro “Mentes e Manias” (leia na página ao lado). Sobre as causas do TOC, sabe-se apenas que há um desequilíbrio neuroquímico em algumas áreas do cérebro, principalmente envolvendo o neurotransmissor serotonina, e o componente genético é muito forte, conforme explica a autora.

“Os traços de personalidade de risco são ansiedade, perfeccionismo, desejo de ter tudo sob controle e um senso exagerado de responsabilidade e de dever”, destaca.

Com exceção do TOC, que se desenvolve com pouca interferência do meio externo, o restante das doenças do excesso são inundadas de características da conduta social. A competitividade e o querer tudo para ontem encabeçam a lista dos motivos para esses comportamentos extremos, segundo especialistas. O psiquiatra Renato Piltcher destaca que os excessos também ocorrem em atitudes boas como limpeza, organização, conforto e saúde. Ele destaca que as pessoas têm dificuldade em lidar com o fato de que limite é bom: “Está relacionado com a noção de existir, com a ideia de perda. Cada um de nós deseja ser tão especial que nenhuma doença vai nos pegar. Esse é o chamado pensamento mágico, presente em quase todas essas doenças do excesso”.

Exigência e comparação

A especialista em saúde coletiva, Madel Therezinha Luz, afirma que as pessoas passam dos limites por uma exigência de performance exagerada, lesiva ao organismo.

“As pessoas são chamadas à produtividade o tempo todo e tentam se enquadrar em padrões inatingíveis. É o impulso de comparação para a competição, que está por trás de tudo isso. Todo mundo tem alguma síndrome: uns mais e outros menos”, afirma Madel.

Aqueles que perdem a linha e entram para o grupo dos que cometem excessos têm um sintoma em comum: exposição a um componente que causa compulsão pela repetição. A psiquiatra e terapeuta cognitiva Carla Bicca destaca que essa sensação é gerada em um pedaço do cérebro ligado ao prazer e à recompensa, semelhante à zona em que as drogas atuam.

“Faxinar a casa e sentir o cheiro da limpeza é gratificante. Quanto mais a pessoa se expõe, mais o cérebro reconhece esse ato como se fosse o único agradável. Chega uma hora que nada mais satisfaz e vira doença”, aponta Carla.

Para não tornar a busca pelo meio termo uma utopia, o coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (USP), Márcio Antonini Bernik, dá a dica: “Não vasculhe excessivamente sintomas e não mude de médico toda a hora, pois o novo doutor pode querer mostrar serviço pedindo ainda mais exames desnecessários. Quem procura, acha”.

Para o tratamento desses transtornos, a melhor alternativa é a terapia cognitivo comportamental aliada ao uso de medicamentos inibidores da serotonina, molécula que ajuda na comunicação entre os neurônios.

Não posso evitar a morte

Um vendedor autônomo, que pediu anonimato, chegou aos 49 anos suando frio para esconder as manias. Nem sempre conseguia. Sufocava de vergonha ao pensar que percebessem que ele verificava 15 vezes o fechamento da porta ou alinhava os travesseiros.

As primeiras lembranças das manias datam dos dez anos, quando, por nojo, o menino jamais pegava um lápis emprestado na escola. Os exageros evoluíram e até chances de trabalho foram desperdiçadas.

“Tinha medo de ficar longe dos meus pais, pois pensava que algo de mal poderia acontecer a eles. Só tive certeza de que não era o “Todo-Poderoso” com o falecimento da minha mãe, ano passado. Vi que não posso evitar a morte. Há coisas inevitáveis”, diz.

Cinco meses depois, buscou ajuda médica. Descobriu que a obsessão dele tinha nome: TOC, doença que atinge uma em cada 60 pessoas no mundo. Fez o tratamento e hoje, um ano depois, diminuiu os episódios da doença. Segundo Aristides Volpato Cordioli, professor da Faculdade de Medicina da UFRGS, os pacientes demoram até dez anos para visitar um médico, perpetuando e agravando as manias.

 

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Entrevista/ Ana Beatriz Barbosa Silva

Todos podemos ter traços obsessivos

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva acaba de lançar o livro “Mentes e Manias – TOC: Transtorno Obsessivo-Compulsivo” (Editora Fontanar, R$ 34,90). Dedicada aos estudos do comportamento humano, a autora já publicou obras como “Mentes Perigosas: o Psicopata Mora ao Lado” e “Bullying: Mentes Perigosas nas Escolas”. Confira algumas explicações da escritora sobre o TOC.

O TOC tem a ver com superstições?

Ana Beatriz Barbosa Silva – Superstições são crenças compartilhadas por pessoas inseridas em determinadas culturas e não têm nada de patológico. Quem tem TOC, entretanto, tende a ter comportamentos que lembram as superstições, só que em um nível mais grave e prejudicial. Se alguém passar por debaixo de uma escada, por exemplo, poderá ficar preocupada, mas esquecerá. Se um portador de TOC acredita que passar por debaixo de escada dá azar, ficará remoendo pensamentos obsessivos, tentando impedir que o “azar” aconteça.

Muitas pessoas têm manias. Todos nós podemos ser um pouco obsessivos?

Ana Beatriz – Todos podemos ter traços obsessivos e isso não é ruim, pois nos deixa mais organizados, responsáveis e alertas. Porém, se os pensamentos e comportamentos repetitivos provocam sofrimento ou fazem com que horas do dia sejam gastas cumprindo rituais, é hora de procurar ajuda de um especialista.

 

 

GRAVIDEZ
Grávidas depois da Gastroplastia
Gestantes que fizeram cirurgia de redução de estômago necessitam de acompanhamento médico e nutricional para garantir uma gravidez segura

Metade das mulheres que eram consideradas inférteis devido à obesidade conseguiram engravidar sem necessidade de fazer nenhum tratamento depois da cirurgia para redução de estômago. A conclusão é de um estudo do Centro de Obesidade Mórbida do Hospital São Lucas, de Porto Alegre (RS). Porém, 23% das mulheres que engravidaram antes de completar um ano da operação apresentaram problemas que levaram à perda do bebê. “Se a mãe estiver com níveis muito baixos de ácido fólico (vitamina B9), isso pode resultar em baixo peso e na malformação da coluna do recém-nascido”, explica a endocrinologista Jacqueline Rizzolli, que coordenou a pesquisa.

Segundo a médica, o grande risco para as futuras mães que fizeram a gastroplastia está na perda de peso causada pelo menor consumo de alimentos e nutrientes – 54% das pesquisadas apresentaram alguma forma de deficiência vitamínica. “Com uma alimentação restrita após essas cirurgias, é fundamental que as gestantes sejam acompanhadas por um obstetra e por um nutricionista preparados para atender pacientes que fizeram a operação”, diz a médica Silândia Freitas, que acompanha gestações de alto risco.

Almino Cardoso, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, afirma que o tempo de adaptação evita as complicações no aparelho digestivo.

 

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Pergunte ao especialista
Entrevista com Jaqueline Rizzolli, endocrinologista do Centro de Obesidade Mórbida do Hospital São Lucas, de Porto Alegre (RS).

O que ocorre no metabolismo de uma mulher que faz cirurgia de redução de estômago?

Jaqueline Rizzolli – Os níveis de glicose, colesterol, triglicerídeos e pressão arterial tendem a melhorar de forma significativa. Porém, para ter todos esses benefícios, corre-se o risco de sofrer carências de vitaminas, minerais e proteínas. Esses problemas podem ser prevenidos e evitados se a pessoa fizer o acompanhamento adequado com uma equipe multidisciplinar e usar os suplementos vitamínicos e alimentares recomendados.

A gravidez em uma mulher com redução de estômago é de alto risco? Por quê?

Jaqueline – Depende. Se a gestação for planejada adequadamente, a futura gestante já tiver completado mais de 18 meses da realização da cirurgia e estiver com níveis controlados de vitaminas e nutrientes, será segura – inclusive, com menos riscos que uma gravidez em uma mulher com obesidade severa. Se a gestação ocorrer sem preparo, logo nos primeiros meses depois da cirurgia ou em uma mulher que esteja desnutrida, existirão riscos para feto e gestante.

Elas apresentam maiores chances de terem aborto?

Jaqueline – Os estudos demonstram uma taxa de abortamento de cerca de 30% nas gestantes que engravidam antes de um ano de pós-operatório. O índice é de 20% nas com mais de um ano, o que é similar às chances de abortamento para qualquer gestação.

Tais gestantes podem ter bebês com baixo peso e retardo mental?

Jaqueline – Nas gestações planejadas, o risco é igual ao de gestantes em geral. Na gravidez em período de perda de peso, a chance de o recém-nascido ter baixo peso é maior. Na maioria dos estudos, a média de peso dos recém-nascidos de gestações antes de um ano de cirurgia foi de 2,980 kg. Para os que nasceram depois de um ano da operação, foi de 3,060 kg. O risco de retardo mental não foi considerado aumentado nos estudos realizados até hoje.

 

MARIA VITÓRIA | CORREIO BRAZILIENSE

 

 


ANVISA
Sibutramina com os dias contados

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se prepara para banir os medicamentos à base de sibutramina, os mais populares no mercado do emagrecimento. Um parecer técnico sobre a substância deve sair neste mês. A decisão técnica já está tomada e falta o parecer político – não consolidado, porque envolve grandes laboratórios e o interesse de áreas da medicina.