GREVE DOS SERVIDORES
Pior para a saúde
São José, postos nos bairros e PAs foram os locais onde houve mais problemas no primeiro dia de paralisação em JoinvilleQuem precisou do atendimento na saúde pública de Joinville ontem foi quem mais sentiu os efeitos do primeiro dia de greve dos funcionários municipais da cidade. Na maioria dos outros setores – da educação às secretarias regionais – a adesão ao movimento foi pequena (veja no quadro na página ao lado). As maiores dificuldades foram enfrentadas em postos de saúde, PAs, no Hospital São José e no Laboratório Municipal. Situação que pode se repetir hoje.
No São José, onde a paralisação de quase cem dos 1,2 mil funcionários se soma aos efeitos da greve dos médicos residentes, que teve início há uma semana, a situação era mais crítica.
Por volta das 8 horas, cerca de 50 pacientes que tinham consultas agendadas no ambulatório de especialidades aguardavam na “fila da remarcação”. Como o quadro de funcionários ficou ainda mais comprometido, não havia previsão de quando os pacientes seriam atendidos. A maioria voltou para casa. Conforme informações do hospital, algumas cirurgias eletivas foram canceladas e, se a greve prosseguir, todos os procedimentos podem vir a ser suspensos nos próximos dias.
Apenas o atendimento a casos de urgência e emergência funcionava normalmente, mas os funcionários admitiam que o pronto-socorro do São José também tende a ficar sobrecarregado.
Isso porque também houve paralisações em outras unidades de saúde onde os manifestantes não são obrigados a manter 30% dos funcionários em atividade para atender emergências. Muitas pessoas tiveram de voltar para casa ao buscar atendimento em unidades como o PAM Boa Vista e em postos de saúde como o do Profipo, do Willy Schossland, do Estevão de Matos e da unidade básica de saúde da família na Estrada Anaburgo.
MARIANA PEREIRA
GREVE DOS SERVIDORES
Consulta perdida“Simplesmente disseram que não tinha médico, que talvez eu seria atendida na semana que vem e que vão me informar sobre a remarcação por telefone”, disse Anni Marcele Kinas, que estava com a consulta agendada no ambulatório de especialidades do São José e não foi atendida. “Mas não posso esperar. Sinto dor, passei por uma cirurgia no tornozelo há três semanas, preciso tirar os pontos e passar pela avaliação de um ortopedista, por isso, decidi que vou pagar por uma consulta particular”, afirmou ao sair do São José sem atendimento. “Estou tentando conseguir os exames que já fiz, como raio X, para levar para o médico particular, porque se tiver que refazer tudo, vai sair ainda mais caro.”
Postos e PAs só atendem urgênciasOs PAs Sul e Norte atenderam apenas casos de urgência e emergência ontem. No PA Leste (Aventureiro), onde a adesão à paralisação foi menor, o atendimento a todos os casos (urgentes ou não) foi mantido, mas ficou lento.
Célia Franco, que já tinha passado por um posto de saúde e chegou ao PA Sul às 9 horas com os dois filhos doentes, estava revoltada. Ela teve, mais uma vez, o atendimento negado. A principal preocupação era com o caçula, Eduardo, de um ano e quatro meses, que estava com febre alta, diarreia e vômito. “Simplesmente disseram que por causa da greve não tem médico para atender. Só atendem emergências. Então, vou para o Hospital Infantil. Em algum lugar vão ter que me atender”, dizia a mulher.
“Eles estão no direito deles de protestar, mas não podia ter chegado a esse ponto, isso é uma falta de respeito com a população”, opinou Osvaldo Klitzke, 61 anos, que também foi ao PA Sul e não foi atendido. “Já tive câncer de pele, então fiquei preocupado e vim para retirar um quisto, antes que pudesse se tornar um caso mais sério, mas o jeito vai ser esperar”, disse.
No Laboratório Municipal, que atende em média 280 pessoas às segundas-feiras, quem esperava para fazer exames também teve de ter paciência. “Os efetivos pararam, mas não interrompemos o atendimento. Como estamos trabalhando com apenas 50% do quadro funcional, a espera tende a ser maior”, afirma o coordenador do laborário, Altieris Bulgarelli.
DENGUE TIPO 4
Morador foi infectado fora da capital de RoraimaTécnicos do Ministério da Saúde identificaram que um dos pacientes com suspeita de dengue tipo 4 em Roraima foi infectado fora de Boa Vista. Até então, a maioria dos casos suspeitos e os três confirmados foram registrados na capital roraimense. Um morador de 55 anos de Cantá foi infectado na própria cidade.
MÉDICO X PACIENTE
Relação preocupante
Na Capital, Sintrasen diz que todos os dias, pelo menos dois profissionais da saúde sofrem agressãoA dor de um soco paralisou seus sentidos. Amortecida, deu um passo atrás e ergueu o braço para se defender. Ao abrir os olhos, a médica de 29 anos viu que a paciente continuava na sua frente, gritando. O constrangimento se tornou maior do que o medo de apanhar. Pela primeira vez na carreira de três anos ela sentiu-se humilhada.
A agressão vivida pela jovem há dois meses, num posto de saúde de Florianópolis, foi a última, depois de uma longa lista de ameaças. A transferência foi a solução.
A cena retrata uma relação doente entre profissionais da saúde e pacientes na Capital. Assim como muitas pessoas sofrem nas filas, profissionais pagam, dentro dos consultórios, pelo que consideram falta de estrutura na rede municipal. O diretor do Departamento de Saúde do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasen), Cláudio de Oliveira, informou que, dos 1,2 mil servidores da saúde da Capital, cerca de 80% já sofreram ameaças ou agressões físicas ou verbais. O número chega através de denúncias por telefone e pedidos de transferência.
– Cerca de 50% das equipes de Saúde da Família atendem mais de 3 mil pessoas. Na Vila Aparecida, Mont Serrat, Chico Mendes, por exemplo, existe apenas uma equipe, que atende 6 mil pacientes. No local, deveriam existir quatro equipes para um bom atendimento – explica.
A sobrecarga de pacientes resulta na revolta dos moradores pela espera nas consultas. Oliveira afirma que, na maioria dos postos em áreas de risco, as consultas chegam a demorar dois meses para serem marcadas.
– Cada equipe deveria realizar 400 consultas por mês. O número, às vezes, passa de mil – revela.
Muitas das agressões verbais ou até as físicas não são registradas pelos profissionais da saúde por medo ou descrença de mudança. De acordo com o Sintrasen, por dia, pelo menos dois profissionais sofrem algum tipo de agressão.
Prefeitura contesta os números do sindicato
Os casos de agressões não são tão frequentes, de acordo com o diretor de Atenção Primária da Secretaria de Saúde de Florianópolis, Daniel Moutinho. Ele contesta a informação do sindicato e garante que os casos são isolados. Quando ocorrem, o profissional registra um boletim de ocorrência e comunica à secretaria, que oferece assessoria jurídica. A assessoria da secretaria explicou que, nas unidades de pronto atendimento (UPA), apenas duas agressões físicas foram registradas em dois anos. Nos postos, o número é menor, mas não há levantamento.
Para garantir a segurança dos profissionais das UPAs, que funcionam 24 horas, a secretaria encaminhou ao Ministério Público pedido de policiamento. Sobre a falta de funcionários, Daniel garante:
– Em quatro anos, o número de equipes nos postos passou de 47 para 100. Não existe falta de médico. Eles atendem até 400 pacientes por mês. Uma equipe pode atender até 3 mil pessoas.
De acordo com o promotor Alexandre Herculano Abreu, que responde pela área de saúde, a prefeitura encaminhou uma denúncia de furtos e agressões contra os servidores dos postos e das UPAs. O inquérito civil será enviado à PM para fazer o policiamento dentro de um mês em cada unidade. Sobre a falta de médicos, a promotoria deve fiscalizar a situação e, caso houver necessidade de novas vagas, vai intervir.
alessandra.toniazzo@horasc.com.br
ALESSANDRA TONIAZZO
MÉDICO X PACIENTE
Pânico e proteçãoO jaleco ainda novo não é mais vestido com tanto prazer. A jovem médica agredida por uma paciente revela, nas pausas entre as palavras e no tremor das mãos, uma lembrança de pânico:
– A mulher não quis ser atendida no horário disponível e me deu um soco. É humilhante saber que, no meu local de trabalho, fico à margem da violência – diz a profissional, que até comprou um aparelho de choque para se proteger.
– Quando eu não dou atestado, me ameaçam com uma surra na rua. Ou eu abandono a medicina ou peço demissão. Não vou ficar refém do pânico – desabafa.
MÉDICO X PACIENTE
De perder o sono
No meio do corredor lotado, em um posto no Norte da Ilha, a chegada de um médico ao bebedouro movimenta a fila de espera. Pacientes o cercam pedindo consultas e explicações. Uma voz mais alta desperta a atenção:
– Garanto que estava tomando cafezinho enquanto espero por uma consulta.
Uma mulher irritada espera há três horas por atendimento e aponta para o médico. Acuado, ele fecha a porta do consultório. Era o terceiro dia de agosto e já não havia mais horário livre para consultas no resto do mês. O médico desabafa:
– As ameaças dão dor no peito e insônia.
MÉDICO X PACIENTE
Ameaça de morte
Há dois meses, uma enfermeira do mesmo posto foi ameaçada de morte por um paciente. Em uma dia comum, foi surpreendida com palavras duras. Um homem, aos berros, implorava por um remédio controlado. Na tentativa de acalmá-lo, ela se aproximou:
– Ele disse que se eu não arrumasse a receita, iria voltar com uma arma e me dar um tiro no rosto. Me deu medo, pavor, faltou ar. Fui direto para a delegacia. Agora, rezo para não morrer.
Ela tenta não se apavorar. Mas, se o paciente voltar à unidade, a enfermeira diz que o plano de fuga já está planejado.
MÉDICO X PACIENTE
A fragilidade do sistema
De acordo a psicanalista e professora da Unisul Maria do Rosário, qualquer tipo de ameaça implícita ou explícita dentro do ambiente de trabalho é um atentado contra a autoestima e integridade do trabalhador. Quando isso acontece dentro da unidade de saúde, por exemplo, onde, supostamente, os servidores deveriam estar seguros pela instituição, retrata a fragilidade do sistema.
– Isso pode acarretar em ansiedade seguida de uma depressão. Temos que tomar cuidado quanto a essa sobrecarga, que pode levar à falência psicológica – explica Maria
AR SECO
A saúde precisa de mais atenção
Baixa umidade provoca problemas no organismo e chances de queimadasOntem, a massa de ar seco que atua sobre Santa Catarina deixou a umidade do ar baixa em várias cidades. As regiões que mais sentiram o fenômeno foram a Serra, Meio-Oeste e Oeste.
Em Joaçaba, o índice chegou a 22%, valor que caracteriza estado de atenção caso permaneça por dias consecutivos, segundo a Central de Meteorologia da RBS. Em São Miguel do Oeste, a umidade também ficou baixa, com 22% perto do meio-dia. Em Xanxerê, a percentagem foi de 27%. Na Capital, mesmo com o calor e a sequência de dias secos, ela está em 80%.
A baixa umidade do ar pode causar problemas de saúde, como complicações respiratórias por causa do ressecamento de mucosas, sangramentos no nariz, ressecamento da pele e irritação nos olhos. Especialistas orientam que quando a umidade do ar está entre 20% e 30%, o que caracteriza estado de atenção, devem ser tomados cuidados como evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11h e 15h e umidificar o ambiente com vaporizadores, toalhas molhadas ou recipientes com água.
No estado de alerta, quando a umidade está entre 12% e 20%, a orientação é não praticar exercício ao ar livre entre 10h e 16h, evitar ir a lugares fechados e usar soro fisiológico nos olhos e nariz. Abaixo de 12%, o estado é de emergência e todas as orientações acima são recomendadas.
Em regiões mais ao centro do país, a situação é mais grave. Brasília, cidade conhecida pelo tempo seco, apresentou índice de umidade do ar de 13% nesta segunda-feira.
GREVE
Residentes se reúnem com governo federal
Após uma semana em greve, médicos residentes em Santa Catarina partem para mais uma rodada de negociação com os ministérios da Educação e da Saúde, em Brasília.
Amanhã, a categoria de todo o país deve se reunir com o governo federal para discutir uma nova proposta de reajuste. Os manifestantes reivindicam o aumento de 38,7% na bolsa, em vez dos 20% oferecidos pelo governo. Eles também não aceitam a retirada do auxílio-moradia e alimentação. Hoje, os residentes realizam passeata em Florianópolis.
GREVE EM JOINVILLE
População sente efeitos
A população acabou penalizada com a greve dos funcionários públicos em Joinville, que começou ontem e segue por tempo indeterminado. A paralisação causou transtornos na saúde pública.
Ontem, quem procurou atendimento em postos de saúde, no Hospital São José e no Laboratório Municipal, enfrentou dificuldades. Situação que deve se repetir hoje.
No Hospital São José, onde a paralisação de 92 dos 1.139 funcionários se soma aos efeitos da greve dos médicos residentes, que teve início há uma semana, a situação era mais crítica. Por volta das 8h, cerca de 50 pacientes com consultas agendadas no Ambulatório de Especialidades aguardavam na “fila da remarcação”.
Conforme informações do hospital, cirurgias eletivas também foram canceladas e podem vir a ser suspensas. Apenas o atendimento a casos de urgência e emergência funcionava normalmente.
Médicos residentes de Blumenau aderem à paralisação nacional
BLUMENAU - Os médicos residentes aderiram ontem à paralisação nacional da categoria. Blumenau tem 24 profissionais da área 21 deles trabalham no Hospital Santa Isabel e três no Hospital Santo Antônio. Com a adesão, apenas 30% dos médicos residentes atuam em sistema de plantão. Hoje, representantes da cidade irão a Florianópolis para participar de uma passeata. Amanhã, eles farão uma ação social em Blumenau. O local ainda não está definido. O diretor administrativo do Hospital Santa Isabel, Vilson Santin, comenta que a adesão à paralisação não irá prejudicar o atendimento:
– Eles fazem um trabalho importante, mas não teremos prejuízos com isso. O atendimento continuará normalmente no hospital
Em Itajaí, outros 28 médicos residentes que trabalham no Hospital Marieta Konder Bornhausen também aderiram ao movimento. Em Rio do Sul, apenas três profissionais atuam no Hospital Regional Alto Vale e decidiram manter as atividades. Conforme a presidente da Associação Catarinense de Médicos Residentes, Graziela Dal Molin, a paralisação é por tempo indeterminado. A mobilização, que ocorre em todo o país, reivindica aumento de 38,7% na bolsa paga pelo governo, cumprimento da carga horária, garantia de pagamento do auxílio-moradia e auxílio-alimentação e melhores condições de trabalho.
– Trabalhamos até 100 horas por semana, bem mais do que os outros médicos, mas ganhamos muito menos – reclama Graziela.
Ela enfatiza que, diferente do que é difundido entre a população, os médicos residentes são profissionais formados. A residência médica é uma especialização que o profissional busca em uma determinada área da Medicina.
Saúde forma Agentes Comunitários em Florianópolis e Criciúma
Secretaria de Estado da Saúde
A Secretaria de Estado da Saúde, através da Escola de Formação em Saúde (EFOS), realiza, nesta terça-feira (24), a formatura de 658 Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na Capital e na região Sul catarinense. As solenidades ocorrerão no mesmo horário, às 14h30. Em Florianópolis, no Teatro Pedro Ivo, serão formados 480 agentes, e em Criciúma, na Unesc, 178 profissionais.
Os ACS percorrem as residências de inúmeras localidades para fornecer orientações de prevenção a doenças e, quando necessário, encaminhar as pessoas que apresentam algum problema de saúde para o atendimento médico.Através dessas visitas, os ACS também podem avaliar as condições de higiene das casas, detectar problemas relacionados à violência doméstica, entre outros. Eles trabalham em conjunto com outros profissionais da estratégia Saúde da Família (ESF).
Organizada pela EFOS, em parceria com as gerências de saúde das SDRs, apoio dos municípios e financiamento do Ministério da Saúde, o curso de formação de ACS teve uma carga horária de 400 horas/aula, sendo 120 de concentração (teórica) e 280 de dispersão (ensino em serviço), onde a orientação é feita por profissionais da saúde e educação.
"Isso é educação permanente, pois parte do pressuposto da aprendizagem significativa. Além de promover e produzir sentido, sugere a transformação das práticas profissionais baseada na reflexão crítica sobre as práticas reais, em ação na rede de serviços", observa Leni Coelho Granzotto, gerente da EFOS.
A formação dos Agentes Comunitários de Saúde repercute diretamente na
qualidade do atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde, pois quanto melhores os profissionais, mais qualificado e eficaz o trabalho prestado nas comunidades. Numa avaliação feita após a conclusão do curso, os ACS relataram que estão mais motivados por terem compreendido melhor quais são suas atribuições e como são importantes para a construção do Sistema Único de Saúde (SUS).