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MODERADORES DE APETITE

 A bela buscou mais beleza. Achou a dependência

 Miss Brasil de 1980 hoje tenta, em Joinville, livrar-se das consequências de 30 anos de uso abusivo de moderadores de apetite e retomar a vidaHá 30 anos, o País se rendia à beleza de uma loira de olhos escuros e corpo perfeito: 1,8 metro de altura, 64 quilos, manequim 42. A vitória no concurso de Miss Brasil 1980 tornou a linda carioca Eveline Schroeter, então com 18 anos, famosa nacionalmente. Vieram as capas de revistas, os programas de TV e o concurso Miss Universo. Foram três semanas na Coreia do Sul em busca do sonho de ser eleita a mulher mais bela do planeta. “Era uma rotina intensa. Tínhamos ensaios durante o dia e à noite precisávamos cumprir os compromissos com os patrocinadores. Sem falar da disputa entre as candidatas. Todas queriam ganhar.”

 Apesar do esforço, Eveline não ficou sequer entre as finalistas. Pouco tempo depois, o que era apenas uma ajuda na briga constante contra a balança tornou-se um vício com consequências que nem ela poderia imaginar. A miss ficou dependente de moderadores de apetite. “Comecei a tomar aconselhada por uma instrutora da academia, logo depois do Miss Brasil. Três anos depois, estava completamente dependente.”

 De apenas um comprido por dia, Eveline foi aumentando gradativamente as doses. No auge da dependência, tomava sete comprimidos diários. “Ela desmaiava, sentia-se deprimida. Quando estava sob o efeito da abstinência dos remédios, parecia outra pessoa”, lembra a mãe de Eveline, Maria Helena Maciel. Filha de músicos e considerada uma das misses mais bonitas já eleitas no Brasil, Eveline acabou percorrendo o caminho de volta ao anonimato.

 Hoje, ela se recupera em Joinville – frequenta um Centro de Apoio Psicossocial (Caps), no bairro América, onde participa de atividades com outros pacientes. A ex-miss também enfrenta transtornos alimentares e psicológicos, trazidos pelo uso exagerado de remédios. Eveline chegou a passar três semanas internada em um hospital. A suspeita dos médicos é de que o excesso de moderadores de apetite desencadeou os transtornos, com a abertura de uma pré-disposição genética.

 O tratamento avançou, mas as crises ainda a acompanham. “Sempre que o organismo se acostuma a um medicamento, ela volta a ter crises. O remédio passa a não fazer mais efeito. A diferença é que agora aprendemos a controlar”, conta a mãe de Eveline. As crises que parecem não ter fim são a conse-quência mais clara das décadas de consumo de remédios para emagrecer, mas Eveline guardou as lições mais importantes.  Para as mulheres que estão tomando os remédios para emagrecer, ou pensam em tomar, ela diria não valer a pena. “No meu caso, o preço foi muito alto".

 

MODERADORES DE APETITE


Anfetamina por conta para manter o pesoA jovem tem 25 anos, mede 1,65 e pesa 57 quilos. Segundo o cálculo do índice de massa corpórea, ela tem o peso ideal, mas desde o início da adolescência a jovem não sente-se bem com o próprio corpo. Há cinco anos, começou a tomar inibidores de apetite para controlar a fome e manter o peso. Começou com acompanhamento com o endocrinologista, mas com o tempo sentiu-se capaz de escolher a medicação por conta própria. “Eu tinha amigas que tomavam e trocavam informações. Quando uma conseguia o remédio, avisava as outras”, conta.

A jovem sabe quanto tempo cada remédio leva para agir e que nenhum deles traz resultados rápidos. “Você não pode acreditar que vai tomar o inibidor e estar magra no final de semana. Mas ele te deixa sem fome nenhuma, que é o efeito esperado”, relata ela, que depois de parar o tratamento médico usou femproporex, um inibidor de apetite derivado da anfetamina.

Sentia náuseas, dor de cabeça e não conseguia dormir. Tudo a irritava e não conseguia se concentrar. Mas não foram os efeitos colaterais que a fizeram parar de usar o femproporex. “Parei porque ficou muito difícil comprar”.

 

 CLÁUDIA MORRIESEN

 

MODERADORES DE APETITE


Indicados apenas em casos específicos de obesidadePara conseguir a receita de comprimidos que tiram o apetite, o correto é o paciente passar por uma triagem. O médico faz uma avaliação física e psicológica para garantir que os remédios não afetarão a saúde física e mental. E, principalmente, para constatar predisposição para efeitos negativos. “Na avaliação, o médico percebe se a pessoa pode desenvolver dependência ou intolerância ao remédio. É importante consultar um especialista. Evitamos indicar esses remédios porque pode acontecer de a avaliação não captar pré-disposição a riscos”, avisa a endocrinologista e metabolista Goretti Silveira Rodrigues, do Instituto de Endocrinologia de Joinville.

Seria o correto. Mas, na prática, os inibidores de apetite são prescritos por médicos que nem sempre estão aptos para receitá-los. Segundo o Conselho Regional de Medicina, qualquer médico com registro pode indicá-los, o que facilita o uso e a distribuição sem receita. Em abril, um levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apontou que Santa Catarina é o maior consumidor nacional de sibutramina. E está entre os que mais consomem femproporex, anfepramona e mazindol.

Os redutores de apetite são essencialmente indicados para pessoas obesas – com índice de massa corpórea igual ou superior a 30 quilos por m² – ou com sobrepeso com comorbidades (doenças causadas pela obesidade). Se a avaliação do especialista identificar ansiedade ou depressão no paciente, ele não deve arriscar-se a tomar os remédios. Ou ao menos, aliar o uso a tratamento psicológico. “Todo medicamento tem uma dose adequada. Além de não produzir os efeitos esperados, ao ultrapassar o limite a pessoa pode chegar ao quadro de depressão e psicose”, relata Goretti.

Ela ensina que, geralmente, os pacientes dão o saldo para as altas doses porque os inibidores têm substâncias que dão sensação de euforia e bem-estar. “Dá vontade de usar mais para ter essas sensações o tempo todo. Isso inicia uma tolerância ao medicamento. Depois, vem a dependência, que pode trazer doenças psiquiátricas”, avisa.

claudia.morriesen@an.com.b

 

 

 


ARTIGOS


Doenças respiratórias, por Jaquelina Sonoe Ota*Em todo o mundo, centenas de milhões de pessoas sofrem de doenças respiratórias, sendo elas importante causa de mortalidade e diminuição da qualidade de vida. Uma criança com menos de cinco anos morre, no mundo, a cada 15 segundos por pneumonia. Mais de 250 mil mortes por ano, entre pacientes com asma, são atribuídas ao seu tratamento inadequado. Esses números são mais alarmantes nos países subdesenvolvidos.

O Brasil ainda tem índices muito aquém dos ideais. É por isso que a Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia tem realizado uma série de ações para esclarecer e conscientizar os cidadãos, além de alertar as autoridades para a importância da formulação de políticas públicas consistentes, eficientes e eficazes para prevenir e combater os males respiratórios.

Se o médico faz bem a sua parte, de outro lado, lamentavelmente, ainda nos falta uma gestão de saúde que, entre outras responsabilidades, seja capaz de levar um sistema adequado a localidades distantes e carentes. Cabe ao governo possibilitar, com brevidade, que o médico exerça a sua profissão com segurança e qualidade, oferecendo-lhe condições adequadas às práticas diárias, oportunidade de reciclagem científica, além de salário digno e, sobretudo, respeito.

A pneumologia, entre outras diversas especialidades, passa por um momento crítico, em que temos poucos profissionais procurando pela especialidade, principalmente em razão da baixa expectativa de exercê-la de modo digno. Vemos, hoje, profissionais brilhantes a desistir de manter a atividade clínica e assistir ao paciente.

O quadro é alarmante e precisa mudar imediatamente.

 

* Presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia