A Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (DIVE/SC) divulga o boletim n° 05/2021 sobre a situação epidemiológica da Febre Amarela (FA), vigilância de epizootias em Primatas Não Humanos – PNH (macacos) da Semana Epidemiológica (SE) 01/2021 a 17/2021 (03/01/2021 a 01/05/2021).
SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA
>>> Vigilância de casos humanos
A vigilância de casos humanos é feita por meio da notificação de casos com sintomatologia compatível com FA. Todo caso suspeito deve ser imediatamente comunicado por telefone ou e-mail às autoridades de saúde (em até 24 horas), por se tratar de doença grave com risco de dispersão para outras áreas do território nacional e internacional
Em 2021, entre a SE 01 a 17 (03/01/2021 a 01/05/2021), foram notificados 38 casos humanos suspeitos de FA, sendo que 31 já foram descartados, sete (07) foram confirmados com a doença, sendo que dois (02) evoluíram para o óbito (Tabela 1 e 2).
Os casos confirmados foram de moradores dos municípios de Águas Mornas, Anitápolis, Blumenau, Imbituba, São Bonifácio e Taió, todos sem registro de vacina contra a febre amarela. No ano de 2020, tivemos 17 casos confirmados com a doença.
Quando se analisa o período de monitoramento (julho/2020 a junho/2021), foram notificados 72 casos suspeitos, sendo que 65 foram descartados (56 pelo critério laboratorial e nove (09) pelo critério clínico-epidemiológico), e sete (07) foram confirmados com o vírus (Figura 1).
>> Vigilância de Epizootias em Primatas Não Humanos – PNH (macacos)
A vigilância de epizootias em PNH consiste em captar informações sobre o adoecimento ou morte desses animais e investigar oportunamente, a fim de detectar precocemente a circulação do vírus amarílico e subsidiar a tomada de decisão para a adoção das medidas de prevenção e controle.
No ano de 2021, entre a SE 01 a 17 (03/01/2021 a 3/05/2021), foram notificadas 473 epizootias de PNH em 56 municípios de Santa Catarina. Neste período, do total de PNH acometidos, 298 (63%) tiveram a causa do óbito indeterminada (sem possibilidade de diagnóstico devido à ausência de coleta de amostras para análise), 33 (7%) permanecem em investigação, 21 (4%) foram descartados, e 121 (26%) foram confirmados com FA (Tabela 3 e Figura 2).
O grande aumento no número das notificações nos últimos anos, bem como a confirmação da doença em alguns PNH, indica a circulação do vírus da febre amarela e serve como alerta para a adoção imediata de medidas de prevenção, especialmente a vacinação das pessoas a partir dos 09 meses de idade, uma vez que a doença nos PNH precede os casos humanos.
A sensibilidade dos municípios em notificar epizootias em PNH e coletar amostras oportunamente é o fator determinante para a redução do risco de exposição das pessoas suscetíveis.
Os 56 municípios que notificaram epizootias no ano de 2021 podem ser visualizados no mapa abaixo (Figura 3).
Considerando o período de monitoramento de julho/2020 a junho/2021 foram notificadas 629 epizootias em PNH, em 83 municípios de Santa Catarina. Do total de PNH notificados, 36 (6%) tiveram resultado negativo, 379 (60%) tiveram a causa do óbito indeterminado, 72 (11%) estão em investigação e 142 (23%) foram positivas para Febre Amarela (Figura 4).
>> Imunização
A vacina contra a febre amarela é o único meio de prevenção contra a doença. É altamente imunogênica, segura e confere proteção a 95% a 99% dos vacinados. Desde julho de 2018, todo o estado de Santa Catarina é Área com Recomendação de Vacina (ACRV). A vacina contra Febre Amarela é elaborada a partir de vírus vivo atenuado, que estimula a produção de anticorpos contra a doença. Está indicado no calendário vacinal a partir dos 09 meses de idade, exceto para aquelas em situação com condições de imunização especial. Até o mês de dezembro de 2020, a cobertura vacinal em Santa Catarina é de 76,74%.
Na Figura 5, é possível visualizar a situação de cada município. É importante destacar que a cobertura vacinal em Santa Catarina não é homogênea, sendo fundamental o reforço nas áreas com percentual de vacinados abaixo de 95%. Essa análise é especialmente importante nos locais em que há evidência da circulação do vírus da FA, bem como naqueles em que a análise de risco aponta a possibilidade de disseminação da doença (Figura 5).
>> Eventos Adversos Pós Vacinação
Evento adverso pós-vacinação (EAPV) é qualquer ocorrência médica indesejada após a vacinação e que, não necessariamente, possui uma relação causal com o uso de uma vacina ou outro imunobiológico (imunoglobulinas e soros heterólogos). Um EAPV pode ser qualquer evento indesejável ou não intencional, isto é, sintoma, doença ou um achado laboratorial anormal (CIOMS; WHO, 2012).
No período de 01 de janeiro a 01 de fevereiro de 2021 foram aplicadas 212doses da vacina contra a febre amarela no estado de Santa Catarina.
No período de 01 de janeiro a 03 de maio, foi notificado apenas um (01) caso suspeito de evento adverso grave pós-vacinação pela vacina de Febre Amarela, o qual ainda se encontra em investigação.
É importante destacar que a ocorrência de eventos adversos, em especial os casos considerados graves são raros, mas necessitam de atendimento médico imediato para avaliação e conduta bem como a investigação pela Vigilância Epidemiológica.
>> Avaliação de risco para circulação do vírus da FA em SC
As características ambientais do deslocamento da doença são conhecidas a partir da notificação do adoecimento e morte dos Primatas Não Humanos (PNH – macacos), para que assim seja possível realizar a coleta das vísceras e identificar a circulação viral, bem como com os casos humanos confirmados. Com as informações atualmente disponíveis, estudos de avaliação de risco que vem sendo realizados pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina em parceria com os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, Ministério da Saúde e Fiocruz, sendo possível estimar a velocidade de deslocamento do vírus pelos corredores ecológicos em 3 Km/dia.
O vírus está percorrendo as regiões de saúde do Nordeste, Planalto Norte, Médio Vale do Itajaí e Alto Vale do Rio do Peixe se expandindo para a região da Serra Catarinense, Alto Vale do Itajaí e Xanxerê com fragmentos de Mata Atlântica. Na Figura 6, é possível visualizar, com base nos estudos de avaliação de risco, a situação do Estado frente à circulação do vírus da FA. Quanto ao potencial impacto à população do Estado, destaca-se elevada vulnerabilidade regional, especialmente nas áreas localizadas no polígono da cor vermelha, uma vez que os indicadores de cobertura vacinal estão abaixo do recomendado em muitos desses municípios.
É fundamental a vacinação de todas as pessoas não vacinadas, especialmente aquelas que residem ou trabalham em áreas silvestres ou próximas as matas. Ressalta-se que toda a expansão da circulação do vírus está associada à ocorrência do ciclo silvestre da doença, não havendo até o momento nenhum indício da sua urbanização.