Durante todo o sábado, os médicos e enfermeiros do Curso de Resgate de Transporte Aeromédico (CRETA) passaram por mais de 12 horas de oficinas de qualificação para testarem seus conhecimentos técnicos/práticos e seus limites físicos e psicológico. O treinamento encerrou as atividades do curso para 18 profissionais que procuram atuar nas aeronaves Arcanjos, de asa fixa e de asa rotativa (avião e helicóptero) do atendimento pré-hospitalar catarinense.
As preparações envolveram mais de dez situações que eles podem enfrentar no dia a dia trabalhando nas aeronaves. A manhã foi tomada por treinos na água, rapel e embarque/desembarque, enquanto durante a tarde as oficinas trabalharam força, equilíbrio e conhecimento – com ocorrências que iam desde o tratamento de um recém-nascido, passando por obstáculos para transporte de paciente (matagais, alturas, mares) até carregar bonecos com mais de 100 kg.
Uma das profissionais, a médica Juliana Costa, viajou mais de 200 km para participar do CRETA. Ela atua na Unidade de Suporte Avançado (USA) de Rio do Sul. "Cheguei logo cedo na segunda, pois estava de plantão no domingo à noite. Passamos das 60 horas já. Sempre gostei do pré-hospitalar. Fiz pós em UTI e estou terminando outra em aeromedico, até por isso a ideia de trabalhar com isso, e o curso superou minhas expectativas, principalmente por nos fazer ir além dos nossos limites. Não sou alguém acostumada com atividades radicais, e aqui saímos da nossa zona de conforto", analisa. Uma opinião que é compartilhada pelo companheiro de treino, o médico Vinícius Stringari: "Eu já faço parte da equipe do asa fixa, mas ainda não podia atuar no asa rotativa, por suas diferenças. O curso nos aperfeiçoa e nos testa bastante. É um curso completo. Você observa hora a hora sua evolução. É um curso difícil, pesado, de atividades que requerem muito da nossa entrega. Saltamos de trampolim, ficamos uma manhã toda numa piscina de macacão, andamos por horas, fiz meu primeiro rapel. Cada momento está sendo um desafio", descreve.
"Sentimos que os alunos recebem muitas informações novas, pois os serviços nas aeronaves têm suas peculiaridades. Então, mesmo sendo médicos e enfermeiros experientes do pré-hospitalar, eles se deparam com muitas situações que normalmente não teriam nas ambulâncias. A aula, ela tem um conteúdo teórico e um conteúdo prático, onde passamos noções de fisiologia e alteração do organismo humano durante o vôo, além de mostrar como funciona o operacional, os nossos protocolos e a nossa rotina. A maior parte do curso, no entanto, envolvem esses treinamentos práticos. Tentamos simular o máximo da realidade aqui. Neste último dia, nós começamos às 6h e fomos até 20h", destaca o Coordenador Médico Estadual do Grupo de Resposta Aérea de Urgência (GRAU-SAMU), Bruno Quércia.
O Major BM Túlio Tartari Zanin também lembra que os profissionais selecionados para o curso já entra com larga experiência de atendimento avançado, com participação em ambulâncias, nas unidades avançadas. Ao passo que o Coordenador Estadual de Enfermagem do GRAU, André Ricardo Moreira, ainda evidencia a participação dos voluntários que auxiliaram nos treinamentos, com mais de 30 pessoas envolvidas.
Ao todo, além da Secretaria da Saúde, Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, universidades cederam alunos dos cursos de medicina e enfermagem para prestar apoio, o que qualificou ainda mais o dia de desenvolvimento prático. "Muitos acham que nosso serviço é só entrar na aeronave, ir até a ocorrência e atender o paciente. Mas, na maioria das vezes, principalmente no vôo de resgate, você pousa longe do fato. Então, nós passamos obstáculos pra chegar na vítima e isso exige a parte física da equipe e também a mental. Imagine subir uma ribanceira de tantos metros, carregando peso, e, ao final, fazer uma reanimação cardiopulmonar ou passar um tubo de respiração ou pegar uma veia, após esforço corporal. Podemos averiguar no treinamento cada particularidade, com a ajuda de todos", finalizou.
A formatura dos novos profissionais está prevista ainda para esse primeiro semestre de 2019.
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Foto: Andrey Lehnemann