Florianópolis, 11 de novembro de 2016
Nesta quarta e quinta-feira, profissionais de saúde atuantes na Atenção Básica, Sistema Prisional e em hospitais públicos de diversas regiões do Estado participaram da capacitação em manejo clínico da tuberculose promovida, em Balneário Camboriú, pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive) da Secretaria de Estado da Saúde. O público-alvo foram médicos, enfermeiros, farmacêuticos e bioquímicos. A capacitação faz parte das ações de vigilância, prevenção e controle da doença coordenado pelo Setor de Tuberculose da Dive/SC. Capacitação semelhante foi realizada no início de outubro na Grande Florianópolis.
Dentre os assuntos que serão abordados no encontro, está o reforço de que a Atenção Básica deve ser a principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), utilizando-se de tecnologias de saúde capazes de resolver os problemas de maior frequência e relevância em seu território, bem como a busca de sintomáticos respiratórios que deve ser realizada por todos os serviços de saúde para interromper a cadeia de transmissão e que tem sido uma estratégia recomendada internacionalmente. “A pesquisa bacteriológica é método fundamental em adultos, tanto para o diagnóstico como para o controle de tratamento”, enfatiza o enfermeiro Luís Henrique da Cunha, responsável técnico do Setor de Tuberculose da Gerência de Vigilância de Agravos da Dive/SC. Segundo ele, a baciloscopia do escarro, desde que executada corretamente em todas as suas fases, permite detectar de 60% a 80% dos casos de tuberculose pulmonar, o que é importante do ponto de vista epidemiológico já que os casos bacilíferos são os responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão.
No Brasil, são notificados anualmente cerca de 70 mil casos novos de tuberculose e ocorrem 4,6 mil mortes em decorrência da doença. O Brasil ocupa o 18º lugar entre os 22 países com alta carga da doença, responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo, segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS). Em Santa Catarina, em 2014, foram notificados 1.906 novos casos de tuberculose, dos quais 1.500 (78,7%) foram curados - índice abaixo do preconizado pelo Ministério da Saúde, que é curar, no mínimo, 85% de todos os casos novos. “Uma das dificuldades em alcançar essa meta é o elevado índice de abandono de tratamento que ainda persiste no Estado”, argumenta Luís Henrique. Naquele ano, 156 pacientes abandonaram o tratamento, o que representa 8,2% do total de casos novos em 2014, ainda acima do considerado aceitável pelo Ministério da Saúde, que é de até 5% de taxa de abandono. A tuberculose tem cura desde que a pessoa receba e complete o tratamento adequado, inclusive podendo ser utilizado o T.D.O. (Tratamento Diretamente Observado), que consiste na observação diária da tomada dos medicamentos por um profissional da equipe de saúde ou por alguém por ele supervisionado.
O maior desafio no controle da tuberculose está na atenção à saúde das pessoas com maior vulnerabilidade à doença, das quais se destacam as pessoas em situação de rua, as pessoas vivendo com HIV/AIDS, as pessoas privadas de liberdade e a população indígena. “A população de rua, por exemplo, tem 44 vezes mais chance de adoecer de tuberculose do que a população em geral, o que mostra que fatores sociais, como as más condições de vida, moradia precária, desnutrição e dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde, têm uma influência profunda no prognóstico da doença”, complementa Luís Henrique. Outro importante alerta feito pelo médico pneumologista Gilberto Sandin é para a coinfecção TB/HIV/AIDS. Dos 1.906 novos casos de tuberculose registrados em 2014, 1.688 foram testados para HIV. Desses, 359 apresentaram resultado positivo, representando um percentual de coinfecção de 18,8%.
Sobre a tuberculose
A tuberculose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch, que afeta prioritariamente os pulmões, mas pode afetar também outros órgãos, como ossos, rins e meninges. É transmissível pelo ar, por meio da tosse e espirro. A tuberculose não se transmite por objetos compartilhados.
Os principais sintomas são tosse persistente, por mais de três semanas, febre no final da tarde, cansaço fácil, dor no peito, emagrecimento e suores noturnos. Pode existir catarro esverdeado, amarelado ou com sangue. Alguns pacientes não exibem qualquer indício da doença, e outros apresentam sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns anos (ou meses).
Para prevenir a doença, é necessário imunizar as crianças obrigatoriamente no primeiro ano de vida ou, no máximo, até quatro anos, com a vacina BCG. Crianças soropositivas ou recém-nascidas que apresentam sinais ou sintomas de Aids não devem receber a vacina. A prevenção inclui evitar aglomerações, especialmente em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar.
O diagnóstico é feito a partir da análise dos sintomas e da realização de exames clínicos e específicos, como a baciloscopia, a cultura do escarro e raios-X de tórax. A tuberculose é uma doença curável em praticamente 100% das novas ocorrências, desde que a pessoa receba e complete o tratamento adequado, que consiste na observação diária da tomada dos medicamentos por um profissional da equipe de saúde ou por alguém por ele supervisionado. O tratamento da tuberculose dura, no mínimo, seis meses e deve ser completado mesmo que a pessoa apresente melhora dos sintomas. É importante lembrar que tratamento irregular pode complicar a doença e resultar no desenvolvimento de cepas resistentes aos fármacos.